Como Leonard se encaixa no futuro próximo do Spurs

*  Por Bruno Pongas

Há pouco mais de três anos, escrevi um artigo no meu antigo blog dando cinco motivos para depositarmos nossas fichas em Kawhi Leonard como futuro do San Antonio Spurs. À época, o ala havia acabado sua primeira temporada com a camisa do alvinegro e ingressava na equipe texana que disputaria a Summer League de Las Vegas em 2012.

Leonard já é destaque do Spurs (Reprodução/San Antonio Express News)

Naquele momento, os cinco motivos que destaquei foram os seguintes:

  • Perfil: o fato dele ser um jogador reservado, humilde, bem no estilo de Tim Duncan e que Gregg Popovich tanto gosta;
  • Frieza: destaquei a boa série de playoff que ele havia feito na final da Conferência Oeste de 2012, contra o Oklahoma City Thunder, com médias de 8,8 pontos e 7,3 rebotes por noite, além de um aproveitamento de quase 45% nos arremessos de longa distância (desempenho muito melhor do que o de outros jogadores de quem se esperava mais);
  • Defesa: a defesa sempre foi o carro-chefe do camisa #2, e ele mostrou um grande potencial defensivo desde que chegou a San Antonio, limitando significantemente jogadores do nível de Kevin Durant já em sua rookie season;
  • Arremesso: ainda quando jogava pela Universidade de San Diego, Leonard era um bom prospecto, mas entre os seus pontos negativos estava o seu inconstante arremesso. Ao chegar ao Spurs, contudo, o ala demonstrou bom potencial neste quesito, fechando sua temporada de novato com aproveitamento de 49,3% no geral e de 37,6% nas bolas de três;
  • Franchise player: com base nos tópicos acima e no papel designado a ele na Summer League de 2012, quando foi testado liderando o ataque da equipe e arremessando à vontade, concluí que Leonard estava sendo preparado e realmente tinha potencial para tomar as rédeas de San Antonio após as aposentadorias de Tim Duncan e Manu Ginobili.

E onde Kawhi Leonard chegou após esses três anos?

Como disse anteriormente, Leonard sempre foi exímio como defensor e era a peça que faltava para elevar o Spurs a outro patamar. Antes, com George Hill (que também era bom defensor), faltava alguém para marcar pontuadores mais altos, como os casos de Kevin Durant e LeBron James, já que o armador, hoje no Indiana Pacers, era consideravelmente menor. Com a chegada do ala, contudo, os texanos conseguiram sanar essa que era uma de suas maiores deficiências e voltaram a brigar de vez pelo título da liga.

O “efeito Leonard” foi notável logo de cara. Nas três primeiras temporadas, o ala ajudou o Spurs a chegar a duas finais consecutivas, além de uma final de conferência em seu ano de novato. Como quê a mais, aquele cara que chegara para ser “apenas um defensor de primeira classe” evoluiu bastante ofensivamente e se tornou uma referência no ataque.

Nos playoffs de 2014, o camisa #2 registrou expressivas médias de 14,3 pontos (50% FG, 41,9% 3 PT) e 6,7 rebotes por noite, números que subiram na final para 17,8 pontos (61,2% FG, 57,9% 3 PT) e 6,4 rebotes e lhe deram o prêmio de melhor jogador das finais.

O desempenho do ala nos duelos decisivos, especialmente no Jogo 3, quando marcou 29 pontos, renderam, inclusive, algumas estatísticas curiosas (via USA Today):

  • Nunca antes em sua carreira (seja no college ou na NBA) Leonard tinha marcado 29 pontos. Ele alcançou esse recorde pessoal em uma final;
  • Nos últimos 35 anos, só dois jogadores marcaram 29 ou mais pontos em uma final antes dos 23 anos: os ídolos do Los Angeles Lakers Magic Johnson (42 pontos em 1980) e Kobe Bryant (30 pontos em 2001);
  • Leonard se tornou o jogador mais jovem da história (22 anos e 346 dias) a marcar pelo menos 25 pontos com 75% de aproveitamento nos arremessos em um jogo de final. O recorde era de James Worthy (23 anos e 93 dias).

O desenvolvimento ofensivo do camisa #2, como disse, elevou o Spurs a outro patamar e postergou um incômodo processo de rebuild pelo qual a franquia teria que passar após a gloriosa era de Duncan, Parker e Ginobili. Falarei mais sobre isso no próximo tópico; antes, alguns vídeos do ala durante as finais do ano passado:

Melhores momentos das finais de 2014:

Análise tática de como Leonard conseguiu ser eleito o MVP das finais:

Entrevista na TNT após Leonard receber o troféu de MVP das finais:

Onde Kawhi Leonard pode chegar?

Ter uma camisa aposentada? Acho que sim, até porque Leonard acabou de assinar um longo e milionário contrato com o Spurs. O objetivo aqui, no entanto, é falar mais a curto prazo: o que esperar do ala na ofensiva que agora também tem o astro LaMarcus Aldridge?

Eu enxergo dois cenários possíveis e prováveis – e que no final das contas devem se fundir ao longo dos compromissos do alvinegro de San Antonio. No primeiro, Leonard vai continuar ganhando mais espaço no ataque de Gregg Popovich e dividirá as responsabilidades ofensivas com o recém-chegado ala-pivô. No segundo, o ala vai gastar mais energia na sua especialidade (a defesa) e participar com menos intensidade no campo ofensivo.

Na série da última temporada contra o Los Angeles Clippers, por exemplo, Leonard foi a principal peça ofensiva da equipe e pagou um preço por isso, pois claramente teve mais dificuldades para defender do que o costume. Por mais que seja um ser humano com um atleticismo fora da curva, é praticamente impossível no nível da NBA dar 100% nos dois lados da quadra sem pagar o preço amargo que se chama cansaço.

É por isso que acredito que, apesar de ser uma peça indispensável no sistema ofensivo do Spurs, em muitos momentos Leonard voltará a ser aquele garoto que foi recrutado com o objetivo principal de defender, gastando mais energia neste papel. E isso faz todo o sentido, já que o ataque texano é extremamente versátil e pode fluir igualmente bem com o camisa #2 concluindo menos jogadas do que na última temporada.

Independente disso tudo, acredito que Leonard continuará evoluindo, e que esta temporada tem tudo para ser a melhor de sua carreira no Texas. Vale lembrar que no último ano ele se machucou no começo da campanha e perdeu muitos jogos, demorando a pegar no tranco. Quando entrou no ritmo, todavia, protagonizou jogos dominantes como esses:

Contra o Cleveland Cavaliers e LeBron James em 12 de março:

Contra o Golden State Warriors em 5 de abril:

Contra o Oklahoma City Thunder em 7 de abril:

Na defesa nem tem muito o que falar. O camisa #2 vai continuar sendo um tormento para os principais nomes da NBA. LeBron que o diga…

Sobre Bruno Pongas

Acompanha o San Antonio Spurs desde 1998, escreveu para o Spurs Brasil entre 2008 e 2012, criou o Destino Riverwalk e o podcast Cultura Pop, e agora está de volta ao Spurs Brasil para dar seus pitacos sobre o maior do Texas.

Publicado em 27/10/2015, em Artigos. Adicione o link aos favoritos. 4 Comentários.

  1. Realmente sensacional análise, parabéns!
    Tomara mesmo que nessa temporada leonard seja decisivo,,,Go Spurs!!!

  2. Marcos Paiva

    Simplesmente incrível artigo!! Parabéns Bruno Pongas e amigos do SPURS BRASIL por trazer convidados assim para escrever espero q vcs continuem trazendo novos artigos como esse.

  3. Perfeito. E vale lembrar que foi eleito melhor defensor da liga.

  4. Arthur Mednicoff GO SPURS

    Bem foda o artigo aê. Qria ver mais esse tipo de artigo e menos noticias. Aliás notícias é legal tbm mas esse formato de artigo é campeão. Parabéns galera.

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