Moncho Nãosalva.

Acabou-se o que era doce, já dizia o poeta. De forma fácil e sem sustos, o Boston Celtics sagrou-se campeão da NBA mais uma vez, desbancando os também multi-campeões do Los Angeles Lakers. De forma não tão fácil, com alguns sustos e com a deserção de uma “estrela” – desculpem-me pela blasfêmia, amigo leitor e amiga leitora – o selecionado feminino de basquete fez sua parte e garantiu sua vaga olímpica ao derrotar na final da repescagem do Pré-Olímpico Mundial as meninas de Cuba. E, desse modo, acabaram as partes boas da temporada de basquete válida pelo segundo semestre de 2007 e o primeiro de 2008.
Mas e os representantes masculinos do basquete brasileiro? Nossos “meninos da bola laranja” não estarão a postos para defender com unhas, dentes e enterradas a pátria amada Brasil? Pois é, eles vão sim, e é aí que mora o perigo. Sem metade mais um do time considerado ideal, a seleção brasileira masculina de basquete depende hoje das atuações de sua estrela solitária, Tiago Splitter, e da fé do povo, que não desiste nunca. Tudo isso porque jogadores com nome – e talvez mais nada – como Leandro Barbosa, Nenê Hilário e Anderson Varejão decidiram abandonar a canoa brasileira, que mesmo com eles já estava longe de ser um potente navio, pelos mais diversos motivos. E como hoje não tem mais NBA, nem seleção feminina e nem Iziane (oras, ela merece um espaço só dela, afinal é nossa “estrela”) falarei um pouco sobre o abandono desses três jogadores. Antes de mais nada, peço perdão aos jogadores Guilherme e Valtinho, mas prefiro poupá-los de minhas ásperas palavras por motivos de… bem, pelo motivo de que seus abandonos não repercutiram tanto.
Para começar, falarei dele, do primeiro brasileiro a ser reconhecido na NBA – leiam bem, não foi o primeiro a atuar, e sim a ser reconhecido – o hilário pivô Nenê. Vencedor de uma batalha mais importante do que qualquer jogo ou competição nesse início do ano, o pivô do Denver Nuggets abortou mais uma vez os planos brasileiros de retorno aos Jogos Olímpicos. Após sentir uma grave lesão no jogo decisivo do Pré-Olímpico das Américas, o jogador afirmou que, devido a uma nova lesão, não poderá atuar nos jogos que valerão as vagas remanescentes para os Jogos de Pequim – ou Beijing. Uma decisão péssima, diga-se de passagem. Nem bem se lesionou, Nenê já pulou fora, alegando que não conseguiria retornar em tempo hábil para ajudar a seleção. E nem venham me dizer que a lesão é séria, pois o astro norte-americano Dwayne Wade afirmou que faria de tudo para servir sua pátria nos Jogos-08. E ao que tudo indica atuará em solo chinês. E, falando em China, o pivô e estrela maior da seleção local, Yao Ming, está fazendo tudo que está ao seu alcance para se recuperar de uma lesão que o afastou de mais da metade da temporada regular da NBA. E o Nenê dizendo que não dará tempo? Nada hilário isso, nada hilário…
Outro atuante do garrafão verde e amarelo seria o pivô da Cleveland Cavaliers Anderson Varejão. Seria, porque ele também afirmou que não disputará a vaga nos Jogos ao lado de seus compatriotas. Mais um ato de nacionalismo exacerbado do jogador – pobres de nós brasileiros – que por não ter definido os valores de seu contrato com a equipe de Ohio há um ano atrás, deixou de disputar o Pré-Olímpico americano, causando grande mal-estar entre os torcedores brasileiros e mostrando o que realmente importa para ele: dinheiro. Ou você acha que não? Varejão deveria rever seus conceitos, pois antes de ele entrar para a NBA e ser um coadjuvante de LeBron James, Ben Wallace, Zydrunas Ilgauskas e cia. ele era um aclamado jogador da seleção. O sucesso subiu à cabeça de Anderson como as perucas subiram nas cabeças de milhares de crianças estadunidenses? Então alguém precisa avisá-lo de que ainda há uma longa estrada a ser percorrida pelo jogador para que ele seja importante dentro da NBA. E essa estrada começa com a humildade de se colocar no devido lugar e crescer ao poucos. As Olimpíadas seriam uma grande chance de começar essa trilha.
E, por último, mas não menos importante, ele, que até algumas semanas atrás era minha maior esperança para o basquete brasileiro: Leandro – ou Leandrinho – Barbosa. Além de minha maior esperança, era meu único “ídolo” atuante no basquete nacional. Sua humildade, sua vontade de defender tanto seu time na NBA quanto o Brasil me faziam crer que ele poderia ser, em escalas menores, é claro, uma espécie de novo Oscar, um líder que encaminhasse o Brasil para as cabeças. Mas não passou de achismo barato. Leandro se revelou um jogador interessado mais em si próprio do que no coletivo; o estrelismo parece ter subido à sua cabeça. O brazilian blur – ou borrão brasileiro – como é conhecido nos EUA, parece ter, com o perdão das palavras, se borrado, ao ver que teria que assumir tamanha responsabilidade. Para fugir da raia, o ala-armador do Phoenix Suns foi infinitamente mais rápido do que em seus contra-ataques em quadra, jogada que o tornou famoso na NBA. Talvez por toda a situação envolvendo-o, Leandro foi minha maior decepção. Corinthiano, maloqueiro e sofredor, como ele mesmo se denomina, foi encontrado por meu irmão em um dos jogos do time paulista. Eu estava em outro setor do estádio e por isso não consegui vê-lo nem para pedir que atuasse com todo o amor possível pela Seleção – em tempo, naquela época ele ainda não havia desistido. O que me restou foi um autógrafo. Uma vã assinatura que não tenho orgulho nenhum em possuir, nem em exibir para os outros. Barbosa, Barbosa… você realmente machucou os amantes do basquete nacional. Machucado esse muito mais sério do que o que você afirma ter e que te impede de atuar por sua pátria.
São esses três jogadores – que mais do que jogadores são seres humanos – que deveriam defender o país e tornarem-se ídolos de uma nação. Mas eles se esquecem que são seres humanos antes de serem jogadores. Esquecem que não são mais do que ninguém. Esquecem que, assim como eles mesmos, milhares de crianças vivem na miséria e sonham em ter uma chance. Chance essa que eles conseguiram e, ao invés de usá-la para incentivo geral, usam de acordo com interesses pessoais que transpassam qualquer nação, qualquer seleção.
E enquanto isso a elite basqueteira – repugnante dizer isso, eu sei – composta por dirigentes e por um ser apelidado de Grego nada fazem para o bem do basquete nacional. Despedem um brasileiro e, nos ventos soprados pela crítica, contratam um técnico estrangeiro. De nome Moncho Monsalve, um espanhol desembarcou em nossas terras como a salvação do esporte no país. Mas em menos de um ano viu seu plano ruir, e lida com problemas que o fizeram passar de salvador da pátria para santo milagreiro. Infelizmente, milagres são difíceis de acontecer. E, com certeza, Moncho Nãosalva o basquete do Brasil – com o perdão do trocadilho. Não salvará, pelo menos de imediato. Sendo assim, me pergunto para finalizar minha coluna de hoje: se Moncho conseguir o maior milagre da história e levar nossa esquadra para as Olimpíadas, qual será a reação de Nenê, Varejão, Leandro e cia.? Certamente já estarão curados…
Pois é, tudo o que nós precisamos é de uma mão-santa no comando, não acham?
Publicado em 19/06/2008, em Na linha dos 3. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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