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Danny, enfim, verde
Quando se repete pelos quatro cantos do mundo o sucesso que o San Antonio Spurs teve no Draft desde que Gregg Popovich assumiu o cargo de treinador do time, minimiza-se, quase que de modo injusto, o talento que talvez seja o maior ponto forte da franquia no período: o desenvolvimento de jogadores. Basta olhar para o chamado Big Three: Tim Duncan colecionou um dos repertórios mais completos que já vi para um homem de garrafão, Manu Ginobili encontrou um meio de fazer sua genialidade causar impacto na NBA e Tony Parker, principalmente, deixou de ser um armador unilateral para se tornar um astro. Agora, para os torcedores mais novos da equipe, é possível notar a influência deste trabalho em uma peça fundamental da equipe: o ala-armador Danny Green.

Eis o nome e o número do homem (NBA/Getty Images)
Ao contrário do que muitos pensam, às vezes o desenvolvimento de um jogador não é um processo técnico. Claro que é mais fácil perceber o arremesso de três pontos de Kawhi Leonard e o lance livre de Tiago Splitter melhorando, mas não é só assim que a franquia pode ajudar seu atleta a crescer. Às vezes, a evolução precisa ser tática – como foi com Manu, que, apesar de manter o improviso como uma de suas maiores armas, o faz adaptado ao esquema de Pop. E, às vezes, a evolução tem de ser psicológica. Foi o caso de Green.
Para quem acompanha qualquer modalidade profissional, é óbvio ver a influência que a confiança pode ter sobre um atleta. É o caso de Usain Bolt passando a certeza de que vai ganhar antes das grandes finais e daquele centroavante que vive jejum de gols e que passa a perder oportunidades que não costuma desperdiçar. Caso se trate de um esporte coletivo, cabe à equipe dar condições e suporte para que seu jogador se sinta o mais confiante possível para desempenhar seu papel. E o Spurs parece ter feito bem isso com Green.
O ala-armador não parece reagir mal à frustração. Afinal de contas, não deve ter sido fácil ser dispensado por um Cleveland Cavaliers que acabara de perder LeBron James e que teve Anthony Parker, Alonzo Gee, Christian Eyenga e Manny Harris fazendo parte da rotação das alas na temporada 2010/2011. Nem ter sido dispensado pelo Spurs após o fim de seu primeiro contrato com a franquia texana, assinado pouco tempo antes dos playoffs de 2011.
Mas Green soube tirar forças da frustração. O jogador manteve-se aguardando uma oportunidade enquanto passou pelo Erie BayHawks e pelo Austin Toros na D-League, a liga de desenvolvimento da NBA, e, assim que surgiu a chance, assumiu a titularidade do Spurs quando Ginobili se machucou e James Anderson não deu conta de substituí-lo na temporada 2011/2012. Desde então, a posição 2 tem um dono na equipe texana.
O problema de Green foi lidar com a responsabilidade. Finalmente tendo um papel relevante em uma equipe, o ala-armador não aguentou o peso dos primeiros playoffs de sua carreira. Depois de converter 43,6% nos arremessos de três pontos ao longo da temporada 2011/2012, o jogador viu seu desempenho despencar no mata-mata, quando acertou “apenas” 34,5% dos tiros que tentou do perímetro. Na derrota por 4 a 2 para o Oklahoma City Thunder, na série final da Conferência Oeste, o índice foi ainda pior: 17,4%. Patético para um especialista.
Após detectar o problema, a comissão técnica do Spurs teve um ano para deixar o jogador mais pronto. E, sem dúvidas, a maior maturidade e a maior experiência de Green colaboraram. Hoje, o atleta é outro, com mais confiança para bater bola, comandar o pick-and-roll e arriscar infiltrações. Mas é em sua especialidade que a evolução fica clara: o camisa #4 teve aproveitamento de 42,9% nos arremessos de três pontos na temporada regular, 50,5% nos playoffs e assustadores 67,9% na série contra o Miami Heat, válida pela final da NBA.
Nos 14 jogos que fez nos playoffs na temporada passada, Green converteu um total de 20 bolas de três pontos. Neste ano, só nos quatro jogos contra o Heat pela série decisiva, ele já acertou 19. É bom olhar para o gráfico de arremessos do ala-armador em uma final de NBA e ver, enfim, o verde como cor predominante no perímetro:
Green teve de superar frustrações e desenvolver sua confiança antes de causar impacto em uma série decisiva. Agora, me arrisco a dizer que, se o Spurs levar o troféu, o ala-armador tem de entrar no debate sobre o MVP das finais. De dispensado por um Cavaliers em reconstrução a peça-chave de um campeão do Oeste, passando pelo rótulo de pipoqueiro. Mais um exemplo de sucesso da franquia texana ao desenvolver seus jogadores.
Amostra de sucesso
Como dito no resumo da vitória do San Antonio Spurs sobre o Miami Heat, no jogo 1 da final da NBA, uma das dúvidas criadas antes do início da série era sobre a defesa que a equipe texana faria em LeBron James. Será que o time deixaria o astro comandar o jogo sozinho e tentaria anular seus coadjuvantes ou será que toda a marcação teria como base o combate ao ala? A resposta foi a segunda opção. Confiando a Kawhi Leonard a dura missão de conter The King, o treinador Gregg Popovich montou um sistema todo baseado nas movimentações do craque da franquia da Flórida. E funcionou.

Duncan teve papel importante na defesa de LeBron (NBA/Getty Images)
Claro, LeBron é um gênio, um dos melhores jogadores do mundo, e, mesmo recebendo uma boa marcação, se destacou na partida ao deixar o jogo com um triplo-duplo: 18 pontos, 18 rebotes e dez assistências. A questão é que o camisa #6 teve dificuldades para produzir ofensivamente. Seus aproveitamentos de 43,8% nos tiros de quadra e 20% nas bolas de três pontos foram inferiores às suas médias nos playoffs: 25,7 pontos por partida, convertendo 51% dos arremessos de quadra e 37,3% do perímetro.
Os méritos de Kawhi para que isso acontecesse são inegáveis. Com a rara combinação de agilidade e força física, necessárias diante de um finalizador tão versátil como LeBron, o ala do Spurs conseguiu, na grande maioria das vezes, manter seu corpo entre o adversário e a cesta, dificultando o trabalho do astro do Heat. De acordo com o blog TrueHoop, The King acertou dois dos oito arremessos que tentou quando era combatido pelo segundanista da equipe de San Antonio, e cinco de oito quando era outro jogador que estava em sua frente. Incrível!
“Eu apenas estava tentando me manter perto dele e contestar todos os seus arremessos, apenas tentando não dar a ele cestas fáceis ou arremessos livres”, disse Leonard.
Mas o plano do Spurs esteve longe de parar por aí. As movimentações coletivas funcionaram com primazia no jogo 1. Os homens de garrafão do Spurs – especialmente Tim Duncan e Tiago Splitter – foram fundamentais para que LeBron não tivesse seus arremessos prediletos à disposição, especialmente aqueles próximos ao aro. Pop sabia que nenhum de seus pivôs tinha o atleticismo de Joakim Noah, do Chicago Bulls, e de Roy Hibbert, do Indiana Pacers, para contestar as tentativas de bandeja e enterradas do astro. Por isso, resolveu tirá-los do garrafão e levar o combate para o mais longe possível da cesta e, com uma dobra, forçar o atleta a desistir da cesta e ter de passar a bola. Deu certo.
Quando conseguiu levar a bola para o aro, LeBron mostrou porque é tão perigoso, acertando seis das oito bolas que tentou nesse tipo de bola. No entanto, somando todas as outras regiões da quadra, o craque só acertou mais um arremesso em oito – e foi de três pontos. Ou seja, o tiro de média distância foi completamente negado a ele. Veja no gráfico a seguir:
Além disso, LeBron tentou partir para os tiros de três pontos, que estão longe de ser sua especialidade. Cinco dos 16 arremessos do ala no jogo foram do perímetro – ou seja, cerca de 31,25% de suas tentativas. Somando todos os jogos dos playoffs deste ano, somente 67 das 298 bolas que o camisa #6 tentou foram do perímetro – pouco menos de 22,5%. O que mostra o bom trabalho feito pelo Spurs para combater suas infiltrações. Abaixo, veja o gráfico de arremessos completo de The King na pós-temporada.
Com tantas dobras em LeBron e com o alto QI de basquete do jogador, não era segredo para ninguém que ele iria encontrar arremessadores livres e bem posicionados – daí vieram suas dez assistências. Foi assim que Chris Bosh fez 13 pontos, acertando quatro dos sete tiros longos de dois pontos que tentou, e Norris Cole, Ray Allen e Mike Miller combinaram para cinco bolas de três em sete tentativas. Mas a aposta do Spurs em priorizar a marcação da principal ameaça do time adversário acabou funcionando.
Claro que o jogo 1 ainda é uma amostra pequena da série e que daqui para frente tudo pode mudar. LeBron tem recursos suficientes para causar estragos contra qualquer tipo de defesa, e o técnico Erik Spoelstra é inteligente o bastante para propor ajustes que podem ajudar seu jogador nessa missão. No entanto, só de ter de forçar esses ajustes, o Spurs já sai na frente na série. Resta saber eles serão suficientes para minar o excelente plano proposto por Pop.
O fator Haslem
Com todo respeito ao Indiana Pacers, mas acredito que o San Antonio Spurs enfrentará o Miami Heat na decisão da NBA. A equipe da Flórida abriu 3 a 2 na série, válida pela final da Conferência Leste, e só será eliminada se perder duas partidas consecutivas, o que não acontece há 62 jogos. Assim, imagino ver, a partir da próxima quinta-feira (6), a franquia texana tendo de encarar LeBron James, Dwyane Wade, Chris Bosh e companhia. Mas, por incrível que pareça, não é um desses três jogadores que me salta aos olhos a princípio. Me preocupa pensar como o time de Gregg Popovich lidará com a presença de Udonis Haslem.
Duncan x Haslem, duelo para observar de perto (D. Clarke Evans/NBAE/Getty)
Claro que o ala-pivô não é o principal jogador do Heat. Talvez não esteja nem entre os cinco melhores do elenco da franquia da Flórida. A questão é que, no encaixe entre os dois times, o camisa #40 pode ser um fator de desequilíbrio à defesa que imagino que Pop irá propor – assim como tem sido na série contra o Pacers. Eu explico a seguir.
Principalmente no perímetro, acho que o Spurs está bem servido para combater os astros do Heat no mano a mano. Danny Green evoluiu a ponto de se tornar um defensor confiável o bastante para receber a missão de marcar Wade – principalmente com o ala-armador estando limitado por problemas no joelho direito. E Kawhi Leonard tem a rara combinação de agilidade e força física que o credencia à quase impossível tarefa de tentar limitar LeBron. Além disso, o Spurs deve contar com as excelentes rotações coletivas que ajudaram a conter Dwight Howard na série contra o Los Angeles Lakers, Stephen Curry no duelo contra o Golden State Warriors e, principalmente, Zach Randolph no confronto contra o Memphis Grizzlies.
Mesmo assim, de cara o Spurs terá de passar por ajustes. Isso porque Bosh, que, por ser o mais alto e pesado jogador do quinteto titular do Heat, teoricamente é o pivô da equipe da Flórida, tem jogado afastado da cesta, abusando de seus mortais arremessos de média e até de longa distância, que servem para tirar os homens de garrafão do adversário de perto do aro e, assim, abrir espaço para as infiltrações de LeBron e Wade. O gráfico de arremessos do ala-pivô ao longo da série contra o Pacers mostra isso*:
Perceba que, na final do Leste, foram 30 arremessos de média ou longa distância, contra 18 de dentro do garrafão. Com isso, Bosh passou a ser acompahado pelo big man mais ágil do adversário – foi assim como David West, do Pacers, designado para defendê-lo. Enquanto isso, Roy Hibbert era liberado para marcar Haslem, que teoricamente não é um fator ofensivo e que fica em quadra mais para fazer o trabalho sujo, como estabelecer corta-luzes e brigar por rebotes ofensivos. Assim, o pivô da equipe de Indianápolis podia se posicionar mais perto do aro para combater as investidas dos homens de perímetro do Heat.
Mas e se, de uma hora para a outra, Haslem também se tornasse um fator de desequilíbrio ofensivo? Foi o que aconteceu na série contra o Pacers. O ala-pivô do Heat passou a aproveitar-se da defesa de ajuda de Hibbert, que se posicionava próximo ao garrafão para proteger o aro, para começar a acertar suas bolas de média distância. Foi assim que o camisa #40 do time da Flórida anotou 17 pontos no jogo 3, 16 pontos no jogo 5 e, com aproveitamento de 66,7% nos arremessos de quadra na série, tem sido, talvez, o principal coadjuvante de LeBron no confronto. Repare, no gráfico abaixo, a eficiência do jogador nos tiros longos de dois pontos próximos à linha de fundo na final do Leste. São dez acertos em treze tentativas*:
As atuações de Haslem criaram um cobertor curto para a eficientíssima defesa do Pacers. Se fica livre, o ala-pivô acerta seus arremessos. Se atrai a marcação de Hibbert, o garrafão fica aberto para as infiltrações de LeBron e Wade. E se a ajuda para marcar o camisa #40 do Heat vem do perímetro, são os arremessadores Mario Chalmers, Ray Allen e Shane Battier que têm a chance de um tiro livre da linha dos três pontos. Como lidar?
A princípio, acredito que Pop utilizará estratégia semelhante à do Pacers. Tiago Splitter deve começar defendendo Bosh, mas essa função se tornará trabalho para Boris Diaw ou Matt Bonner ao longo das partidas. Enquanto isso, o brasileiro se revezará com Tim Duncan na proteção do garrafão, tendo a cobertura, e não a marcação de Haslem, como prioridade. E é aí que o ala-pivô do Heat pode desequilibrar a série.
Neste sábado, às 21h30 (de Brasília), o Heat visita o Pacers com chance de fechar a série e se classificar para enfrentar o Spurs na final, que começa na quinta-feira. Resta saber se a boa forma de Haslem nos arremessos vai durar até lá. Se isso acontecer, Pop terá de propor mais um de seus ajustes para dar um jeito de frear o ataque do Heat. Será possível?
* Agradecimento especial a Matheus Rodrigues pela ajuda com os gráficos
Obrigado, Duncan!
Nossa geração de torcedores do San Antonio Spurs é privilegiada. Assim como os torcedores do Chicago Bulls que puderam acompanhar Michael Jordan jogando e os do Boston Celtics que vira Larry Bird em quadra, estamos presenciando a carreira do maior jogador da história da nossa franquia predileta, Tim Duncan. No auge de seus 37 anos de idade, o ala-pivô ainda consegue ser um fator de impacto dos dois lados da quadra e desequilibrar uma série difícil como a contra o Memphis Grizzlies, válida pela final da Conferência Oeste e que terá seu jogo 3 neste sábado (25), Por isso, só nos resta admirar e agradecer.

Nem o adversário consegue resistir (Reprodução/sportige.com/)
Nesta temporada, Duncan foi escolhido para integrar o time ideal da NBA. Foi escalado como pivô em um quinteto que contava ainda com Chris Paul, Kobe Bryant, LeBron James e Kevin Durant. Olhando esses nomes, é possível se ter uma noção do tamanho do feito. E a realização é ainda maior justamente por conta dos 37 anos de idade do ala-pivô, que o tornam o segundo jogador mais velho da história a integrar a seleção. Só Kareem Abdul-Jabbar, indicado aos 38, o supera. É mole?
O currículo de Duncan é de fazer inveja a qualquer um. São quatro títulos da NBA acompanhados de três MVPs das finais e dois da temporada regular. Além disso, o ídolo do Spurs participou 14 vezes do All-Star Game, sendo eleito o jogador mais valioso do evento em 2000. Na sua coleção de realizações, ainda está o troféu de novato do ano em 1998, a indicação para a seleção de novatos daquele mesmo ano, dez figurações no time ideal da liga e oito no quinteto defensivo ideal. É difícil pensar que um outro atleta da franquia texana conseguirá algum dia algo parecido. Mas não para por aí.
Ao longo da temporada 2010/2011, Duncan deu claros sinais de decadência, principalmente física. As médias do big man naquela temporada foram de 13,4 pontos e 8,9 rebotes, as mais baixas de sua carreira, em 28,4 minutos por exibição. A partir daí, o camisa #21 percebeu que era necessário melhorar. O astro, então, decidiu mudar sua alimentação para aliviar o peso no claramente avariado joelho esquerdo. Deu certo.
Em um passe de mágica, Duncan começou a melhorar fisicamente ao invés de piorar mesmo passando da barreira dos 35 anos de idade. Neste campeonato, suas médias saltaram para 17,8 pontos e 9,9 rebotes em 30,1 minutos por partida, seus melhores números desde então. Alguém aí notou mais alguma coincidência entre as temporadas 2010/2011 e 2012/2013?
No ano em que Duncan deu sinais de decadência física, o Spurs enfrentou o Grizzlies na primeira rodada dos playoffs. Com seu principal defensor de garrafão limitado em mobilidade, sem conseguir acompanhar alas-pivôs mais ágeis, a missão de limitar Zach Randolph ficou a cargo de Antonio McDyess, Matt Bonner e DeJuan Blair. Não preciso lembrar vocês do tamanho do estrago, certo? Ainda dói olhar os números de Z-Bo naquela série: 21,5 pontos e 9,2 rebotes em cerca de 37,2 minutos por exibição.
Dessa vez, Duncan, mais saudável, é quem tem ido para o mano a mano com Randolph. E o resultado fica evidente: o ala-pivô do Grizzlies, que abusou de jogadores mais pesados como Serge Ibaka e Kendrick Perkins na série contra o Oklahoma City Thunder, tem tido dificuldade para produzir contra The Big Fundamental e apresentado médias de apenas 8,5 pontos em 37 minutos por partida.
Claro que o trabalho coletivo da defesa do Spurs e a maturidade de Tiago Splitter, hoje pronto para defender um pivô do calibre de Marc Gasol, ajudam. Mas o impacto de Duncan é inegável. Tanto que, no jogo 2, que terminou em vitória da equipe texana por 93 a 89, Z-Bo só deslanchou quando o ídolo do Spurs teve problemas com faltas – um risco que a equipe texana corre nessa série ao executar este plano.
Duncan é um ídolo, um mito, talvez o maior que o Spurs produzirá em toda a sua história. Nós, torcedores do time texano, temos de nos sentir orgulhosos por testemunhá-lo – principalmente nós, brasileiros, que vivemos na época em que a NBA tem a sua maior exposição no país. Para nós, resta agradecer e admirar. Quem sabe não sobra um espaço para comemorar?
Buraco, literalmente, mais embaixo
Agora, o foco será completamente outro. Depois de conseguir neutralizar o impressionante perímetro do Golden State Warriors e vencer o adversário por 4 a 2 pelas semifinais da Conferência Oeste, o San Antonio Spurs agora se prepara para enfrentar o Memphis Grizzlies na próxima etapa dos playoffs da NBA. Justamente o time que venceu a equipe texana na primeira rodada em 2011, em uma das eliminações mais traumáticas da história da franquia, graças, principalmente, à dupla formada por Zach Randolph e Marc Gasol. Por isso, a partir de domingo (19), os pivôs do time alvinegro, que foram coadjuvantes de sucesso na fase anterior, estarão sob os holofotes.

Splitter x Gasol e Randolph (Eric GayAP)
Antes de enfrentar o Spurs, o Warriors venceu o Denver Nuggets na primeira rodada dos playoffs graças a um ajuste simples promovido pelo técnico Mark Jackson. O time do Colorado tentou usar a solução que está no manual do basquete para frear um arremessador de perímetro: defenda-o com um adversário mais alto, de maior envergadura, e tire dele a visão da cesta. Andre Iguodala parecia ser o homem certo para limitar Stephen Curry. Mas aí entrou o dedo do treinador: nem bem chegava à quadra ofensiva, o armador já recebia um corta-luz. Enquanto saía do bloqueio e ia em direção à linha de três pontos, o astro tinha então três opções: arremessar, se livre; usar a velocidade para infiltrar, se a defesa reagiu ao início da jogada com uma troca; ou achar um homem livre em caso de dobra. E o mais novo xodó da NBA acabou sendo mortal executando todas as três.
A mesma tática não deu certo para o Spurs a princípio, quando Kawhi Leonard tentou defender Curry. Por ser o homem mais alto e de maior porte físico do perímetro do Spurs, o ala ficava constantemente preso nos bloqueios estabelecidos pelos pivôs do Warriors perto da metade da quadra. A resposta de Gregg Popovich, então, foi tirar seus pivôs do garrafão – por mais estranho que isso possa soar. Sempre que o armador do time de Oakland recebia um corta-luz alto, um big man tomava posição para contestar seu arremesso enquanto o defensor de perímetro do time texano se recuperava. Não era necessário acompanhar o grandalhão adversário, já que Andrew Bogut, Festus Ezeli, Carl Landry, David Lee e Andris Biedrins não são ameaças na linha dos três pontos.
Agora, no entanto, o buraco, literalmente, é mais embaixo. o Spurs precisará defender um time que concentra toda sua produção ofensiva no garrafão, nas mãos de Randolph e Gasol. Um novo plano de jogo defensivo terá de ser elaborado por Pop – provavelmente baseando-se nas atuações do Grizzlies contra o Oklahoma City Thunder, série que acabou 4 a 1 para a franquia de Memphis. E, assistindo às partidas do confronto, pude notar que o ataque da equipe costuma basear-se em um padrão.
O Grizzlies costuma começar seus ataques com Mike Conley centralizado, com Tony Allen e Tayshaun Prince bem abertos e com os dois pivôs na cabeça do garrafão, na formação conhecida como “horns” – na figura abaixo, é possível notar como, do armador aos alas, o desenho parece o de dois chifres.

Conley então passa pelo bloqueio de um dos pivôs, que, em seguida, corta em direção à cesta. Mas o armador costuma acionar o outro big man na cabeça. Geralmente esse homem é Gasol, que é um passador acima da média para sua posição, quem recebe a bola, enquanto Randolph tenta estabelecer uma boa posição no garrafão. Isto posto, dá a impressão que Tim Duncan, aquele que melhor consegue manter os adversários afastados do aro, é a melhor opção para defender o ala-pivô. Mas não é bem assim.
Contra outros jogadores pesados, como Serge Ibaka e Kendrick Perkins, Z-Bo usou e abusou dos arremessos de média distância e do ataque aos pivôs adversários nas infiltrações. Duncan já não é nenhum garoto para acompanhá-lo, e não há cenário mais perigoso nessa série para o Spurs do que ter seu melhor jogador de garrafão carregado por faltas.
Por isso, Pop deverá delegar a função a Tiago Splitter – justamente ele, que, em 2011, era a quinta opção no garrafão, atrás de Duncan, Antonio McDyess, Matt Bonner e DeJuan Blair. Se conseguir manter Z-Bo longe da cesta e se fizer com que o ala-pivô gaste mais energia do que o normal na defesa, o pivô será o responsável por fazer com que o Spurs comece a série em vantagem na questão dos duelos individuais e force Lionel Hollins, o bom técnico do Grizzlies, a fazer alguns ajustes em seu ataque. Resta saber se o brasileiro conseguirá ser a solução para o problema, que, dessa vez, é mais embaixo.







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