O problema central

No começo de cada temporada, a mesma história. Dan Hughes diz que precisa dar um jeito na posição de pivô dentro do San Antonio Silver Stars. Tem que pontuar, pegar rebote, ser forte no garrafão contra as outras forças da WNBA… Porém, o que ele, o “head coach and general manager” do time, tem feito por isso?
Voltando a 2008, temos o Stars vice campeão da WNBA. Vamos ver quem estava no time? Becky Hammon, Sophia Young, Vickie Johnson, Ann Wauters, Ruth Riley, Erin Buescher, Helen Darling, Edwige Lawson-Wade, Sandora Irvin e Morenike Atunrase. Neste ano, esse esquadrão só parou sua jornada contra o Detroit Shock, na final. A campanha na temporada regular foi 24-10. O segredo foi ter pelo menos uma jogadora de peso em cada posição. Por exemplo, Becky Hammon na armação, Sophia Young como ala e Ann Wauters de pivô. Além delas, Vickie Johnson era crucial no intermédio entre Hammon e a cesta ou a pivô, Rith Riley era uma reserva com capacidade de titular e Sandora Irvin era forte. As outras eram regulares, supriam BEM a equipe (uma pena Edwige Lawson-Wade não ter sido na WNBA o que foi pela França na Olimpíada). Mas, como o foco aqui são as pivôs, guardem esses nomes: Ann Wauters e Ruth Riley.

Ann Wauters na final de 2008, contra o Detroit Shock
Em 2009, a base continuou a mesma, com o acréscimo de Shana Crossley, Mergan Frazee (uma das piores contratações de todos os tempos, pior do que Appel) e Belinda Snell, mas sem Sandora Irvin e Morenike Atunrase. A campanha foi horrível (15-19). Apesar das boas pivôs, o San Antonio caiu logo na primeira fase dos playoffs, para o Phoenix Mercury, que acabou sendo o campeão da temporada. Como se a brusca queda no rendimento não bastasse, no final do ano Ann Wauters anunciou que não se apresentaria para 2010.

Vickie Johnson, Becky Hammon, Ann Wauters e Sophia Young. Tudo para o sucesso, que terminou em fracasso
Foi aí que Jayne Appel chegou ao Stars. A esperança era que a quinta escolha do Draft poderia se desenvolver a ponto de substituir Ann Wauters no futuro, porém isso jamais aconteceu. Ruth Riley continuou no time, que estava completamente novo e apenas Becky Hammon, Sophia Young e Edwige Lawson-Wade se juntavam à pivô como as que ficaram do ano anterior. O processo de adaptação foi bem doloroso e, no fim das contas, a tal adaptação sequer chegou a acontecer. Sandy Brondello foi uma técnica horrível, e a campanha conseguiu ser pior do que em 2009 (14-20). Um dos acréscimos foi Michelle Snow, que se tornou a pivô titular e teve 10,4 pontos por jogo, atrás de Hammon, Young e Chamike Holdsclaw (outra novidade).

Quinta escolha do draft, alta, atlética e com bom background universitário, Jayne Appel ainda não foi a solução para o vácuo na posição de pivô do San Antonio Silver Stars
Quando parecia que não havia mais esperança para o Stars e a equipe estaria fadada ao basquetebol medíocre, 2011 chegou. Por mais que esse não tenha sido o melhor de todos os anos, foi o que abriu as portas para uma nova base. Danielle Adams, Danielle Robinson e Jia Perkins foram bem recepcionadas no Texas (Adams permaneceu nele, já que se formou na Texas A&M) e ajudaram a dar um ritmo diferente de jogo ao time. A campanha até saiu do negativo (18-16). Porém, apenas Ruth Riley estava presente como pivô, e essa marcou apenas 5,6 pontos por jogo. Jayne Appel se machucou. Foi neste ano que Dan Hughes voltou a ser técnico das Stars e Vickie Johnson participou pela primeira vez como assistente técnica. Até a reação dos torcedores americanos foi diferente. Apesar de a missão não ter sido cumprida da melhor maneira, houve “improvement”, como eles diriam.

Subestimada desde quando foi escolhida pelo San Antonio Silver Stars no draft de 2011, Danielle Adams acabou se tornando um dos principais nomes da equipe texana e até mesmo da WNBA
2012 foi quando isso se confirmou. As garotas que eram novatas ficaram um pouco mais maduras, sendo que o destaque vai para Danielle Robinson. Mas ela não é pivô. A tão atacada Jayne Appel – até ela – teve a melhor de suas temporadas. Se olharmos para os seus pontos, isso não fica tão claro, já que a média foi apenas 0,1 acima do normal. Em rebotes, porém, o crescimento foi muito significativo: em 2010, sua média era de 2,5; em 2011, 4,6; em 2012, 6,5. Eu não gosto muito de números, mas dessa vez eu fiquei muito feliz com essa evolução na súmula. E nas partidas, é possível enxergar uma postura diferente, mais agressiva e com mais autoridade no garrafão, apesar de ela ainda merecer ser chamada de “mão-de-alface” em alguns momentos. As outras pivôs que estavam no elenco neste ano são a Ziomara Morrison, chilena que conseguiu média de dois pontos e se mostrou uma boa opção, mas ainda é muito imatura e sem evolução na temporada (diferente da outra novata, Shenise Johnson), e Tangela Smith, que se machucou, jogou pouco e teve apenas 1,5 pontos por jogo, enquanto a marca de sua carreira é de 10,9.

A recém-chegada Ziomara Morrison, pivô chilena, contra Diana Taurasi
Em todos esses anos, o San Antonio Silver Stars esteve bem suprido com jogadoras de frontcourt, como gostam de dizer os americanos. No backcourt, com as grandonas, a situação foi bem diferente. Desde 2009, a posição 5 da equipe texana precisa de reforço. A impressão que Dan Hughes deixa é a de que Becky Hammon, Sophia Young, e agora Danielle Adams e Jia Perkins conseguirão levar o time a diferentes níveis apenas com o jogo baixo, mas não é assim. Contra o Chicago Sky, o Connecticut Sun, o Seattle Storm, o Phoenix Mercury (imagina agora que a Brittney Griner vai chegar), o Minnesota Lynx e o Los Angeles Sparks, não dá para brigar contra pivôs grandes e fortes que elas têm.
É claro que essa não é a única engrenagem que precisa de óleo, mas é uma das que mais trava a equipe na tentativa de ir mais adiante no campeonato.
Enquanto isso, o Oeste já conhece o seu campeão. Mais uma vez, o Minnesota Lynx, com seu elenco incrível, avança às finais da WNBA. Na segunda-feira (08), o Indiana Fever empatou sua série contra o Connecticut Sun, e, na quinta o Lynx conhecerá seu adversário na disputa pelo anel da liga. Meu palpite? Vai dar Indiana Fever x Minnesota Lynx.
Até mais!
* Queridos leitores, nesta semana a coluna Vestiário Feminino foi publicada em dia diferente porque essa que vos escreve foi convocada para ser mesária na eleição de sua cidade e precisou alterar seus horários no domingo. Pelo menos o resultado da “festa da democracia” lá na região não foi tão suja quanto as ruas naquele dia…
Publicado em 09/10/2012, em San Antonio Silver Stars, Vestiário Feminino e marcado como San Antonio Silver Stars, Vestiário Feminino. Adicione o link aos favoritos. 2 Comentários.

Roberta,ótimo post,como contumaz da sua pessoa.Sou um grande admirador dos seus textos,e estava pensando estes dias,talvez você seja a única jornalista no Brasil que comente sobre a WNBA,focando ou não,em uma equipe.Parabéns mesmo,pois você demonstra certa profundidade no assunto,que ao conhecer seus textos imaginava que morava em San Antonio cobrindo a equipe.
Quanto ao nosso desempenho,mais uma bela campanha com mais de 10 triunfos consecutivos e morremos como foi a equipe masculina este ano.Faltou gana e postura de vencedor as equipes de San Antonio.Tivemos problemas sim,mas como fizemos na temporada regular poderíamos ter atropelado Los Angeles,mas a hesitação(dúvida) e ausência de estratificação no conceito de distribuição de responsabilidades prevaleceram.Foi triste a forma como caimos,pois já no fim da temporada demos índicios de fragilidade técnica,mas não fizemos esforços suficientes para contornar a situação e retomar a antiga fluência,desta forma arruinamos uma temporada de muito esforço para as jogadoras e para a presidência da franquia.(Pois não é fácil manter uma equipe da WNBA,a maioria das franquias fecha até em negativo).
Quanto a análise do nosso elenco,tínhamos elenco consolidado e suficientemente capaz para chegar as finais da conferência,chegar a final talvez não,mas a falta de resiliência e coadunação de princípios,que segregam os fracos dos fortes,foram elementos também determinantes.
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Quanto a Becky Hammon(PPG 17.0,RPG 3.0,APG 4.5,EFF +15.50)-Sou suspeito em comentar,pois amo a sua energia e capacidade de interação com diversos setores da equipe,mas ainda assim sinto que ela precisa se concentrar mais em suas atribuições e realizar mais pick and rolls.
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Quanto a Jayne Appel(PPG 2.0,RPG 4.5,APG 1.0,EFF +6.50)-Uma modelo,linda,extremamente perfeccionista em sua imagem,mas necessita também jogar….afinal com estas médias é importante tomar cuidado para não ser transferida para o Departamento de Marketing da Franquia,pois tem mulheres que não precisam seguir a carreira esportiva,pois sua beleza física é tão impressionante..que hipnotiza a todos….ela faturaria milhões como modelo,com certeza,mas como jogadora……
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Quanto a Sophia Young(PPG 20.0,RPG 5.0,APG 0.5,EFF +19.00)-Comento com alguns amigos,poderia jogar facilmente,em algumas equipes da NBA,como o Bobcats,peca ainda em seus velhos defeitos,carregados da formação universitária na tradicional Baylor.Culpa do técnico dos Stars,pois teria que trabalhar estas questões com as jogadoras…A mesma coisa no masculino,Pop não pode deixar o Splitter ser tão ruim nos lances livres….
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Quanto a Danielle Adams(PPG-14.5,RPG-6.5,APG-0.5,EFF-+16.00),garimpamos uma excepcional jogadora e com garantia de sobra para sustentabilidade da equipe no futuro próximo,demostrando uma excelente média para alguém que não se esperava nada.
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Quanto a Jia Perkins(PPG 12.0,RPG 1.5,APG 2.5,EFF +10.00) – Advinda de Texas Tech,tem muito que aperfeiçoar no setor defensivo,aprimoramento de sentido de marcação,de noção de produtividade ofensiva x ótica defensiva.Confio na Jia,acho que mesmo,com notável desconfiança..pode produzir mais do que tem feito.
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Quanto a Danielle Robinson(PPG 12.0,RPG 4.0,APG 4.5,EFF +14.00)-Advinda de Oklahoma,jovem com muito vigor,sinceramente é a jogadora que os torcedores de San Antonio,mas esperavam que fosse vingar como a líder da franquia em um futuro distante,mas até agora mesmo com médias razoáveis,demonstra uma certa inconstância em seu jogo,mas tem uma boa cabeça que pode contornar isto com certa facilidade nas próximas temporadas….Goza de muito prestígio em San Antonio,inclusive com os Spurs…afinal o sobrenome é forte.
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Quanto a Tully Bevilaqua,Shameka Christon,Shenise Johnson,Ziomara Morrison,Tangela Smith não obtiveram média ou beleza suficientes para merecer destaque neste Post.
Silas, muito obrigada pelo seu comentário! Você não sabe o quanto fiquei feliz quando o li! Que bom conseguir transmitir o que se passa dentro do San Antonio Silver Stars de modo a agradar tanto os leitores =)
Parabéns pela sua análise! Vamos conversar mais sobre o San Antonio e a WNBA? Pode me mandar um e-mail em rf_rodrigues@yahoo.com.br
Abraço!