Artigo – O libertador de San Antonio – Parte II

Chegamos finalmente à parte mais conhecida da carreira de David Robinson, sua participação na NBA, jogando somente pelo San Antonio Spurs. E como dito no primeiro artigo, a entrada de Robinson na liga de basquete dos EUA foi cercada de obstáculos, e por muito pouco quase não aconteceu. Afinal, após cumprir os dois anos necessários na marinha norte-americana, David quase trocou o basquete pela ginástica e, após decidir seguir no basquete, se especulava sobre uma possível renovação com o time texano, uma vez que Robinson seria agente livre antes mesmo de estrear.

Mas o pivô decidiu continuar em San Antonio e jogar pelo time que havia aberto suas portas no momento do draft de 1987. A estréia ocorreu na temporada de 1989/1990, e não podia ter sido melhor para David e os Spurs. Logo de cara, o jogador causou grande impacto na liga, que o aguardava ansiosamente devido aos dois anos de expectativa criada. Primeiramente, foi apelidado de “Almirante”, graças aos serviços prestados para a marinha dos EUA. Agora ele era David “The Admiral” Robinson, novamente com sua camisa 50, liderando o San Antonio após pífia campanha do time na temporada anterior.

O recorde em questão do San Antonio Spurs foi de 21 vitórias e impressionantes 61 derrotas. A missão do Almirante seria mais complicada do que ele poderia imaginar. E são em situações controversas e complicadas que se separam os grandes jogadores dos jogadores que serão lendas. Robinson escolheu ser uma lenda e, em apenas uma temporada, colocou o Spurs nos playoffs da NBA, com surpreendente campanha de 56 vitórias e 26 derrotas, uma melhora de 35 triunfos em relação ao recorde passado.

Essa significativa mudança mostrava qual seria o impacto de Robinson na liga. O prêmio de melhor novato da temporada foi apenas conseqüência para um jogador que teve médias de 24,3 pontos, 12,0 rebotes e 3,9 bloqueios em sua primeira época entre os profissionais. Ainda naquele mesmo ano, o Almirante levou seu time à semi-final de Conferência, onde perdeu para o futuro vice-campeão da NBA Portland TrailBlazers.

Essa temporada seria o bastante para que David Robinson ficasse para sempre na memória e nos corações dos torcedores texanos. Mas ele fez mais, muito mais. Antes de expor seus outros incríveis feitos dentro da NBA, é necessário fazer uma importante ressalva: a participação de Robinson no time de basquete mais admirado de todos os tempos, a seleção norte-americana de basquete nas Olimpíadas de 1992, em Barcelona. Michael Jordan, Larry Bird, Charles Barkley, Magic Johson e o próprio Robinson eram apenas alguns dos jogadores daquele time que encantou o mundo e levou para casa a medalha de ouro da primeira Olimpíada onde se permitiu a participação de jogadores profissionais. O Almirante poderia estar vivendo seu sonho em 1992, mas nem imaginava as glórias que o destino reservava para ele.

Ainda em 1992, foi eleito o Jogador Defensivo do Ano, com médias de 23,2 pontos, 12,2 rebotes, 2,3 roubadas de bola e 4,5 bloqueios por jogo. A carreira meteórica ainda permitiu que ele fosse eleito duas vezes consecutivas para o NBA All First Team em quatro anos de liga, nos anos de 1991 e 1992. Se formos enumerar todas as vezes que Robinson foi eleito para melhores times e melhores times defensivos, teríamos que criar outro artigo.

Após quatro anos de liga, na temporada 1993/1994, Robinson travou um impressionante duelo com o então jovem pivô do Orlando Magic Shaquille O’Neal pelo posto de maior cestinha da temporada regular. E a vitória foi do Almirante, que com incríveis 71 pontos no último jogo da temporada, contra o Los Angeles Clippers, garantiu a vitória naquela época. Vitória essa que impulsionou Robinson a vencer na temporada seguinte o prêmio individual mais importante da NBA, o de MVP da temporada regular.

Medalha de ouro olímpica, reconhecimento na NBA, eleito MVP, melhor jogador de defesa, cestinha de uma temporada, nomeado como um dos 50 maiores jogadores da história, parecia que nada faltava ao Almirante. Nada exceto um anel de campeão da NBA. E a conquista desse anel começou de maneira muito dolorosa para o jogador e para os torcedores do Spurs.

Ainda na pré-temporada de 1996/1997, Robinson se machucou seriamente, e ficou impedido de jogar na maior parte daquele ano. O resultado para o Spurs foi óbvio; recorde de 20 vitórias e 62 derrotas. Com tal campanha, restou ao time texano a primeira escolha no draft seguinte. E essa primeira escolha foi a medida que faltava para que o Spurs pudesse ser campeão. Um grande jogador fora draftado pelo time de San Antonio. Sua primeira opção não era ser jogador de basquete e sim nadador, mas uma tragédia o impediu. Seu nome? Tim Duncan. E junto com Robinson formou a dupla de garrafão que ficou conhecida como “As Torres Gêmeas”.

Agora, era só uma questão de entrosamento para que o título viesse. E veio na fatídica temporada de 1998/1999, época que ficou marcada por ter tido apenas 50 jogos, graças à crise instaurada na NBA e à greve de jogadores. Com 50, 80 ou 100 jogos, o que interessa é que as Torres Gêmeas entraram em ação e mostraram ser uma das melhores duplas de garrafão da história. Após bater Minesotta Timberwolves e Los Angeles Lakers nos playoffs, o Spurs se vingou do TrailBlazers e venceu a final da Conferência Oeste, obtendo a vaga na grande final da NBA contra o New York Knicks. E após um 4×1 contra o time de Nova York, o Spurs e David Robinson sagravam-se campeões pela primeira vez da NBA.

David Robinson havia conseguido. Transforamara o Spurs em time grande na Liga. Conseguiu o único título que faltava em sua gloriosa e meteórica carreira. O Almirante havia finalmente libertado o Spurs; ele havia dado, ao entrar para a equipe, o primeiro passo do que futuramente seria o início de uma dinastia. David se retirou em 2003, e conseguiu fazer de sua aposentadoria ser uma grande festa. Uma comemoração ao segundo título obtido pelo Spurs. O Almirante deixava a NBA com dois anéis de campeão. Passava o bastão para Tim Duncan, que ainda conquistaria mais dois títulos (por enquanto!). Marcava seu nome na história como grande homem e jogador que foi. Ficará para sempre na memória dos torcedores do Spurs e dos amantes do basquete como o Almirante, como o homem que libertou San Antonio.

Médias de David Robinson na NBA

Carreira

Jogos: 987

Minutos jogados: 34271 (34,7 por jogo)

Pontos: 20790 (21,1 por jogo)

Rebotes: 10497 (10,6 por jogo)

Bloqueios: 2954 (3,0 por jogo)

Roubadas de bola: 1388 (1,4 por jogo)

Assistências: 2441 (2,5 por jogo)

FG%: 51,8

FT%: 73,6

Playoffs

Jogos: 123

Minutos jogados: 4221 (34,3 por jogo)

Pontos: 2222 (18,1 por jogo)

Rebotes: 1301 (10,6 por jogo)

Bloqueios: 312 (2,6 por jogo)

Roubadas de bola: 151 (1,3 por jogo)

Assistências: 280 (2,3 por jogo)

FG%: 47,9

FT%: 70,8

All-Star Games

Jogos: 10

Minutos jogados: 184 (18,4 por jogo)

Pontos: 141(14,1 por jogo)

Rebotes: 62 (6,2 por jogo)

Bloqueios: 13 (1,3 por jogo)

Roubadas de bola: 13 (1,3 por jogo)

Assistências: 8 (0,8 por jogo)

FG%: 58,8

FT%: 69,5

Prêmios e indicações

10 vezes indicado ao prêmio de MVP, vencendo uma vez (1995)

Jogador com mais jogos na temporada (1990,1991)

Jogador com mais bloqueios na temporada (1991,1992)

Melhor reboteiro da temporada (1991, 1996)

Cestinha da temporada (1994)

NBA All First Team (1991, 1992, 1995, 1996)

NBA All Second Team (1994, 1998)

NBA All Third Team (1990, 1993, 2000, 2001)

All-Defensive First Team (1991, 1992, 1995, 1996)

All-Defensive Second Team (1990, 1993, 1994, 1998)

Segundo maior cestinha do Spurs, atrás apenas de George Gervin (se contarmos apenas jogos da NBA, Robinson é o maior, uma vez que Gervin marcou 4219 jogando no Spurs em sua época da ABA)

Escolhido para o Hall da Fama da NBA como um dos 50 maiores jogadores da história.

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Sobre Leonardo Sacco

É jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cravou a opção pelo jornalismo no estouro do cronômetro, quando criou o Spurs Brasil em uma madrugada de domingo para segunda. Escreve para o Yahoo! Esportes e dá seus pitacos no @leosacco.

Publicado em 20/03/2008, em Artigos. Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

  1. Avatar de Victor Moraes Victor Moraes

    Muito bom artigo cara, e fantástica a trajetória do Almirante.
    Nós torcedores do Spurs só temos a agradecer, se hoje somos uma potência devemos agradecer a ele.

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