Arquivo diário: 20/06/2008

Entrevista – Valdir Barbanti – Parte I

Hoje estréia nossa sessão de entrevistas no Spurs Brasil. E nosso primeiro entrevistado foi Valdir José Barbanti, preparador físico da seleção brasileira masculina de basquete durante o final dos anos 80 e parte dos anos 90. Barbanti fazia parte da comissão técnica da histórica seleção do Pan de 87, que conquistou a medalha de ouro com vitória em cima dos americanos, mesmo jogando nos Estados Unidos. Ele também estava nos Jogos Olímpicos de Barcelona quando os brasileiros enfrentaram o Dream Team. Nesta entrevista, ele nos conta um pouco de sua experiência na seleção e sobre o convívio com os jogadores da época. Hoje, Barbanti é professor universitário e ministra aulas na Universidade de São Paulo (USP).

Devido à grande extensão da entrevista, ela será dividida em duas partes, a primeira hoje contando um pouco do Pan de 87 e da convivência com jogadores como Oscar, Marcel e outros. A segunda parte sairá na segunda-feira, com as histórias de Barcelona-92 e falando um pouco da situação atual. Então, não percam!

Confiram a parte II

Spurs Brasil – Durante que período o senhor fez parte da comissão técnica da seleção e como foi trabalhar com a elite do esporte?

Valdir Barbanti – Eu tive uma oportunidade de trabalhar com basquete em um clube e por causa desse trabalho no clube eu acabei convidado pra trabalhar com a seleção. Isso foi em 1987, logo após o Campeonato do Mundo que o Brasil havia ficado em quarto lugar na Espanha, e em 87 eu comecei a trabalhar com a seleção. Foi uma experiência bacana, o Brasil vivia na época uma situação de bons jogadores, alguns até excelentes jogadores, mas um grupo muito legal de ser trabalhado porque era um pessoal primeiro apaixonado pelo basquete, segundo um pessoal que era vencedor, que estava muito afim, então foi muito bom. Logo nesse primeiro ano, em 87, já ganhamos o campeonato Pan-americano, depois em 88, com esse mesmo grupo, ganhamos o pré-olímpico para os Jogos Olímpicos de Seoul. Eu continuei com esse grupo em 89, 90 no Campeonato Mundial, que foi aqui na Argentina. Fomos quinto colocados. Achei uma grande classificação, porque era a época de Estados Unidos, União Soviética, Iugoslávia e o Brasil tinha uma grande seleção também. Em 91 fomos para os jogos Pan-americanos em Cuba e o Brasil foi terceiro, medalha de bronze, com grandes chances de termos ganho de novo, mas não foi o mesmo sucesso de quatro anos antes. Em 92 classificamos de novo no pré-olímpico para os Jogos Olímpicos de Barcelona, e eu fiquei até 93 com a seleção. Então foi uma experiência agradável, essa geração toda foi uma geração vencedora de grandes jogadores, e fui muito bem sucedido, e tive muito boa receptividade dos jogadores com um tipo de trabalho que eles não estavam acostumados a fazer. A preparação física era uma coisa que estava começando no basquete, não era tão importante como é hoje, naquela época estava começando. Mas como nós tivemos bastante sucesso, foi muito fácil pra eles aceitarem essa preparação física, porque estava refletindo na quadra o sucesso, então eu achei que o grupo recebeu muito bem esse tipo de trabalho. Depois eu tive uma parada de vários anos, e em 97 voltei de novo para a seleção, fui chamado de novo para trabalhar e fiquei só mais dois anos, e depois, por motivos de trabalho aqui na USP, não teve mais como continuar. Mas foi uma grande experiência trabalhar com o alto nível, principalmente porque o alto nível hoje é muito exigente e hoje tem uma parte econômica que se sobressai, hoje o pessoal ganha muito dinheiro com isso, e o jogador tem plena consciência disso, e isso é fácil porque o trabalho nosso fica facilitado quando tem essa apelação do alto nível.

SB – A seleção de 87 foi um marco no basquete brasileiro. Como foi pra você fazer parte deste momento histórico?

VB – Olha, não foi um marco só para o basquete brasileiro, foi um marco por exemplo para o basquete americano, porque o próprio Estados Unidos nunca havia perdido um jogo de seleção dentro dos Estados Unidos, ao sofrer aquela derrota para o Brasil mudou o conceito de jogo deles. Por exemplo, eles não tinham bons arremessadores da linha dos 3 pontos. E a partir de então, mudou um pouco o basquete norte-americano, eles viram que eles precisavam de gente também porque nossos jogadores, não só o Oscar que era o maior jogador do time, mas o Marcel, Paulinho Villas Boas, os armadores, todos eram bons arremessadores dos três pontos. Então acabou sendo um marco até para o basquete dos Estados Unidos. Pra mim foi muito bom porque foi um momento de glória do basquete nacional, ganhar do time americano dentro dos Estados Unidos nunca havia acontecido na história do basquetebol. Então foi uma coisa muito grandiosa, eu tenho hoje os recortes de jornais americanos, o “The New York Times”, que é um dos jornais mais conceituados dos Estados Unidos, apareceu a foto da equipe nossa na primeira página, falando do nosso basquete ganhando dos Estados Unidos. Foi uma coisa emocionante e ao mesmo tempo, para nós que somos da profissão e estamos dentro do esporte, uma coisa espetacular, indescritível porque não foi só um marco, mas foi uma coisa determinante mesmo, de chocar o Estados Unidos, de trazer um reflexo muito grande, de mudar a estrutura toda do basquetebol.

SB – Porque que um momento tão propício para o crescimento do basquete não foi aproveitado?

VB – Eu penso que o Brasil ainda é muito amador no tratamento das questões nossas, principalmente no esporte. O Esporte carece de profissionais competentes para dirigir, administrar, pra gerenciar. E isso daí é uma questão que foge, por exemplo, da direção técnica. Foi mal utilizada porque as pessoas não são profissionais, e isso que esta faltando no esporte, o senso de profissionalismo. Durante vários anos, o Brasil teve a hegemonia da América do Sul, eu já joguei mais de 20 vezes contra a Argentina e nunca perdi um jogo, e hoje a Argentina é uma potência mundial no basquete e nós não somos nada, quer dizer, não se aproveitou o grande momento da maneira adequada, e eu acho que isso daí é falta de profissionalismo, ou seja, quem dirige confederação, quem dirige federações, ligas, quem são os dirigentes do esporte não têm a formação adequada para aproveitar esses momentos de fazer um esporte se desenvolver na sociedade, e isso daí é o típico caso que aconteceu. O basquete estava no auge, o basquete se destacava no mundo e não teve um aproveitamento no nosso país por falta de conhecimento, de capacidade e de competência de dirigir.

SB – Como era a convivência dos jogadores na seleção?

VB – Excelente, excelente. A seleção é um grupo de pessoas que são extremamente unidas, pelo menos no meu tempo, no meu grupo as pessoas são extremamente amigas, as pessoas se suportam. O tempo todo que eu estive na seleção eu nunca percebi grupos isolados, alguém que quer ser mais do que outro. Tem as lideranças naturais, mas isso é liderança, não isolamento, não pessoas que são auto-suficientes. Esses grupos que eu tive oportunidade de conviver sempre foram como uma família, nunca foi grupo rachado, nunca foi grupo que tinha as vedetes, nunca foi ninguém querendo ser mais estrela que o outro. Então tinham as lideranças naturais, o Oscar, o Marcel eram líderes naturais da equipe, mas era uma equipe unida, a convivência era fabulosa, sentava na mesa pra jantar junto, almoçar junto, tomar café junto, viajava junto, não tinha nenhuma separação, ninguém era mais vedete do que o outro. Foi um grupo muito legal de trabalhar, pelo menos nesse aspecto eu acho que a equipe da seleção sempre deu exemplo de união, que é o que eu acho que falta muitas vezes em outras ocasiões, mas nesse tempo que eu trabalhei com eles eu nunca percebi nenhum ambiente de discórdia, ou de divisão, ou de racha entre os jogadores.

SB – Há quem diga que o Oscar não foi para a NBA para não desfalcar a seleção, há também quem diga que isso é invenção do “Mão Santa” e que os motivos seriam outros. Você sabe algo a respeito disso?

VB – Olha… Eu nunca perguntei isso pra ele e nunca ouvi da boca dele resposta pra isso daí. Mas eu penso que ele não foi NBA por vários motivos, e não por um só. Primeiro porque onde ele jogava, na Itália, ele jogou muitos anos na Itália, ele era um astro, foi todos os anos cestinha do campeonato italiano, então é um papel relevante que ele tinha no campeonato italiano. Depois, ele parou de jogar na Itália e foi para a Espanha, e virou cestinha do campeonato espanhol durante vários anos. Então, ele sempre foi um jogador de destaque na Europa, e porque que ele iria pra NBA que ele seria só mais um entre tantos destaques que tem? Segundo, você vai falar que na NBA pagasse muito mais do que ele poderia ganhar na Europa, e eu acho verdade, mas eu acho que o Oscar nunca fez questão muito de dinheiro, ele jogava porque ele gostava, e como ele sempre disse, ainda era pago pra fazer aquilo que ele gostava. E outra, ele sempre teve orgulho de defender a seleção, eu acho que também é um dos motivos, agora eu não acredito que tenha sido um motivo só. O fato dele ter sido estrela na Itália, depois na Espanha, o fato dele ganhar muito bem na Europa, o fato dele jogar há bastante tempo nesses países, tudo isso deve ter pesado na balança, e além de tudo, o fato de ele indo pra NBA ele perderia o status pra jogar na nossa seleção naquela época, e ele não queria deixar de jogar na seleção, porque ele sempre gostou de vestir a camisa da seleção. Então, eu não penso que foi uma causa só, foram vários motivos, mas isso é a minha percepção, eu nunca ouvi nada da boca do Oscar sobre isso.

SB – Qual seria o impacto do Oscar caso ele jogasse na NBA? Ele teria basquete para também ser destaque nos Estados Unidos?

VB – Eu não tenho dúvidas. O basquete que o Oscar jogava era pra ser destaque em qualquer campeonato, mesmo na NBA, que tem muito mais vedetes, muito mais craques. Mas o Oscar era um cara inédito, os próprios jogadores da NBA consideravam o Oscar um dos melhores jogadores do mundo, tanto é que em Barcelona, que a nossa seleção jogou contra os Estados Unidos, que era o Dream Team, aquele time fantástico com Magic Johnson, Michael Jordan, aquele pessoal todo fabuloso, o pessoal tinha o maior respeito pelo Oscar. Nós perdemos, claro, os Estados Unidos tinha aquela seleção fantástica, mas o pessoal sabia que se o Oscar ficar livre ele mete bola, porque os caras tinham o maior respeito pelo Oscar. Acabou a partida, todo mundo foi cumprimentar o Oscar, porque ele foi o cestinha do jogo, e você sabe, é difícil marcar o Oscar, ele era um cara fabuloso. O respeito que ele tinha era muito considerado pelos jogadores da NBA. Eu acho que ele seria um craque na NBA também, só que claro, na NBA ele não seria o único craque, teria muitos outros bons jogadores lá. Mas que ele teria destaque, ninguém me tira da cabeça, porque o Oscar foi um dos melhores do mundo na época, sem dúvida.

SB – Naquele Pan-americano de 87 vocês enfrentaram a seleção americana, que não contava com os jogadores da NBA, mas tinha excelentes jogadores, e entre eles, um que foi um dos melhores da NBA, o David Robinson. Vocês já sabiam do potencial daqueles jogadores e como foi enfrentá-los?

VB – Bom… na verdade eles não era caras da NBA, mas eram os melhores que tinha no College, do College que faz o draft pra NBA, então como eles estavam ali, ali tava o que tinha de melhor, e que todos eles iriam pra NBA, então a gente sabia que estava enfrentando os melhores do mundo. Eles achavam, muito mais do que nós, que eles ganhariam fácil, porque eles estavam ali com os melhores jogadores do College, que seriam os próximos que iriam pra NBA, mas nós tínhamos confiança que o nosso time estava bem treinado. Nos jogos que nós fizemos anteriores ao Estados Unidos, todos os jogos nós ganhamos e ganhamos com muita propriedade, de forma que nós achávamos que eles não eram invencíveis. Eles eram uma grande equipe, eles eram muito bons, mas não eram invencíveis, tanto é que provamos que eles não eram mesmo e que nós ganhamos. Mas sabíamos da qualidade desse time, respeitávamos o time e sabíamos que era difícil ganhar deles lá dentro, com aquela torcida toda, mas como eu falei, o pessoal acreditava que se jogasse aquilo que o nosso time jogava e o potencial que nosso time permitia nós poderíamos ganhar o jogo, e foi o que aconteceu. Então, acho que foi uma confiança muito grande de estar bem treinado, e ninguém tremeu porque ia jogar com grandes jogadores que iam estar na NBA. A atitude foi muito positiva por parte do time, então todo mundo coincidentemente jogou bem, e que o jogo se ganha na hora do jogo, e não de nome só.

Confiram a parte II

Ginobili fora das Olímpiadas?

A lesão no tornozelo do argentino Manu Ginobili pode ser um fator decisivo para sua participação nos jogos Olímpicos de Beijing. Em entrevista na última quarta-feira, Manu disse: “O tornozelo está pior do que eu pensava, acredito que isso coloca em risco minha presença nos próximos jogos”. Além da lesão ser aparentemente mais grave do que se imaginava, o técnico Gregg Popovich tem feito um grande lob para que Manu desista da competição.

Já não é de hoje que Pop pressiona seus jogadores para que eles abram mão de suas respectivas seleções nacionais para se dedicarem integralmente ao Spurs. Ele já fez isso com o próprio Manu, no último pré-olímpico de basquete, e também com o francês Tony Parker. “Minha preocupação é que isso (a lesão) vai piorar” afirmou o técnico sobre a possibilidade de Ginobili defender a Argentina, “Ele tem que considerar seriamente sua saúde”, completou o treinador.

Um exame feito logo após a eliminação dos Playoffs detectou que o ligamento do tornozelo esquerdo do argentino estava cerca de quatro ou cinco vezes maior que o tamanho normal, devido ao inchaço provocado pela lesão. Outro exame realizado no último domingo apresentou uma melhora muito pequena. Vale lembrar que já fazem mais de três semanas desde que o Spurs foi eliminado pelos Lakers. Nesse meio tempo, Ginobili esteve longe de esforços com o tornozelo, e mesmo assim a melhora detectada pelo exame foi ínfima.

Popovich deixou bem claro sua posição nesse caso: “Se ele tivesse jogo hoje, não poderia jogar (…) Suas contas são pagas conforme sua performance pelo Spurs”, enfatizou. Em contrapartida, Manu deixou claro seu desejo em integrar o selecionado argentino: “Farei tudo o que for possível, porque eu quero jogar”. Para finalizar a entrevista, o treinador do Spurs disse que Ginobili está entre sua responsabilidade em jogar por San Antonio e seu amor por jogar pelo seu país, “Se ele melhorar em três semanas, tudo bem, se não, ele tem a decisão nas mãos”.

O diário argentino Olé foi mais crítico quanto a posição do Spurs, e disse que a equipe poderia estar fazendo uma suposta chantagem para que Manu não vá às Olimpíadas. O contrato do argentino ainda tem mais dois anos, ou seja, vai até a temporada 2009-2010. Um novo acordo renderia mais dois anos de contrato, “Não há obrigação, mas as duas partes querem um novo acordo e já começaram a conversar”, disse o agente de Manu Ginobili, Carlos Prunes. O diário afirmou que seria um acordo vantajoso para ambos os lados, mas que caso o argentino participasse das Olimpíadas, poderia sofrer represálias.

Outro ponto curioso, é o que chega para a imprensa americana e o que chega para a Argentina. Lá, os argentinos estão otimistas quanto a melhora do tornozelo de Manu e conseqüentemente sua participação nas Olimpíadas: “A lesão não é grave nem de alto risco. Com medicação a zona inflamada irá desinchar e o jogador poderá atuar pela seleção”, afirmou o médico da seleção argentina, Diego Grippo.

Quem será que está certo, afinal?

Ala brasileiro faz testes no Spurs

O ala brasileiro Marquinhos, ex-jogador do New Orleans Hornets, está realizando nessa semana testes de campo com a equipe especializada do San Antonio Spurs. O jogador, draftado em 2006 pelo time de Nova Orleans, teve poucas chances enquanto atuou pela equipe, marcando presença em apenas 13 confrontos. Na metade da temporada que acabou de se encerrar, foi envolvido em troca com o Memphis Grizzlies, e posteriormente dispensado por sua “nova equipe”.

Marquinhos ganhou grande notoriedade no Pré-Olímpico das Américas, disputado em 2007, quando após ser cortado do time devido a uma grave lesão, escancarou a crise que estava instaurada entre o então treinador Lula Ferreira e os demais jogadores do grupo. O ala foi muito criticado, e desde então nunca mais serviu o selecionado brasileiro.

Ao ser questionado em meados de maio se defenderia o Brasil na disputa do Pré-Olímpico Mundial, o jogador foi claro ao dizer que seu principal objetivo era disputar a Liga de Verão Norte-Americana e buscar vaga em algum time da NBA. O jogador seria o segundo brasileiro a atuar pela equipe do Texas, que também já contou com os serviços do ala Alex Garcia, atualmente no basquete israelense. Fora Alex, o Spurs draftou o ala-armador brasileiro Leandro Barbosa, mas trocou os direitos sobre o jogador ainda na noite do recrutamento. Marquinhos seria uma das opções no processo de renovação pelo qual o Spurs parece passar.