O careca

Duncan afaga Ginóbili: dupla tenta vencer a desconfiança da torcida

Respeitável público,

A lesão de Manu Ginóbili acabou não sendo de todo ruim para o San Antonio Spurs. Com o titubeante início de temporada do trio de astros, que tem ainda Tony Parker e Tim Duncan, o Spurs patinava e precisava que ao menos um jogador estivesse em condições de levá-lo às vitórias. E embora a saída do argentino possa não ter nenhuma relação com a ascendência do time, pois poderia tratar-se de um caminho natural, é notória a reeducação de jogo que passou o Spurs desde então.

Dado como acabado por alguns, Duncan mais uma vez vem contrariando seus críticos e tem sido o grande líder que o Spurs tanto precisava. Não digo líder na acepção da palavra, isto ele sempre o foi, mas sim no sentido de ser o homem que pede a bola, que resolve as partidas e as vence para o time. O momento de Timmy é tão bom que eu diria que, caso ele mantenha suas médias até o final de fevereiro e o Spurs continue a ganhar, ele está credenciado a ser escolhido como o atleta do mês da Conferência Oeste. Seus números não chegam a ser um aborto da natureza – se comparados aos melhores anos de Duncan na NBA podem até ser dados como modestos -, mas revelam um renascimento de seu jogo e mostram o quão útil ainda pode ser. No momento em que escrevo, após a vitória sobre o Detroit Pistons, o Spurs soma sete vitórias em sete jogos no mês de fevereiro e Duncan tem 17,5 pontos e 11,7 rebotes em média, o que convenhamos não é nada mal. Seus méritos são ainda mais louváveis quando vemos que, ao saber de suas limitações físicas atuais, Duncan tratou de desenvolver um estilo de jogo o qual pouco usou ao longo de sua vitoriosa carreira: o de atirador de média distância. Se nunca foi um atleta favorecido por seu físico, não seria agora, aos 36 anos e com os joelhos combalidos, que Timmy teria força para brigar no garrafão com jogadores dez, 12 anos mais jovens e bem mais fortes. Obviamente uma mudança tão significativa só é possível para alguém que tenha o pleno domínio da técnica do jogo, além de um nível motivacional incrível.

O caso de Tony Parker merece ser visto com mais cuidado. Ainda que essa possibilidade não tenha sido ventilada, o francês não me parecia muito satisfeito no início da temporada e nem tão seguro de que terminaria 2012 jogando pelo Spurs. De maneira nenhuma tenho a intenção de falar em corpo mole, apenas acho que uma dúvida pairava no ar, fosse pelo lado do jogador ou pelo de Gregg Popovich. Pelo sim, pelo não, Parker também parece reencontrar seu bom jogo, tendo alcançado inclusive algumas marcas significativas neste mês de fevereiro. Contra o Oklahoma City Thunder, no dia 04, ele brilhou com 42 pontos e nove assistências, ultrapassando Avery Johnson e se tornando o maior passador da história de San Antonio com quase 5.000 passes para cestas. De quebra, foi eleito o jogador da semana da Conferência Oeste. Ontem mesmo contra o Pistons, não fazia grande partida, mas foi decisivo convertendo quatro lances livres e anotando duas cestas cruciais para a vitória. O que me parece mais interessante é que Parker vem procurando criar as jogadas, envolvendo mais os companheiros na tábua ofensiva, o que por sinal é a primeira função de um armador principal, antes de pontuar.

O dilema que o torcedor do Spurs sofre há alguns anos é o de poder confiar ou não no time. As equipes de Poppovich sempre parecem capazes de reluzirem intensamente, mas somente por alguns períodos, alternando altos bem altos e baixos bem baixos, perdoem-me a redundância. Desta vez, o Spurs deu a “largada” um pouco mais cedo, afinal sempre foi conhecido pelo seu crescimento no pós-jogo das estrelas, que ainda irá acontecer. O caminho para um novo título é realmente esse, no entanto o nível que o time apresentará nos próximos meses determinará se realmente o quinto anel poderá chegar a San Antonio em junho. Chances, é claro, existem. Com a volta de Ginóbili, a equipe ganha mais corpo, experiência e talento e mesmo que o argentino já não pareça ter o mesmo fôlego de antes, um Manu inspirado vez ou outra sempre é uma arma letal. Pode não parecer, mas Ginóbili é apenas um ano mais jovem que Duncan, ou seja, está longe de ser um garoto. A careca cada vez maior o denuncia.

Ziriguidum: A coluna dá uma pausa para a folia de Momo e retorna no dia 01º de março, aniversário da minha querida cidade do Rio de Janeiro. Desejo a todos um ótimo carnaval, sem exageros e, como sempre é bom lembrar, se for dirigir, não beba. Nos vemos na Marquês de Sapucaí.

Publicado em 16/02/2012, em Interferência e marcado como , , , . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

  1. Também acho que a lesão de Ginobili possa ter sido “boa” para o Spurs, no ano passado e no começo dessa temporada, quem criava jogadas e decidia o fim dos jogos era ele, isso me parece ter causado uma certa acomodação nos nossos outros jogadores importantes. Com sua ausência Parker e Duncan tiveram que chamar a responsabilidade e mostraram do que são capaz, foi bom também para o banco que ganhou mais minutos e com isso mais experiência. Porém acho que, nas condições atuais, o melhor jogador do nosso Big 3 é o Argentino, mais talentoso e decisivo que Parker, apesar de mais velho, e mais inteiro fisicamente do que Duncan. Então acredito que conseguimos tudo isso até agora no campeonato sem nosso melhor jogador, com a volta dele, se Duncan e Parker manterem o bom jogo, teremos um time muito sólido e com capacidade de levar mais um anel para San Antonio

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