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Análise das estatísticas do selecionado brasileiro


No “Passando a Limpo” dessa semana, vamos analisar os números da seleção brasileira na Pré-Olímpico que foi disputado na Grécia, para assim descobrir quais as causas da não classificação às Olimpíadas.
No quesito pontos por jogo, o Brasil ficou em sétimo lugar, com 76 em cada partida de média, sendo o último entre os times de alto nível e ficando atrás até da Coréia do Sul, que não foi para as quartas-de-final e que teve 76,5 de média. Individualmente, nosso cestinha foi Tiago Splitter, com 15 pontos por partida, ficando atrás, contando apenas as seleções de alto nível, apenas de Dirk Nowitzki, da Alemanha, com 25,3, Marko Tomas, da Croácia, com 17, e Radoslav Nesterovic, da Eslovênia, com 16,7. Em segundo pela seleção temos Marcelinho Huertas, com 13,3, e Alex Garcia, com 10 pontos de média. J.P. Batista é o pior da seleção nesse quesito, levando em conta o número de jogos e as médias de tempo em quadra, com 4 pontos em cada jogo.
Na porcentagem de acerto dos arremessos, com 48,3%, o Brasil ficou na quinta posição; dos times de ponta, ficou na frente apenas de Porto Rico, com 41,5%, na sétima posição. Nos arremessos de dois pontos, o Brasil ficou na terceira posição, com 59%, mas nos arremessos de três pontos, com 25,5%, e nos lances livres, com 66,7%, ficou à frente apenas de Cabo Verde, com 23% e 64,9%, respectivamente.
Nos rebotes, O Brasil, com média de 29 por jogo, ficou apenas na frente da Coréia do Sul e do Líbano, com 22 e 19,5, respectivamente. Nos rebotes ofensivos, ficou em sexto com 8 rebotes por jogo, e nos defensivos, ficou na nona posição, com 21 rebotes. Nos bloqueios, o Brasil ficou com 1,7 por jogo, na frente apenas da Nova Zelândia, com 1,3.
Nas assistências, o time brasileiro teve 14 de média, ficando na quinta posição. Roubos de bola foi o único quesito em que os brasileiros foram os primeiros, com 11,3 por jogo. Nos erros de ataque, o selecionado amarelinho foi o quinto colocado, com 13,3 por partida.
Esses números mostram uma evolução defensiva da seleção brasileira, já que defensivamente vem se portando bem, mas ainda continuam os desperdícios de arremessos de três e nos lances livres; na linha dos três, esse erros mostram um certo afobamento no ataque, e na linha de falta, mostra falta de treino nesse fundamento. A seleção tem bons jogadores individualmente, mas precisa melhorar muito ainda coletivamente.
Dirigentes em ação

O “Passando a Limpo” esta semana irá tratar do assunto mais comentado no momento. As movimentações da equipes nos bastidores e as recentes trocas de jogadores, visando a melhora no elenco e possivelmente lutar por um título, ou então simplesmente na tentativa de renovar ou reduzir folha salarial visando contratações futuras.
Tudo começou já próximo do draft, quando Indiana Pacers e Toronto Raptors costuraram um acordo que fez TJ Ford e Jermaine O’Neal trocarem de lado. Junto de TJ Ford, foram o pivô esloveno Rasho Nesterovic e Roy Hibbert, através da escolha de primeira rodada do Raptors. Em uma rápida análise desta troca, ambos os lados saíram ganhando. Jermaine, que um dia foi All Star e um dos jogadores de garrafão mais dominante da NBA, já não tem o mesmo rendimento há algum tempo, sendo atrapalhado também por seguidas lesões, não parecia mais essencial em quadra, e a equipe também se livra de seu salário astronômico de mais de 20 milhões de doláres. Quem sabe uma troca de equipe não o faça voltar a ter motivação e jogar o melhor de seu basquete; ele tem 30 anos e saudável e motivado é uma arma para qualquer equipe. O Toronto não teve grandes perdas; para a vaga de TJ Ford, eles possuem Jose Calderón, que é excelente armador e está pronto para assumir a titularidade, e Rasho Nesterovic, apesar de uma última temporada em que teve um bom rendimento, não terá ausência sentida se O’Neal render o que se espera dele. Em um saldo final, temos um Indiana Pacers em reconstrução com a chegada de novos jogadores e a saída dos mais antigos, o próximo a ser trocado deverá ser Jamaal Tinsley, e um Toronto Raptors que pode buscar algo mais nessa temporada, inclusive para os mais otimistas, o título, graças a um forte garrafão formado por Bosh e O’Neal com Bargani para a rotação, e o jogo organizado por um armador no estilo clássico que é Calderon, e com Moon na ala colaborando na defesa de perímetro e muitas enterradas no ataque.
Outras grande troca realizada recentemente foi entre New Jersey Nets e Milwaukee Bucks. Richard Jefferson trocou de lado com Bobby Simmons e o chinês Yi Jianlian. Ao Nets, restou uma estrela solitária, Vince Carter, cercado por diversos jovens e promissores jogadores como Devin Harris, Boone e o próprio Yi. Há os que dizem que esta movimentação foi feita visando se livrar de grandes contratos e reduzir a folha salarial para em 2010 tentar a contratação do astro Lebron James, então, seguindo esse raciocínio, Carter não terá vida longa por lá. O Bucks adquire um ala pontuador para jogar ao lado de seu astro principal, Michael Redd, sendo Jefferson o principal coadjuvante. Uma ótima dupla de alas e o desenvolvimento de Bogut como pivô podem dar resultados interessantes.
Agora as outras movimentações passam pelo mercado de agentes livres. Esta offseason prometia ser movimentada graças aos bons nomes que estariam livres para serem contratados; os principais seriam Gilbert Arenas, Antawn Jamison, Elton Brand, Corey Maggete, James Posey, Baron Davis e, entre os agentes livres restritos, os nomes mais citados eram os de Andre Iguodala, Josh Smith e Josh Childress.
Jamison acabou renovando com o Wizards; uma das exigências de Arenas que também renovou, mas recusou uma oferta máxima de 127 milhões para assinar por “apenas” 111 milhões para que dessa forma outros jogadores da equipe também pudessem ser mantidos. O Wizards portanto será praticamente o mesmo; quem sabe se todos se manterem saudáveis a equipe possa buscar algo além da primeira rodada nos playoffs.
Baron Davis optou por deixar seu contrato com o Golden State Warriors, em que teria direito de receber cerca de 17 milhões de dólares pela próxima temporada, e em seguida anunciou que assinaria com o Los Angeles Clippers por 13 milhões, porque assim a equipe teria mais dinheiro para manter Elton Brand e quem sabe buscar algo no oeste jogando ao lado de Brand e Kaman. Brand, por sua vez, parecia que também reassinaria com a equipe de Los Angeles por um salário menor, alguns dizem que o jogador havia prometido ao recém contratado Baron Davis que voltaria para jogar ao seu lado. Mas não foi isso que aconteceu. O ala-pivô recebeu uma vantajosa oferta do Philadelphia 76ers e assinou com a equipe da conferência leste, deixando Davis a ver navios. O Clippers também perdeu Maggette (falarei mais no parágrafo seguinte), e agora deposita suas esperanças em Baron Davis, Chris Kaman e no agora sophomore Al Thorton. O Sixers, com a aquisição de Brand, aparece na lista de favoritos para conquistar o Leste. Como o espaço na folha salarial era grande, ainda resta um bom espaço para renovar com Andre Iguodala, que vendo uma ótima equipe se formar ao seu lado, não deve criar dificuldades para renovar. Assim, a base que surpreendeu a todos chegando aos playoffs temporada passada será a mesma, porém com o grande reforço de Elton Brand, que formará um trio de respeito junto de Iguodala e Andre Miller, ajudados pelo pivô Samuel Dalembert, o armador Louis Williams e o ala-pivô Jason Smith. Uma equipe muito forte.
Corey Maggette foi o agente livre mais procurado nesta offseason, e um dos favoritos para contar com seus serviços era o San Antonio Spurs. Além do Spurs, Detoit Pistons, Boston Celtics, Orlando Magic e algumas outras franquias estavam na disputa, porém todas não tinham como fazer grandes ofertas ao jogador, tendo disponível apenas os 5,8 milhões da Mid Level Exception. O Golden State Warriors, que já havia tentado a contratação de Brand sem sucesso, entrou na disputa e deu o troco no Los Angeles Clippers, oferecendo ao jogador um contrato de 50 milhões por 5 anos de compromisso que Maggette acabou aceitando. O Warriors adicionou mais um ala em seu plantel e agora não tem ninguém para a armação, e, se não contratar ninguém, deverá deslocar Monta Ellis para a armação, o que na minha opinião seria um erro.
Os principais nomes que ainda restaram são os de Josh Smith, seu companheiro de time Josh Childress (porém ambos podem ter ofertas igualadas pelo Hawks) e James Posey. Childress não teve muita especulação sobre ele, a tendência é de renovação com o Hawks. Josh Smith foi muito assediado pelo Sixers, inclusive fez uma visita à cidade da Philadelphia e conheceu as instalações da franquia, que acabou acertando com Elton Brand, então surge com força uma possível proposta do Clippers (também se especula o nome de Emeka Okafor por lá). James Posey busca um contrato mais vantajoso do que o que tinha em Boston e está sendo muito procurado, porém ainda não decidiu seu futuro, a tendência é que assine um contrato pelo valor da Mid Level Exception.
Algumas outras aquisições de menor importância também aconteceram, como a contratação de Michael Pietrus pelo Orlando Magic, após negativa de Chris Duhon, que por sua vez assinou com o New York Knicks por 2 anos pela valor total da MLE. O Warrios também contratou Ronny Turiaf, com contrato de 4 anos no valor de 17 milhões, proposta que o Lakers não deve cobrir. O mexicano Eduardo Najera assinou por 4 anos com o Nets por um valor de 12 milhões de doláres, e o ala ex-Detroit Pistons Jarvis Hayes também acertou com a equipe de New Jersey.
O San Antonio Spurs até agora foi discreto em suas movimentações. Muito se especulava sobre a chegada de Corey Maggette, que acabou não acertando por ter recebido porposta superior. Brent Barry acabou deixando a equipe e assinou com o rival Houston Rockets por dois anos, com salário de 2 milhões por temporada. Para o seu lugar, o Spurs contratou o ala-armador Roger Mason Jr, que estava no Washington Wizards, por cerca de 7,5 milhões por duas temporadas. Jacque Vaughn exerceu sua opção de contrato por mais um ano e Kurt Thomas ainda aguarda outras possíveis ofertas, mas deve renovar com o Spurs. Michel Finely e Robert Horry ainda não definiram seus futuros; Finley deve continuar em San Antonio para ao menos mais uma temporada e Horry anunciou o desejo de jogar por mais um ano, deixando sua aposentadoria para o fim da temporada seguinte, mas ainda não se sabe se renovará com o próprio Spurs ou seguirá para outra franquia.
Análise dos draftados

Começo o “Passando a limpo” dessa semana pedindo imensas desculpas pela falta da coluna no domingo passado. Por alguns encalços e falta de tempo por precisar estudar, não consegui finalizar essa coluna, mas hoje venho aqui para trazê-la à vocês.
Hoje estou aqui para trazer uma ficha completa e uma análise detalhada dos jogadores adquiridos no Draft desse ano pelo Spurs. Esta análise é baseada nos vários sites sobre draft espalhados pela internet. Colocarei os pontos fortes e fracos de nossas escolhas. Então vamos ver quem são eles e como jogam.
George Hill

George Hill
Nome Completo: George Jesse Hill Junior
Data de Nascimento: 04/05/1986
Cidade Natal: Indianapolis (Indiana)
Posição: Armador
Altura: 1,88m
Peso: 82Kg
Colégio: Broad Ripple
Universidade: IUPUI
26ª escolha do Spurs
Pontos Fortes:
Hill é um grande defensor, sabe se posicionar bem, inclusive para pegar rebotes, e ainda tem mãos rápidas, braços longos e boa antecipação, que completam seu arsenal defensivo. Ele é um bom chutador, consegue arremessar de todas as partes da quadra com eficiência, vinda da boa quantidade de jogadas ofensivas que ele tem a oferecer. Apesar dele ser um pontuador, ele não é egoísta e tem um bom passe. Por causa de seus braços longos, ele parece ser maior do que aparenta. Um jogador que trabalha muito duro, não faz nada além de seus limites e raramente perde a calma.
Pontos Fracos:
Costuma jogar na posição 2, porém sua altura é para 1 ou para ser um jogador das duas posições. Ele não é um jogador espetacular, um atleta de decisão. Quando marcado por um bom defensor, ele se perde, e tem difculdade em marcar, por seu tamanho, nas duas posições. É o tipo de jogador que tem várias habilidades, mas não se destaca em nenhuma delas. A durabilidade pode ser um problema para Hill, pois na temporada retrasada ele ficou fora por ter quebrado o pé, e na última jogou com um pino de metal segurando o local cirurgicamente reparado. Mesmo ele não tendo mostrado nenhum problema nesse ano, é uma área para se preocupar.
Malik Hairston

Malik Hairston
Nome Completo: Malik Samory Hairston
Data de Nascimento: 23/02/1987
Cidade Natal: Detroit (Michigan)
Posição: Ala-armador
Altura: 1,98m
Peso: 100Kg
Colégio: Renaissance
Universidade: Oregon
48ª escolha do Suns trocada pela 45ª escolha do Spurs, Goran Dragic, mais consideração em dinheiro e escolha do Warriors no Draft de 2009.
Pontos Fortes:
Hairston é um jogador atlético, com altura ideal para jogar nas posições 1 e 2 e difícil de parar quando ataca a tabela. Movimenta-se bem sem a bola quando está atacando, criando oportunidades. Seu arremesso teve uma melhora sólida. Mostra ser um defensor dedicado e bom reboteador, que dificulta a ação de jogadores menores em sua posição. Um jogador inteligente com bons fundamentos, e boa reputação com seus colegas de time e técnico na universidade.
Pontos Fracos:
Sua condução e seu passe são ruins, e também tem dificuldades de driblar seus marcadores. Não consegue arremessar bem quando pressionado, e tende a perder o controle quando tenta ir à cesta. Defensivamente, ele perde o foco e falta intensidade, e também é muito criticado por sua falta de vontade que as vezes indica que joga apenas por obrigação. Apesar de sua força, não consegue se impor na defesa contra jogadores rápidos e não consegue se antecipar. Jogou melhor nos seus primeiros anos de universidade, depois caiu de produção.
James Gist

James Gist
Nome Completo: James Gist III
Data de Nascimento: 26/10/1986
Cidade Natal: Silver Spring (Maryland)
Posição: Ala-pivô
Altura: 2,04m
Peso: 103Kg
Colégio: Good Counsel
Universidade: Maryland
57ª escolha do Spurs
Pontos Fortes:
Gist é um jogador muito atlético, que enterra facilmente e muito ágil, estilo Lamar Odom. Se porta muito bem defensivamente no perímetro e tem faro apurado para bloqueios. Seu arremesso de média distância tem melhorado. Ele pode adicionar mais peso sem perder seu atleticismo. Se posiciona perfeitamente para o rebote, com seus braços longos ajudando bastante. Tem grande resistência e adiciona a qualquer time muita energia. Ataca a cesta com força, mesmo com os defensores tentando bloqueá-lo. Eficente nos lances livres.
Pontos Fracos:
Seu grande problema é que ele está entre a posição 3 e 4; como ala faltam habilidades no perímetro, e como ala-pivô falta força para competir contra os adversários. Muitas vezes fica passivo dentro de quadra, desaparece no ataque e acaba sumindo em quadra. As vezes, em quadra, deixa o emocional aflorar e acaba forçando na defesa, fazendo faltas.
É isso aí pessoal! Espero que tenham conhecido um pouco mais sobre os novos jogadores do Spurs. Semana que vem estaremos de volta com nossa análise semanal.
Entrevista – Valdir Barbanti – Parte II
Excepcionalmente hoje, o Passando a Limpo será um pouco diferente. Eu sei que eu havia prometido a última parte da entrevista para segunda-feira, mas uma pequena mudança fez com que ela precisasse ser postada hoje. Então, o Passando a Limpo deste domingo será a segunda parte desta interessante entrevista com Valdir Barbanti, ex-preparador físico da seleção masculina de basquete.
Se você perdeu a primeira parte desta entrevista, clique aqui e confira!
Spurs Brasil – Em 92, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, vocês enfrentaram talvez aquela que foi a melhor seleção de todos os tempos nos esportes coletivos. Como foi essa experiência de ter enfrentado Michael Jordan, Larry Bird, Magic Johnson?
Valdir Barbanti – Esse pessoal todo que jogou nos Estados Unidos, era o pessoal que a gente admirava, eram os ídolos dos nossos jogadores. Uma vez o Oscar falou assim: “Quase que eu entrei na quadra com um caderninho e um lápis na mão pra pedir autógrafo”. Quer dizer, o respeito era muito grande, porque era as vedetes do esporte mundial, eram os grandes nomes, e o nosso pessoal tinha esses jogadores como grandes ídolos. Então, foi uma coisa interessante, foi legal jogar contra esses caras. Claro que eles eram extremamente superiores a nós, mas, de qualquer forma, a honra de jogar com os caras que a gente admira, que a gente tem como ídolo é uma coisa fabulosa. Então, claro, ninguém entrou achando que ia derrotar aquele time, porque ele era imbatível, mas por outro lado, entrou pra fazer o melhor e oferecer a maior resistência possível. Mas eram 12 jogadores que eram os melhores do mundo, e não tinha jeito de ganhar deles, e ninguém iria ganhar daquele time, nem a seleção do resto do mundo acho que ganharia daquele time. Foi pra nós uma honra, foi uma coisa como eu falei, uma coisa de entusiasmar e, de uma certa forma, honrados de poder jogar contra aqueles que a gente achava que era os melhores do mundo e que a gente tinha admiração. Quer dizer, a vontade era essa mesmo, eu queria a camisa deles pra guardar de recordação, queria um autógrafo, porque caramba, são os melhores do mundo, que bacana a gente jogar contra eles Agora, eu acho que aquele time era imbatível, porque eram 12 jogadores de altíssimo nível, e a gente ficava maravilhado com o que eles faziam na quadra. E contra nós não foi diferente, eles deram um show, como deram um show contra todo mundo.
SB – Você teve oportunidade de ver como era o relacionamento das grandes estrelas americanas?
VB – Não. Eles ficavam em hotéis separados, eles não ficavam nem na Vila Olímpica, então a gente nunca teve contato, porque eles ficavam em lugar separado. Então, nunca tive chance de saber como eles se relacionavam, como eles eram.
SB – A preparação física do basquete brasileiro evoluiu muito desde a época que você fazia parte da equipe e em que aspectos ela ainda deixa a desejar?
VB – Eu acho que ela evoluiu bastante, mas não evoluiu tanto do ponto de vista técnico, mas evoluiu no sentido de aceitação da preparação física. Desde 87, quando nós ganhamos o Pan-americano, ficou evidente que um time bem preparado ele enfrenta qualquer um do mundo, e nosso time mostrou isso porque tava muito bem preparado fisicamente. A partir de então, quase todo clube, mesmo as categorias de base, juvenil, infanto, infantil começaram a valorizar a preparação física, de saber que isso é uma parte importante do processo do basquetebol. Eu dei muitas clínicas logo depois do Pan-americano tentando colocar o valor da preparação física, o quanto isso ajuda no jogo. Então, acho que mudou muito e mudou pra melhor. Agora, eu acho que não evoluiu tanto, hoje a questão é mais técnica, é preciso mudar alguns paradigmas que eu vejo que está um pouquinho exagerado, por exemplo, na década de 90, com o advento da musculação, com a popularidade da musculação, essa cultura foi levada também para o esporte. Eu acho que isso é foi coisa muito ruim porque, não que a musculação não seja boa, mas muitos esportes ainda acham que toda preparação só deve ser feita em função da musculação, o que tá errado. Então, hoje eu acho que é um paradigma que eu acho que precisa ser discutido, porque preparação física não é só fazer musculação, não é só trabalhar força, precisa de outros componentes também. Então, acredito que hoje está meio estagnado, está faltando melhorar e discutir o paradigma. Mas evoluiu bastante perto do que era naquela época e perto do que é hoje. Hoje tem preparação física, é parte importante, é aceitável e todo mundo sabe que precisa dela, mas agora tá precisando um pouquinho a mais de um processo pra torná-la um pouco mais eficiente.
SB – Você acredita que nossa seleção atual não chega em quadra ao potencial que ela tem no papel? Porque?
VB – Acho que falta preparação, falta treinamento, falta reunir o grupo e se preparar, porque qualidade os jogadores têm. São alguns jogando na NBA, vários jogando na Europa, não é possível que um time desse não tenha qualidade para ser um dos melhores do mundo. Agora, lamentavelmente, eu acho que não tem sido dado a atenção para uma preparação apropriada, não pode reunir os jogadores 15 dias antes de um campeonato mundial, antes de um pré-olímpico pra treinar, por que 15 dias, um mês que seja, é muito pouco, então acredito que o que falta hoje é essa capacidade de reunir o grupo. Talvez seja até impossibilidade, porque cada um joga em um lugar e são profissionais, mas se reunir esse grupo e treinar de maneira desejada não vejo como este grupo não possa estar entre os melhores do mundo. Falta é planejamento, treinamento e reunir o grupo pra treinar.
SB – Você é a favor da escolha de um técnico estrangeiro na seleção masculina?
VB – Olha… Eu não, eu sou muito nacionalista, eu acho que o Brasil tem técnicos capacitados, competentes, que podem dar conta do recado. Quando acontecem muitas desavenças, muitos desacordos, a presença de um estrangeiro eu vejo como útil, porque não está havendo um impedimento nacional para que possa ser gente daqui. Mas o Brasil até hoje teve sempre bons treinadores, de forma que acredito que ainda existam bons treinadores. Agora, às vezes é importante uma renovação, ou vindo gente de fora pra mudar um pouco essa característica, mas eu ainda acredito que o Brasil tem treinadores muito competentes pra poder fazer o mesmo trabalho. E, além do mais, conhecer os jogadores brasileiros como os treinadores brasileiros acho que ninguém conhece, mesmo os que jogam lá fora, os treinadores brasileiros conhecem muito bem esses jogadores, o que facilitaria bem o processo. E trabalhar também com brasileiro depende de cultura, a nossa cultura é diferente. Então, acho que isso favorece pra seleção que tenha um treinador nacional e não vindo do estrangeiro. Treinar uma equipe também envolve um aspecto cultural, e nem sempre um estrangeiro conhece bem a cultura nossa pra se dar bem. Tem muitos treinadores que não se dão bem aqui, depende muito da cultura nossa, que tem que ser bem conhecida. Mas eu sou favorável a usar um treinador nacional, porque eu acredito que aqui tem gente competente pra ser treinador da seleção.
SB – Você acredita na classificação da seleção masculina para as olimpíadas de Pequim?
VB – Não. Eu acredito no potencial, acho que essa seleção tem potencial pra ir para os Jogos Olímpicos, mas, de qualquer forma, se esse grupo não for preparado, se esse grupo não treinar com tempo suficiente, eu não acredito. Agora, é um grupo de potencial bom. Se fizer isso, eu acredito que pode se classificar.
SB – Nas últimas partidas da seleção, com os problemas de Nenê e Anderson Varejão, Tiago Splitter foi o titular do garrafão. Você conhece o jogo dele? Você acredita que ele pode dar certo na NBA?
VB – Ah, eu conheço, ele já tem experiência, jogou na Europa, eu acho que é um excelente jogador. O problema é que a seleção não teve oportunidade, talvez, de ter o tempo necessário pra treinar essas grandes estrelas, porque é preciso ter maior entrosamento entre eles, e isso é tempo de treino e tempo de treino junto, porque cada um joga em um clube, então eles não têm entrosamento. O Nenê joga no Denver, o Leandrinho joga no Phoenix, um outro joga em outro estado, outro joga na Europa, é diferente. Pra entrosar esse pessoal, tem que reuni-lo e treinar junto, fazer as jogadas junto e como eles não tiveram oportunidade de fazer isso. É a grande dificuldade que a seleção tem. Reúne-se com muito pouco tempo para esse entrosamento ficar bom. Mas, de todos esses aí, mesmo os que não são da NBA, eu acho que são excelentes jogadores. O Guilherme não está na NBA, ele joga na Europa, mas é um excelente jogador. Eu acho que daria muito certo pra qualquer um deles estar na NBA, como está dando certo para o Leandrinho, que é um craque, para o Nenê, que é um cara considerado pra caramba, o próprio Tiago, acho que ele vai se dar bem, acho que ele tem tudo para se dar bem, dependendo das chances que ele tiver de jogar na NBA e dependendo da equipe que ele for, mas eu acho que o próprio Alex, que está jogando na Europa, o Alex disputou aí agora a final do campeonato europeu, você imagina a experiência que esses caras têm. Agora, eles são jogadores jogando em um time que jogam de outra maneira, quando eles vêm pra seleção, eles tem que treinar da maneira que o treinador quer, e entrosar com esses caras que estão cada um em um lugar, alguns até se conhecem, mas não têm jogado mais juntos. Eu acho que o Brasil tem 12 jogadores que qualquer um poderia ir para a NBA e se dar bem, o problema é que eles não tão dando certo na seleção por falta de tempo de entrosamento, de treinamento, eu acho que é muito pouco tempo. Esse grupo tem se reunido com muito pouco tempo para treinar, e eu acho que seleção nenhuma, salvo raras exceções como os caras craques da NBA, que podem se reunir com duas semanas e são tão superiores aos demais que acaba com duas semanas ou três de treinamento dão certo, mas não é o caso nosso. Nós precisaríamos de mais tempo pra entrosar os jogadores, mas não duvido que os 12 jogadores da seleção teriam lugar pra jogar na NBA, nos vários clubes da NBA.
SB – Você acompanha a NBA atualmente? Qual a sua equipe preferida e o jogador?
VB 0 Olha, eu acompanho de uma maneira de acompanhar todos os jogos e ficar seguindo, mas os playoffs eu gosto de acompanhar, porque nos playoffs você tem chance de ver as equipes que são melhores classificadas, então aí tem jogo de alto nível. Eu to acompanhando os playoffs ai e vejo alguns jogos. Eu gosto de várias equipes, eu gosto muito das equipes tradicionais dos Estados Unidos, que já tem certa tradição no basquetebol. Eu gosto muito do Boston Celtics, porque tem tradição, embora tenha passado por um mal momento recentemente. Eu sempre gostei do Chicago Bulls, embora no momento também não tem a equipe que teve nos anos 90. Enfim, não tem uma equipe predileta, eu gosto de ver o bom jogo, eu gosto de ver aquele jogo de show, aquele jogo que é decidido no finzinho, que é bem disputado. Eu gosto de ver os grandes lances e os grandes jogadores. Eu gosto de ver o Lakers jogar, o Lakers sempre teve uma tradição de bom basquetebol, desde de épocas anteriores. No Lakers, antigamente, jogava um cara chamado Kareem Abdul-Jabbar, que foi um excelente jogador, um craque, depois Magic Jonhson, hoje tem um cara que eu adoro ver, o Kobe Bryant. Então, eu não tenho um time predileto, eu tenho jogadores que eu gosto de ver, os jogadores fantásticos, e eu gosto de assistir bons jogos, não importa muito quem ganha ou quem perde, eu não tenho um time que eu sou apaixonado, eu gosto de assistir o basquete de alto nível, com equipes que sejam bastante equilibradas, de ver bons jogadores.
Essa foi nossa primeira entrevista aqui no Spurs Brasil. Queria agradecer o Valdir Barbanti, que nos atendeu com muito carinho, contando um pouco de sua experiência como membro da comissão técnica da seleção, e gostaria de saber de vocês leitores o que acharam. Deixem suas dicas, sugestões ou críticas nos comentários. Sua participação é importante para sempre buscarmos o melhor.
Obrigado.
Do céu ao inferno

Hoje estréia a última das novas colunas do blog Spurs Brasil, que será chamada “Passando a limpo” e sairá todos os domingos escrita por mim, Victor Moraes (aliás, como eu estou estranho nessa foto da barrinha, vou providenciar outra urgente! hahahaha), e meus companheiros de blog Glauber da Rocha e Robson “Koba”. Ela terá como conteúdo os assuntos mais importantes da semana, com algumas estatísticas, para quem gosta de números, e também um pouco de história. Biografias, artigos especiais sobre jogadores e jogos inesquecíveis também sairão nessa coluna; então, não deixem de acompanhar.
O assunto desta semana no “Passando a limpo”, como não poderia deixar de ser, será a seleção masculina de basquete, os pedidos de dispensas e o pré-olímpico que se aproxima.
Hoje temos que lidar com a desorganização de nossa confederação e com jogadores sem espírito patriota, e não conseguimos ir a uma olimpíada desde 1996, em Atlanta. Mas se engana quem pensa que nosso basquete sempre foi assim. Se hoje somos insignificantes no cenário mundial, outrora fomos grandes potências, conquistando títulos e medalhas frente as poderosas seleções de EUA e da extinta URSS.
O primeiro grande feito de nossa seleção foi nos jogos olímpicos de 1948, em Londres. A 2ª guerra mundial havia terminado e o as olimpíadas estavam de volta. Naquele ano, conquistamos a medalha de bronze, ficando atrás apenas de França e do favorito absoluto EUA. O elenco brasileiro estava desfalcado e contava apenas com 10 jogadores, contra 14 dos adversários e, mesmo contra as adversidades, impomos uma forte defesa e saímos com o bronze no peito. Foi a primeira medalha do basquete brasileiro em olimpíadas. Foi o marco inicial para inúmeras conquistas.
Em 1959, outra conquista inesperada, mas dessa vez uma surpresa maior ainda. Conquistamos o nosso primeiro campeonato mundial, torneio disputado no Chile. Liderados por Wlamir Marques e Amaury Passos, principais jogadores da equipe, surpreendemos a todos perdendo apenas para a União Soviética, e superando inclusive os EUA. É verdade que um detalhe político fez a diferença para que no sagrássemos campeões. A URSS se recusou a enfrentar a China e ficou fora da decisão do título. Mas isso não tira os méritos de nossos atletas que realizaram façanha inédita.
Jatyr e Algodão completavam a base dauela seleção ao lado de Wlamir e Amaury, mas a equipe também tinha um destaque fora de quadra, no banco de reservas: o técnico Togo Renan Soares, conhecido como Kanela, dava seus primeiros passos em uma trajetória de sucesso. Kanela se tornou o técnico mais vitorioso da história de nossa seleção. Logo em seguida, em 1960, nos Jogos Olímpicos de Roma, conquistamos outra medalha de bronze, mas o melhor ainda estaria por vir alguns anos depois.
Em 1963 a seleção repetiu a dose no mundial, dessa vez disputado aqui mesmo no Brasil. Sagramo-nos bi campeões mundiais. O Brasil passou por 12 adversários e saiu sem sofrer nenhuma derrota, vencendo inclusive adversários como Iugoslávia, URSS e EUA. Foi a consagração do esporte brasileiro, que colocou seu nome na galeria entre as principais equipes do mundo.
Nos jogos de 1964, em Tóquio veio mais uma medalha de bronze, e em 68, na Cidade do México um quarto lugar. Em Munique-72 a seleção entrou em um período de decadência com os principais jogadores se aposentando e ficou apenas em sétimo, e, em Montreal – 76 não conseguimos classificação.
Em 1980, voltamos aos jogos graças ao surgimento de uma nova geração liderada por Oscar Schimdt, que participou de de 5 olimpíadas (de 1980 até 1996) e se tornou o maior cestinha da história dos jogos, com 1093 pontos em 38 partidas, uma incrível média de 28,7 ppg. Infelizmente Oscar não conseguiu uma medalha olímpica; os melhores resultados foram três quintos lugares, em 1980, 1988 e 1992.
Mas, mesmo sem conseguir uma medalha olímpica, Oscar entrou para a história com uma conquista em outros jogos, os Pan-americanos. Em 1987, a competição foi disputada em Indianápolis – EUA, e Oscar, ao lado de Marcel, conseguiu uma medalha de ouro emocionante vencendo os donos da casa e favoritos ao título na final do torneio. A seleção americana jamais havia perdido um jogo de basquete em casa, e esta derrota mostrou aos americanos a força do basquete brasileiro.
Oscar se aposentou da seleção em 1996 após as olimpíadas, e desde então o basquete nacional nunca mais conseguiu grandes conquistas. Se quer conseguimos classificação para os Jogos Olímpicos após a saída do “Mão Santa”. E uma seleção que já foi potência do esporte, hoje tem que conviver com fracassos consecutivos.
Hoje o Brasil conta com inúmeros jogadores em times da Europa, e inclusive na Liga americana de basquete, a NBA, mas os fracassos recentes devem se repetir no Pré-olímpico que se aproxima. Pedidos de dispensas dos principais jogadores envergonham todo um país que já foi acostumado a grandes conquistas e hoje tem que agüentar desorganização, fracassos e a falta de patriotismo e de respeito à seleção de alguns jogadores.
Talvez nossos dirigentes e jogadores atuais precisem de uma aulinha de história do esporte para aprender a respeitar essa nação que já esteve entre as maiores do mundo e hoje é motivo de piada para os adversários.
