Review da temporada 22/23 – Parte 1
* Por Matheus Gonzaga, do Layups and Threes
VISÃO GERAL
A temporada 2022/2023 do San Antonio Spurs foi dura – uma campanha terrível, uma das piores da NBA, e um time que acabou como o pior em várias métricas. A versão original deste texto tratava sobre a troca de Dejounte Murray, como isso se refletiria nos planos da franquia, possíveis formas de encontrar um franchise player… mas no dia 16 de maio os planos mudaram. Victor Wembanyama será jogador do alvinegro texano.

Arte do Cultura Pop sobre foto de Keita Bates-Diop e Gregg Popovich
Perante a gigantesca sorte da franquia texana, muito do que seria analisado da ultima temporada do Spurs perde o sentido – basicamente a equipe não teve pontos fortes e foi fraca em quase todos os quesitos. Entretanto, é válido fazer uma avaliação de estilo de jogo do time, pensar como Wemby poderia se encaixar nele e uma grande mudança tática é necessária.
Inicialmente, o que mais se destaca em termos de esquema ofensivo é a ausência de isolações (muito por falta de talento individual), além do fato de a equipe ter a segunda maior taxa de handoffs da NBA e taxas top 10 em spot ups e cortes para a cesta – apesar de não ser muito boa em nenhum desses tipos de jogadas. O Spurs também é um dos times que mais infiltra na liga, um dos 10 que mais troca passes e um dos cinco que mais dá assistências, além de ser o time cujos jogadores mais se movimentam ofensivamente.
Isso tudo pinta a imagem de um time que gosta de jogar de forma coletiva, movendo a bola por meio de handoffs e passes para jogadores no perímetro, que arremessam ou tentam infiltrar (geralmente sem sucesso, visto o péssimo desempenho ofensivo do time – o terceiro pior de toda a NBA).
Tal estilo de jogo tem alguns aspectos que se encaixam bem com o jogo de Victor, outros nem tanto. Primeiramente, especialmente pelo uso de handoffs, o Spurs também é o segundo time da liga que mais usa o cotovelo do garrafão (o poste alto). É possível desenhar jogadas que, para além dos handoffs, Wembanyama tenha chance de criar para si em tal condição, utilizando de seu jogo polido de costas para a cesta. A movimentação dos demais jogadores pode também gerar cestas fáceis no caso de um desenvolvimento de Wemby enquanto passador. Esse jogo de spot ups, por sua vez, se torna mais versátil na presença do francês, visto que é um pivô capaz de operar também no perímetro, nesse papel.
Porém, a falta de pick and rolls como aspecto predominante do jogo é algo que pode ser alterado – por seu tamanho e capacidade de finalização, a primeira escolha do draft tem tudo para ser um grande roll man desde o começo da carreira. Gerar cestas fáceis para seu principal jogador é sempre algo muito positivo.
Quanto à falta de isolações, isso certamente será mudado – Wembanyama gosta do jogo de mano a mano e o executa com frequência. Não há motivo para pensar que será diferente na NBA.
Já defensivamente, a situação do Spurs conseguiu ser ainda pior que a ofensiva. O time de San Antonio teve a pior eficiência defensiva da história da NBA – muito por ceder um volume gigantesco de arremessos na área restrita para adversários e ainda uma eficiência relativamente alta para os mesmos.
Além disso, o time texano cedeu o 2º melhor aproveitamento do perímetro para adversários. Parte disso é azar – estudos apontam que existe uma grande aleatoriedade no aproveitamento de 3 pontos dos adversários – mas parte pode ser pela péssima qualidade de defesa de perímetro da equipe. O Spurs também teve um dos 10 piores aproveitamentos em pegar rebotes defensivos, uma das 5 menores taxas de tocos e uma das 10 piores de roubos de bola. Não há basicamente nada do que se aproveitar defensivamente.
O lado bom é que Wembanyama é projetado para logo de cara ter um impacto defensivo colossal – os números associados à defesa de garrafão devem subir muito desde o dia 1. Mas existe ainda assim muita coisa para corrigir. Até porque, a partir dessa temporada, a mentalidade da franquia deve mudar.
Na última temporada, o foco foi desenvolver jovens jogadores e tentar garimpar talentos desconhecidos – e foi isso que o Spurs fez. Agora é necessário testar os talentos encontrados, o restante do elenco e descobrir quais desses jogadores serão capazes de ter bons papéis – ou seja quais podem ser parte do próximo “grande time” de SAS, seja como peças importantes, ou como role players.
A partir de agora, não é mais draftar ou assinar com jogadores pensando só em adicionar talento – encaixe em quadra passa a importar, e versatilidade e experiência também passam a ter valor.
Não acredito que seja a hora de movimentos ousados visando competir imediatamente – mas é hora de tentar brigar por um play in ou ao menos tentar jogar o melhor basquete possível – jogadores sem nível para a NBA não devem mais estar na rotação, e nem “lesões” questionáveis devem ser criadas. O objetivo agora é vencer jogos enquanto se desenvolve jogadores para ser pilares da franquia, estilo de jogo e cultura.
Mas quem podem ser esses jogadores? Quantos já estão no elenco? Será que algum desses nomes pode de forma inesperada se transformar em outra estrela? Nesta série, falarei de todos os jogadores com minutagem minimamente significativa e que terminaram o ano em San Antonio. Irei dissecar a temporada dos mesmos em uma série de aspectos, de modo a avaliar o desempenho atual, projetar o futuro dos mesmos na franquia (ou o não futuro) e falar sobre as chances de desenvolvimento dos mesmos em bons coadjuvantes – ou até algo a mais.
OS COADJUVANTES
Devonte’ Graham
Devonte’ Graham é apenas um asterisco na troca de Josh Richardson – a troca não foi feita pensando em adquiri-lo, e trata-se de um contrato negativo. Graham é um armador reserva que é um defensor ruim, um playmaker limitado e é um guard que arremessa cerca de 80% de seus arremessos da linha de 3 pontos, covertendo medianos 36%.
Houveram alguns pontos positivos em sua passagem por San Antonio. Graham esteve no percentil 85% comandando pick and rolls e no 97% de Spot ups. Porém, esteve entre os piores da liga em handoffs e jogadas de isolação.
Graham é totalmente dependente de seu jumpshot – ele mal chega ao aro, e quando chega converte menos de 50% das vezes (tenebroso). Mesmo como chutador ele é muito ruim vindo do drible – acerta menos de 33% de seus pull ups. Resumidamente, Devonte’ é capaz de comandar alguns pick and rolls e no mais é um jogador que só é eficiente em espaçar a quadra e chutar de 3 se livre. Claro, isso por si só possui algum valor, mas existem dois outros problemas.
O primeiro é que não é só isso que ele faz na prática – ele atua como uma espécie de sexto homem, comandando o ataque quando está em quadra. Isso faz com que o desempenho ofensivo do time caia em cerca de 4,5 pontos por 100 posses quando ele está atuando. Porém, se considerarmos apenas os jogos após a trade deadline, os minutos com e sem Graham foram muito similares neste lado da quadra.
E há também a questão defensiva – a defesa do Spurs é 4,5 pontos por 100 posses pior com Graham em quadra. Se considerarmos apenas os jogos após a deadline, o número sobe para 10 pontos por 100 posses pior!!!!! Essa é basicamente a diferença entre uma defesa boa e a pior da liga.
No geral, o Spurs é 9 pontos pior a cada centena de posses com o armador em quadra – uma marca muito alta e que mostra que Devonte’ não possui nível de um jogador de rotação. Ele deve se manter em San Antonio na próxima temporada – possui contrato garantido para a mesma e parcialmente garantido para a seguinte. Mas idealmente ele deve ser um jogador que não faça parte da rotação.
Romeo Langford
Romeo Langford foi um “troco” recebido na troca de Derrick White e atuou 840 minutos na temporada – não fez nada demais, mas também não comprometeu. O jogador melhorou a defesa de San Antonio em 3 pontos por 100 posses quando esteve em quadra, mas reduziu o desempenho ofensivo em cerca de 2 pontos.
Entretanto, métricas avançadas o veem como um leve negativo na defesa – bem perto da neutralidade, ainda sendo passável. Trata-se de um defensor digno de mano a mano (percentil 58%), mas que sofre em marcar handoffs, pick and rolls e spot ups (abaixo do percentil 30% dos 3).
Já ofensivamente, o ala não é capaz de arremessar, algo sério para um jogador de perímetro (chutou apenas 26% de 3 pontos em cerca de uma tentativa por partida) e basicamente não foi eficiente em nenhum dos tipos de jogadas que executou. Seu único ponto positivo ofensivo é uma boa capacidade de finalização no aro (acertando 64,5%).
Romeo ainda tem 23 anos e teve bons momentos defensivos, sendo no geral um jogador ok nesse lado da quadra (ainda que não de fato bom). Porém, é um jogador ofensivo muito ruim, sendo ineficiente em quase tudo que faz. Pessoalmente, sequer estenderia a qualifying offer e não tentaria renovar seu contrato.
Doug McDermott
Doug McDermott tem sido um jogador bastante consistente desde que chegou na NBA – seu jogo é bem reconhecível. Muita movimentação sem a bola, bons cortes para a cesta e um ótimo arremesso de 3 pontos Por outro lado, é um dos piores defensores da NBA. Essa temporada não foi diferente.
Doug foi um dos 10 piores defensores da NBA segundo o D-LARAPM (e a maioria das demais métricas avançadas concordam). Em geral, o Spurs foi levemente pior defensivamente com ele em quadra. McDermott foi um defensor percentil 23% em mano a mano, 25% em spot ups e 3% em handoffs – ele é basicamente ruim em tudo defensivamente. Foi mediano marcando pick and rolls, e isso foi sua melhor métrica defensiva.
Enquanto chutador, seu talento é conhecido. Nessa temporada ,esteve no percentil 96% chutando em spot ups, mas foi abaixo da média em chutes em movimento (handoffs e offscreen), apesar de não ter sido terrível neles. Doug é idealmente mais um espaçador de quadra do que alguém para o qual você desenhe muitas jogadas para chute de três pontos – seu próprio volume de arremessos é bem baixo, só 4,7 por partida. Sua maior virtude como chutador é ser capaz de acertar arremessos mesmo quando levemente contestado (acertou 45% dos chutes com leve contestação em volume relevante), métrica até superior ao seu aproveitamento quando livre (42%). Em situações de alta contestação, acertou apenas 30% – não é ideal para um arremessador especialista, mas também não é o fim do mundo.
McDermott também é um jogador capaz cortando para a cesta (muito por sua grande movimentação em quadra), e um finalizador razoável no aro (61% de conversão) .
Para um contender, Doug não é um jogador de jogar mais de 10 minutos por partida, mas para um time como o Spurs ele possui seu valor. Espaçamento de quadra sempre ajuda e pode facilitar a vida de Wembanyama. Considerando que o arremessador é visto como ótima presença como mentor, faz sentido mantê-lo com minutos para a próxima temporada. McDermott não é um grande jogador, mas é legitimamente pertencente à NBA, e não é como se San Antonio tivesse uma abundância de tais jogadores.
Keita Bates-Diop
Keita Bates-Diop foi a “silver tape” do Spurs na última temporada, sendo inserido na formação no caso da ausência de quase qualquer jogador. KBD aproveitou sua oportunidade (teve a maior minutagem de sua carreira, ao chegar perto dos 1500 minutos) e se mostrou um jogador sólido na liga.
San Antonio jogou melhor nos minutos com Keita em quadra (2,5 pontos por 100 posses superior).Seu impacto não foi gigantesco, mas foi positivo. Diop foi eficiente nos arremessos de quadra (50,8%) e de 3 pontos (39% – mas em volume baixo de 2,1 tentativas por partida). No geral, trata-se de um jogador all-around, que não é excelente em nada, mas não compromete também.
Diop foi sólido defensivamente – ainda que tenha sofrido em marcar isolações (percentil 28%) e pick and roll (37,5%). Ele foi um bom defensor off ball, com percentil 78% de defesa em spot us e 90% em handoffs. Não se trata de um defensor de ponto de ataque, mas é alguém capaz de cumprir um bom papel (ainda que limitado) em um esquema defensivo.
Ofensivamente, trata-se de um jogador mais de spot ups – recebe parado no perímetro e daí escolhe arremessar, passar ou infiltrar. Ele é bom no papel, estando no percentil 77% na jogada. No geral, é um jogador que quase só arremessa quando livre e de catch and shoot, mas é bem eficiente nessas modalidades de arremesso (acertou 40% dos seus catch and shoots e 47,5% dos arremessos sem qualquer contestação). Diop também é um bom finalizador no aro, convertendo 67% de suas finalizações perto da cesta.
No geral, Diop é jogador de papel pequeno, mas bem sólido nele. Trata-se de um 3 and D “low end” – um arremessador razoável que defende decentemente. É uma boa peça para a rotação de um time como o que o Spurs deve ser nas próximas temporadas – uma equipe em reconstrução tentando começar a competir novamente. Eu tentaria reassiná-lo.
Esta série tem três partes. A primeira é a visão geral da temporada 2022/2023 e a análise dos coadjuvantes. A segunda tem a análise dos principais jogadores do elenco, e a terceira tem possíveis alvos para a offseason.
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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmentePublicado em 19/06/2023, em Análises, Artigos. Adicione o link aos favoritos. 2 Comentários.

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