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Daqui a pouco teremos que nos acostumar com o San Antonio Spurs longe de casa por muito tempo durante a famosa Rodeo Trip (que neste ano será de 6 a 24 de fevereiro), quando o AT&T Center vira palco de um dos rodeios mais famosos dos EUA e o time viaja pelo país para seguir jogando pela NBA. Em anos anteriores, o período era sempre de compreensão. Torcedores e mídia se uniam em pró de um pensamento quase pessimista que previa “derrotas iminentes e recuperação pós-All Star Game”. Dessa vez, parece que não será assim.

Contra o Lakers o time se comportou extremamente bem e conseguiu ótima vitória fora de casa (AP Photo)

Até agora, foram 12 partidas fora de San Antonio e nada menos do que dez vitórias. É o melhor desempenho de uma equipe longe de seus domínios na atual temporada. Números que poderiam não traduzir muita coisa, mas que acabam sendo significativos na postura de quadra do Spurs. Mais importante do que vencer duelos jogados como visitante é a maneira com a qual a equipe se porta quando está distante de sua torcida. Pode ser algo de temporada regular. Mas de qualquer jeito, interessa definitivamente para os playoffs.

Quando está longe do AT&T Center, o Spurs parece sempre mais aceso. Talvez por não ter o incentivo total da torcida, a equipe se mantém sempre em jogo para não dar margem aos já conhecidos apagões que costumam afligir Gregg Popovich e seu time nos segundos tempos das partidas. Não à toa, nos dez jogos que saiu vitorioso fora de casa, a média de diferença de pontos para o adversário é de nada menos do que 12.1 pontos, estatística alta e logicamente influenciada por vitórias como a de sábado (10), contra o Charlotte Bobcats, quando a vantagem foi de elásticos 32 pontos.

Mesmo se a média de pontos de diferença ganha valiosos aliados com vitórias elásticas, é bom ressaltar que apenas contra o Los Angeles Lakers o Spurs venceu por diferença de apenas dois pontos. No restante dos triunfos, sempre números maiores. Nas duas derrotas, diante de Los Angeles Clippers e Miami Heat, jogos completamente atípicos. O primeiro foi simplesmente a pior partida da equipe na temporada; o segundo foi jogado com o time completamente reserva – e mesmo assim quase foi vencido.

Claro que dentro de casa o Spurs tem vencido jogos por ótima diferença – a fase é boa e colabora muito com isso. Mas de um time que quer ser campeão, o mínimo que se espera é postura avassaladora em seus domínios. O diferencial acaba sendo o que se faz longe de casa. E nisso ninguém tem sido melhor que San Antonio. Os motivos? Além da animação dos jogadores longe da torcida, sem dúvidas o elenco. Principalmente se levarmos em conta que a segunda unidade, que vem sendo liderada por Manu Ginobili e Tiago Splitter, tem contado com atuações muito boas da dupla Patrick Mills e Nando De Colo. Mais ainda, se lembrarmos que Gary Neal está sendo titular de ocasião por conta da lesão de Kawhi Leonard e Stephen Jackson, outro importante reserva, que também está machucado.

Aos céticos que acreditam que isso é apenas temporada regular, é sempre bom lembrar que o melhor time dessa fase termina com mais mandos de quadra na pós-temporada. Pode não ser um fator decisivo no fim das contas, mas é importante. Na NBA um bom time se constrói com uma defesa sólida, quase sempre. E nada melhor do que testá-la onde os adversários são mais agressivos. Quem vai bem fora, vai bem quase sempre.

Salvem a NBA!

Estão destruindo a NBA. Aquele que deveria ser o responsável por zelar pela melhora e pelo crescimento da maior liga de basquete do mundo está acabando com um patrimônio que não é dele. David Stern, o comissário que manda e desmanda na associação, faz de tudo para estragar um campeonato que, ano a ano, perde em carisma e, evidentemente, em apreciação do público. Com regras estranhas e punições nonsense, o mandatário coleciona inimigos e aos poucos vai minando a imagem construída há mais de meio século.

Divulgação

Stern em momento no qual provavelmente pensava em algo para piorar a NBA (Divulgação)

O problema não é a punição imposta ao San Antonio Spurs por atuar com seus reservas diante do atual campeão Miami Heat, em jogo que tinha grande apelo televisivo. Esse ato é apenas a ponta de um iceberg podre que cresce ao mesmo tempo em que diminui o carisma da NBA. Chegamos ao ponto em que um técnico não tem liberdade de armar seu time da maneira que lhe convém. É o patamar no qual a liga julga quem é e quem não é bom o suficiente para estar em quadra em uma noite pela qual a televisão esperou muito.

Não quero dizer que ter James Anderson em quadra é suficiente para atrair o público. Mas não é essa a questão essencial do esporte. Como não é, na essência mais pura de todas, vencer. E muito menos vender. O basquete – e a NBA, por mais acima que esteja das outras ligas, ainda faz parte da modalidade – é mais do que tudo uma competição divertida, atlética. Se é encarada como negócio e se comporta assim, que no mínimo sejam respeitadas as premissas básicas e os jogadores básicos, aqueles que não são estrelas mas que se fazem essenciais na formação de elencos decentes.

O problema, como disse, é que a punição é apenas a ponta. O que dizer da ejeção de Rasheed Wallace, do New York Knicks, por gritar que a bola não mente ao ver o adversário errar um lance livre originário de uma falta supostamente inexistente? Sheed foi desrespeitoso? Sim. Mas para isso serve a falta técnica. Que não serviu para o caso pois teve sua existência banalizada quando passou a ser utilizada para punir jogadores que enterram e ficam pendurados no aro por mais tempo do que julgam necessários os árbitros.

Não temos mais um Michael Jordan. A liga sofre para achar uma figura que o substitua em carisma, já que dentro de quadra a produção de talentos segue em alto nível. Mas qual competição ganhará seu público se a proibição vira uma banalidade que tira completamente a falta do jogo? É uma equação impossível de dar certo. A tentativa do esporte de criar bons moços está atrapalhando o desenvolvimento de bons jogos, de duelos inesquecíveis. Qual duelo da última temporada foi histórico ao ponto de ser lembrando como é, por exemplo, a série final entre o Utah Jazz de Karl Malone e o Chicago Bulls de Jordan?

Se agradecemos por regras atuais serem novas e não terem barrado a existência de personalidades como Dennis Rodman, Karl Malone, Patrick Ewing e o próprio time do Detroit Pistons, que ganhou o apelido de Bad Boys por seu comportamento temperamental como equipe, ao mesmo tempo temos que lamentar. Para o futuro, ficará a imagem de uma NBA que tentou se transformar em formadora de bons moços e esqueceu seu passado.

É isso que queremos?

Eu não.

Fundamental

Quanta diferença faz uma bronca. Gregg Popovich cansou da apatia do armador Tony Parker no começo da temporada e resolveu, de forma tranquila, chamar sua atenção ao longo da última semana. Deu certo. Muito certo, na realidade. O atleta deixou de lado jogos sem muita agressividade e passou a ser a principal válvula ofensiva do San Antonio Spurs na temporada ao lado de Tim Duncan. Com a melhora, o time cresceu e desde então só venceu. Muitos fatores colaboram para o crescimento do francês.

Parker começa a crescer quando o time precisa dele

Em primeiro lugar, a água subiu e chegou ao pescoço dos atletas do Spurs em uma hora em que ninguém esperava. Sabendo das dificuldades do Los Angeles Lakers de se arrumar no começo da temporada, os texanos tinham o dever de vencer bem no início para acumular gordura. O fizeram até com recorde, mas logo de cara perderam duas peças importantíssimas por lesão: os alas Kawhi Leonard e Stephen Jackson. A situação forçou Parker a aparecer mais. Somada à bronca de Popovich, foi crucial.

Na sequência, temos a mudança de posicionamento, se assim podemos dizer, do armador em quadra. Pelo menos sua função mudou bastante em relação aos primeiros jogos. Estamos acostumados a ver um Parker bastante agressivo, que batia para dentro e fazia das infiltrações a sua principal jogada, sempre combinada com uma boa dose de faltas conquistadas. No começo de 2012/2013, porém, o francês tentou ser mais cerebral. Em alguns momentos, confesso, me lembrou Chris Paul, do Los Angeles Clippers, em mentalidade – veja bem, estilo de pensar em quadra, não comparando o talento dos dois.

A bronca de Popovich teve influência direta com a mudança dele dentro de quadra. Parker passou a atacar mais a cesta, ser mais agressivo e se viu livre para somar mais pontos sem ter que dividí-los com Jackson e Leonard. Como todos sabíamos, ele não havia desaprendido a fazer isso. Pelo contrário. Nas vitórias sobre o Indiana Pacers e o Toronto Raptors, por mais que o time tenha feito apresentações bem abaixo do esperado, o francês brilhou e, em ambos os duelos, passou dos 30 pontos. Crucial para as importantes vitórias fora de casa.

Se Tim Duncan foi eleito o jogador da semana na Conferência Oeste e tem sido essencial nesta temporada – por saber se reinventar e não se limitar à idade –, Parker cada vez mais aparece para ser o jogador da franquia, aquele que decide e carrega a bola o jogo todo. Depois de erros bobos e atuações até duvidáveis, o francês voltou a fazer a diferença. Essencial para um time em crescimento franco, que, com a má fase do Lakers, ascende cada vez mais ao campo dos favoritos do ano.

Lições de uma derrota normal

Não acredito que o New York Knicks será um dos finalistas da NBA. Começo dizendo isso e acrescentando que, é claro, posso estar errado. Creio no aumento de rendimento do Miami Heat e do Boston Celtics no Leste, além de confiar que, caso Derrick Rose volte a tempo, o Chicago Bulls também se coloca à frente dos nova-iorquinos como favoritos à conferência. Mas não posso desprezar o começo de temporada perfeito dos comandados de Mike Woodson. E, ainda mais, as lições que a vitória sobre o San Antonio Spurs trazem ao time texano.

Spurs conseguiu conter carmelo, mas mesmo assim perdeu (D. Clarke Evans/NBAE/Getty)

Em primeiro lugar, a derrota – que se não era esperada pode ser, no mínimo, considerada normal – nos ensina que não devemos apontar culpados sempre. Tony Parker pode ter se afobado demais e Manu Ginobili cometeu sim um dos turnovers mais inexplicáveis em sua carreira, mas e daí? A culpa da derrota, muitas vezes, está no mérito do adversário. Com a repercussão da vitória do Knicks, vi que muitas pessoas ignoram isso.

Claro, é normal você achar que seu time perdeu e não o outro que ganhou. Faz parte da paixão envolvida no esporte. Mas o jogo no AT&T Center traz lições interessantes ao Spurs e, principalmente, pontos que deverão ser muito bem analisados ao longo da temporada, antes que os playoffs comecem.

O primeiro ponto é negativo. Diz respeito ao gás do Spurs no final dos jogos. Não é de hoje que a equipe parece se dar cada vez pior quando o adversário aperta o ritmo nos minutos decisivos dos duelos. Contra o Knicks, chegamos a ter uma confortável vantagem de oito pontos quase no final do terceiro quarto, o que exigiria apenas uma boa administração ao longo do último período. E isso aconteceu muito por conta da boa atuação final do pivô brasileiro Tiago Splitter, que anotou todos os seus 13 pontos no último período. Porém os nova-iorquinos, pressionaram e a vaca texana deitou.

É bom lembrar que, para o Spurs chegar à final da NBA, terá que superar, dentro de sua conferência, o jovem e atlético time do Oklahoma City Thunder e o Los Angeles Lakers, que em breve deverá estar no ritmo de correria de Mike D’Antoni. Caso San Antonio chegue a duelar com essas franquias na pós-temporada, o que bem possível, poderá ter sérios problemas caso não esteja preparado para aguentar ritmos frenéticos no final do jogo.

Mas há também o lado positivo, e ele se chama Kawhi Leonard. Como já disse anteriormente, ele é o jogador que mais evolui dentro do elenco texano. Nas partidas contra Lakers e Knicks, marcou com destreza Kobe Bryant e Carmelo Anthony. O jogo contra os nova-iorquinos, inclusive, mostrou que Spurs tem um arsenal defensivo de peso contra atletas com o chute muito apurado, como é o caso de Anthony. Para os playoffs, é interessante que isso aconteça, principalmente contra os já citados Lakers – de Kobe – e Thunder – de Kevin Durant.

Por fim, tenho sentido certa dificuldade do Spurs de surpreender com sua rotação. Com Ginobilli fazendo um início de temporada ruim, o banco depende muito das atuações de Splitter, Gary Neal e Stephen Jackson, todos jogadores muito irregulares em termos ofensivos. Patrick Mills, quando aparece, parece sentir falta de ritmo de jogo, uma vez que raramente é utilizado. Talvez seja hora do australiano e do novato Nando De Colo receberam mais chances. Seria ideal que ambos estivessem adaptados o suficiente para mudarem mais nosso perímetro ao longo das partidas.

O ano em que o Brasil voltou aos Jogos

Amigos leitores do Spurs Brasil,

Se vocês acompanham o blog desde seu início, lá em fevereiro de 2008, devem saber que ele surgiu a partir de uma ideia minha, em uma madrugada, que encontrou força no apoio do Lucas Pastore. Desde então, o espaço só cresceu e melhorou, assim como aconteceu comigo, com ele e com o resto da equipe que foi entrando por aqui ao longo da nossa trajetória.

Mas não estou aqui para falar do blog. Estou aqui para falar de um projeto meu que foi finalizado agora. Trata-se do 2012 – A Volta, documentário que fiz como projeto de conclusão de curso de jornalismo da Cásper Líbero ao lado do Leandro Sarhan (@drosarhan), José Pais (@jose_pais) e Pedro Chavedar (@pedrochavedar). Entrevistamos ícones do basquete brasileiro e explicamos os motivos da ausência do Brasil nos Jogos Olímpicos e o que nos levou a voltar.

Assistam, opinem sobre, debatam divulguem! É mais uma força para o basquete brasileiro continuar crescendo!