Um peso, duas medidas

Todos nós já estamos cansados de ouvir o que aconteceu com Iziane e ouvir a análise dos comentaristas a respeito. Mas a atitude dela não é novidade na seleção brasileira.
No pré-olímpico masculino de 2007, em Las Vegas, quando o Brasil vencia o Uruguai por larga vantagem e garantia vaga nas semifinais da competição, Nezinho recebeu o chamado do técnico Lula para entrar em quadra e se recusou, assim como Iziane.
No dia seguinte, o armador da seleção brasileira explicou que “não via a necessidade de entrar, já que a vitória já estava garantida”. Uma explicação muito parecida com a que Iziane deu após sua volta ao Brasil; segundo a mesma, ela teria se recusado a entrar porque “o jogo já estava perdido”.
A diferença vem agora. Enquanto Iziane foi cortada da seleção, recriminada por toda imprensa e até por sua equipe na WNBA, Nezinho seguiu na seleção, entrando nas partidas, como se nada tivesse acontecido. Talvez a principal diferença entre os dois casos esteja no histórico desses jogadores com os técnicos que sofreram os desmandos. Enquanto Nezinho tinha muito prestígio com Lula, havia sido revelado pelo mesmo e atuava como titular na equipe comandada por ele, Iziane vinha de um histórico de brigas e discussões com Paulo Bassul, como ele mesmo relatou. Segundo ele, a ala-armadora sempre teve uma postura muito individualista e se preocupava mais com seu desempenho do que com o da seleção.
Após o corte de Iziane, a seleção feminina alcançou seu objetivo e garantiu sua presença em Pequim, enquanto a seleção masculina de 2007 perdeu a primeira chance de fazer o mesmo e agora terá que lutar no pré-olímpico mundial, que acontecerá entre os dias 14 e 20 de julho, em Atenas, na Grécia, sem suas principais estrelas, como Leandrinho, Nenê e Anderson Varejão.
Não estou dizendo que se Nezinho tivesse sido cortado a seleção teria se classificado, mas era nítida a falta de comando de Lula, que ainda sofreria duras críticas e acusações do ala Marquinhos após seu corte da seleção, enquanto Bassul mostrou controle sobre a equipe, ao tirar, não só do pré-olímpico, mas também da Olimpíada, uma das melhores jogadoras brasileiras na atualidade.
Mas o que eu não consigo entender mesmo é a diferença de tratamento que a imprensa deu nesses dois casos. Enquanto o caso de Nezinho foi quase ignorado, Iziane sofre duras críticas de comentaristas que colocam em dúvida até seu caráter.
Não estou aqui para julgar ninguém, mas não acho que o ato de Iziane tenha um peso maior do que o de Nezinho. Os dois se recusaram a jogar, não respeitaram a ordem de seus comandantes e desrespeitaram a hierarquia da seleção. Não importa em que momento do jogo isso tenha ocorrido, ambos deveriam ter obedecido as ordens de seus técnicos e, se houvesse algum problema, deveriam conversar depois, com o grupo e longe das câmeras.
Publicado em 25/06/2008, em Um outro olhar. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

Deixe um comentário
Comentários 1