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Balanço positivo em Las Vegas
Mais do que o resultado, o mais importante para uma franquia de NBA na Summer League é o desenvolvimento e a observação de jogadores. Se o San Antonio Spurs ficou longe do título no primeiro ano em que a competição coroará um campeão, essas duas etapas foram cumpridas de maneira satisfatória. A diretoria e a comissão técnica do alvinegro texano vêem a equipe deixar Las Vegas provavelmente com boas ideias para um futuro próximo.

Udoka executou bem o plano do Spurs na Summer League (NBAE/Getty Images)
Isso passa, obviamente, pelos jogadores que já integram o plantel principal do Spurs. Para muitos torcedores do time, a prioridade para a offseason deveria ser a contratação de um pivô de presença física no garrafão, de preferência um bom defensor. Mas talvez esse jogador já estivesse no elenco. Estou falando de Aron Baynes, que deixa a Summer League com médias de 12 pontos, 10,5 rebotes e 1,3 tocos em 26,3 minutos por exibição – na minha opinião, suas atuações representam o que de melhor aconteceu para a franquia texana na competição.
Entre todos os jogadores que representaram o Spurs na Summer League, Baynes foi o que teve adversários mais duros pela frente. O australiano trombou com Bismack Biyombo na vitória sobre o Charlotte Bobcats, com Jonas Valanciunas na derrota para o Toronto Raptors e com Tyler Zeller no revés diante do Cleveland Cavaliers. Só não encarou um pivô com experiência como titular da NBA durante o triunfo sobre o Atlanta Hawks, quando encarou o brasileiro Lucas Bebê – escolha de primeira rodada do Draft deste ano.
Baynes é um pivô de presença física interior, carência do Spurs desde as saídas dos já veteranos Fabrício Oberto e Kurt Thomas, que não causaram muito impacto no time. Com boas atuações, o australiano se credencia a uma vaga na rotação da equipe no garrafão – que ficou mais concorrida com as renovações do brasileiro Tiago Splitter e do francês Boris Diaw e a contratação de Jeff Pendergraph. Tim Duncan e Matt Bonner completam o setor.
Além de Baynes, mais dois jogadores que já fazem parte do elenco principal do Spurs desde a última temporada participaram da Summer League: Cory Joseph e Nando De Colo. Eles disputam o pouco tempo de quadra que sobra na armação nos minutos de descanso de Tony Parker – a briga ainda conta com o australiano Patrick Mills, que recentemente renovou seu contrato com a franquia texana. E o canadense e o francês tiveram atuações irregulares em Las Vegas. Mas, ao contrário de Baynes, foram escalados por Ime Udoka, que foi o técnico da equipe na competição, fora da zona de conforto.
De todos os possíveis reservas de Parker, De Colo me parece ser o mais talentoso. É o que melhor pode atuar como armador puro, principalmente por seu talento nos passes e no comando do pick-and-roll. O problema é que os alas da segunda unidade na próxima temporada devem ser Manu Ginobili, que acaba de renovar seu contrato com o Spurs, e Marco Belinelli, principal contratação da franquia texana na offseason. E os dois também se destacam por terem os mesmos talentos que o francês.
Para desenvolver habilidades complementares e poder atuar ao lado de Ginobili e Belinelli enquanto o argentino e o italiano comandarem o ataque do time reserva, De Colo foi escalado como ala-armador por Udoka. Assim, teve de defender adversários mais altos e fortes e trabalhar como arremessador, colocando à prova dois de seus pontos fracos. E, entre boas e más atuações, deixou a Summer League com médias de 11,3 pontos, com apenas 22,2% no aproveitamento nos tiros de três pontos, e quatro assistências em 31,8 minutos por exibição.
Nos jogos em que Parker foi poupado, sem dúvidas De Colo é a melhor opção para assumir o lugar de armador titular do time. Mas, para jogar ao lado de Ginobili e Belinelli, acredito que a melhor opção seja Joseph. O canadense é sólido na defesa, principalmente quando tem de marcar armadores mais rápidos, e se movimenta melhor sem a bola, finalizando cada vez melhor perto da cesta em bandejas contestadas.
O problema é que, como armador puro, Joseph não é confiável. O canadense ainda terá de conviver com a eterna sombra de George Hill, que exercia a função de combo guard defensivo antes de sua chegada e que comandava o ataque muito melhor. A questão é que o hoje jogador do Indiana Pacers chegou à NBA pronto após passar quatro anos no basquete universitário, enquanto o atleta do Spurs passou apenas um e, sem dúvidas, era muito mais cru quando chegou à liga. Assusta ver que Hill é SEIS anos mais velho do que Joseph.
Por isso, para evoluir, Joseph foi usado por Udoka como comandante do show. Também alternou boas e más atuações e deixou a Summer League com médias de 10,3 pontos e, mais importante, 4,5 assistências em 28,3 minutos por exibição.
Claro que observar os prospectos também foi importante, mas para um futuro mais distante. DeShaun Thomas começou bem, com 17 pontos por exibição nos três primeiros jogos, mas caiu nas partidas finais e a média despencou para 12,4. Marcus Denmon, por outro lado, foi crescendo ao longo da competição, acertou 38,5% de seus tiros de três pontos e fez 10,3 pontos por jogo. E Ryan Richards, quando eu estava pronto para desistir dele, se destacou e mostrou ter talento, ainda que bruto, na vitória sobre o Milwaukee Bucks.
Mas os três ainda parecem imaturos e devem passar a próxima temporada na Europa. Enquanto isso, o Spurs terá Baynes batalhando no garrafão, De Colo tentando se encaixar ao lado de Ginobili e Belinelli e Joseph buscando melhorar como armador principal. Por isso, é possível dizer que o saldo da Summer League foi positivo para o time texano.
Amostra empolgante
A noite de sexta-feira (12) foi especial para um dos titulares do San Antonio Spurs durante a vitória por 69 a 68 sobre o Charlotte Bobcats, em jogo válido pela Summer League de Las Vegas. O jovem DeShaun Thomas, que foi selecionado pela franquia texana na 58ª escolha do Draft deste ano, fez sua estreia no esporte profissional após passar três anos atuando no basquete universitário americano. E respondeu bem: o ala, de 21 anos de idade e 2,01m de altura, foi escalado na posição 4 e anotou 18 pontos (7-13 FG, 2-4 3 PT, 2-2 FT), três rebotes e duas roubadas de bola em 32:49 minutos. Entre os defeitos e as virtudes que exibiu em sua primeira experiência de NBA, o atleta mostrou que pode ter sido outro achado do alvinegro.
Em relatório feito pelo DraftExpress, meu site predileto sobre prospectos, antes do recrutamento de calouros, foram apontadas algumas ressalvas em relação ao jogo de Thomas: as principais em relação à defesa e à capacidade de pegar rebotes. E, de, fato, nestes dois aspectos, o ala tem muito o que aprender antes de poder atuar em alto nível na NBA.
De certo modo, o adversário ajudou um pouco. O jogo marcou também a estreia profissional de Cody Zeller, ala-pivô de 20 anos de idade e que foi a quarta escolha do Draft deste ano. O novo jogador do Bobcats também gosta de atuar afastado da cesta, mas, ao contrário de Thomas, tem um biotipo típico de um homem de garrafão, mais pesado, até, do que o do atleta do Spurs. Além disso, a aposta do time de Charlotte não teve uma grande exibição, deixando a quadra com apenas oito pontos (4-9 FG) e cinco rebotes em pouco menos de 30 minutos. Mesmo assim, algumas deficiências do prospecto do time de San Anonio ficaram evidentes.
Thomas jogou no garrafão, mas, mesmo atuando quase 33 minutos, coletou somente três rebotes. Cheguei a ficar animado quando, no primeiro tempo, após lance livre errado pelo Bobcats, o jogador executou com precisão o box out e manteve Zeller, que é 12 cm mais alto e 9 kg mais pesado, afastado da bola para coletar o ressalto. No entanto, a falta de talento do ala do Spurs no fundamento foi ficando cada vez mais evidente – no segundo quarto, por exemplo, ele cedeu uma segunda chance para o adversário ao se posicionar mal após um arremesso que pegou no aro e permitiu que o ala-pivô de Charlotte recuperasse a redonda.
Ficou claro que, apesar de ser escalado por Ime Udoka, técnico do Spurs na Summer League, na posição quatro, Thomas não possui o cacoete de um jogador de garrafão na hora de se posicionar para o rebote. Dos três ressaltos que coletou, o único em que atacou a bola com vontade, como manda o manual da função, aconteceu no terceiro período.
Na defesa, Thomas fez um bom trabalho mantendo um jogador mais alto e mais forte afastado da cesta – ainda que, é bem verdade, Zeller não tenha feito muita questão de se posicionar perto do garrafão. As deficiências do prospecto do Spurs, no entanto, ficaram claras quando sua velocidade foi exigida – especialmente na defesa do pick-and-roll. Quando precisou fechar a porta dos armadores do Bobcats que chamaram a jogada e, em seguida, se recuperar para contestar o arremesso do homem que estava marcando, foi lento demais. Cedeu uma cesta de três pontos para Patrick Ewing Jr. no primeiro quarto e deu sorte ao ver a quarta escolha do último Draft errar dois arremessos no segundo período.
As deficiências de Thomas ficaram ainda mais expostas nos segundos finais da partida e poderiam ter custado a vitória ao Spurs. Quando restavam 1:46 minutos para o fim do jogo, com o time texano vencendo por 65 a 64, o ala caiu na finta de Zeller, que fingiu que ia arremessar, e permitiu a infiltração do jogador do Bobcats, que, por sorte, acabou cometendo falta de ataque ao encontrar outro marcador. Posteriormente, com o alvinegro de San Antonio na frente por 67 a 65, um rebote caiu nas mãos do prospecto, que, pouco atento, permitiu que a nova aposta da franquia de Charlotte desse um tapão na bola e quase a roubasse.
Se nos rebotes e na defesa Thomas ainda tem muito o que aprender, no ataque ele mostrou porque pode ter sido um achado para o Spurs. Com precisão e eficiência – foram 18 pontos em 13 arremessos -, o ala empolgou e, mesmo após um começo ruim, mostrou que pode ser aproveitado imediatamente por um time de NBA.
Thomas errou os três primeiros arremessos que tentou no jogo. No primeiro, recebeu a bola perto da linha de fundo, pela esquerda, após reposição de bola, e, em movimento, tentou um tiro de média distância. Depois, pelo outro lado, se posicionou perto do garrafão, de costas para a cesta, e tentou, sem sucesso, um post move. O ala ainda perderia a chance de converter, da cabeça do garrafão, um spot up – lance em que o jogador recebe a bola, já posicionado para o tiro, e apenas o executa, sem sair do lugar.
Mesmo com o começo ruim, Thomas teve personalidade para continuar arremessando e, ainda no primeiro período, conseguiu pontuar. O ala enfim saiu do zero após estabelecer um bloqueio e, em seguida, se movimentar em direção à direita da cabeça do garrafão para receber a bola. Com ela em mãos, driblou para o lado e converteu. Ainda no quarto inicial, o jogador conseguiu um buzzer beater com um spot up longo de dois pontos pela direita.
Com o bom fim de primeiro quarto, Thomas ganhou moral e pegou fogo. No segundo período, o ala recebeu a bola pela direita, perto da linha de fundo, fintou Zeller, infiltrou e cavou falta, convertendo seus dois lances livres. Depois disso, converteu um spot up de três centralizado.
Antes do intervalo, Thomas ainda levou um toco, após receber a bola na cabeça do garrafão e tentar uma infiltração pela esquerda, e andou em uma tentativa de post move após ser acionado de costas para a cesta, perto do garrafão, pelo mesmo lado.
Na volta dos vestiários, Thomas foi mantendo um ritmo interessante. No terceiro período, começou convertendo um spot up de três pela direita, e, em seguida, errou um arremesso do mesmo tipo. Depois, recebeu a bola do lado direito da cabeça do garrafão, conseguiu boa finta sobre Zeller e partiu para uma bela bandeja, sem marcação. Com moral, tentou um spot up um pouco afastado da linha do perímetro ao receber a bola em transição, mas acabou errando.
No único tiro que tentou no quarto final, Thomas acertou um spot up da cabeça do garrafão.
A princípio, é possível notar que o Spurs pode aproveitar Thomas, de cara, como protagonista do pick-and-pop. Apesar de ter feito uma falta de ataque na jogada no terceiro quarto, o ala estabeleceu bons corta-luzes para Nando De Colo e Cory Joseph – inclusive quando estava com a bola na mão, em jogada parecida com a que Tim Duncan costuma fazer com Tony Parker – e sempre se posicionou bem para arremessar no perímetro. O prospecto se entendeu bem, principalmente, com o francês, de quem recebeu três assistências.
Além disso, ficou clara a preferência de Thomas pelo lado direito da quadra. Quando foi acionado por ali, o jogador acertou quatro dos seis arremessos que tentou e ainda cavou a falta que rendeu seus dois únicos lances livres na partida, também convertidos. Isso pode torná-lo uma boa peça complementar no elenco, já que dois dos três membros do Big Three se deram melhor pela esquerda ao longo da última temporada regular.
Veja, abaixo, o gráfico de arremessos de Tim Duncan:
A tendência foi a mesma com Manu Ginobili:
A exceção no trio foi Tony Parker:
Na previsão mais pessimista possível, Thomas pode se tornar um jogador unilateral, bom apenas no pick-and-pop e como arremessador. Nos spot ups, o prospecto do Spurs acertou quatro dos sete arremessos que tentou no jogo. Atrás da linha dos três pontos, converteu dois de quatro nessa jogada. Em outras palavras, pode se tornar algo parecido com Matt Bonner, mas mais barato – vale lembrar que o Red Rocket vai receber pouco mais de US$ 3,9 milhões na próxima temporada, sua última de contrato com a franquia texana.
Mas, sendo bem mais otimista, Thomas pode incorporar alguns talentos de Boris Diaw em seu desenvolvimento. O prospecto deixou claro que também arrisca alguns post moves, ao contrário de Bonner, e também demonstrou algum potencial nos passes – fez um bom trabalho, no perímetro, reagindo às rotações defensivas e dando um passe extra para encontrar um arremessador melhor posicionado, e também tentou um passe ousado da cabeça do garrafão para Aron Baynes, que estava embaixo da cesta – o lance acabou não dando certo.
Além disso, o ala-pivô francês também é lento, mas consegue defender até jogadores mais rápidos de perímetro – como fez com LeBron James durante a final contra o Miami Heat – por saber se posicionar e fazer bom uso do corpo. Algo que Thomas pode aprender.
Hoje, o elenco do Spurs tem 14 atletas – um a menos do que o máximo permitido pela NBA. Se Gary Neal não renovar, Thomas parece ser, entre os prospectos, aquele que tem mais chances de emplacar um contrato – Marcus Denmon e Ryan Richards, que também estão na Summer League, estão em um estágio atrasado de maturidade em relação ao ala. De qualquer modo, tomando como base na pequena amostra de uma partida, a franquia parece ter encontrado outro jogador que pode colaborar – mesmo que não imediatamente.
Pivôs custam caro
Confesso que, a princípio, me surpreendi com a notícia de que o San Antonio Spurs renovou com Tiago Splitter por quatro anos e um total de US$ 36 milhões – ou seja, provavelmente US$ 9 milhões por temporada. Não achava que a franquia texana estaria disposta a investir um valor tão alto no brasileiro, que, apesar de ter virado titular no último campeonato, perdeu espaço ao longo da final contra o Miami Heat. No entanto, olhando para a folha salarial da equipe alvinegra, é possível afirmar: o novo vínculo do pivô não vai sair tão caro assim.

Splitter em ação na final contra o Heat (NBAE/Getty)
Na próxima temporada, Tim Duncan vai receber US$ 10.361.446,00 do Spurs. Se Splitter de fato dividiu os US$ 36 milhões igualmente, sem aumentos ou decréscimos salariais no período, a franquia texana gastará US$ 19.361.446,00 em sua dupla titular de garrafão. Quantia que pode ser considerada pequena em uma liga com pivôs supervalorizados. Quer uma prova?
Nos playoffs de 2012, o Spurs estreou contra o Los Angeles Lakers, da badalada dupla Pau Gasol e Dwight Howard, que recebeu US$ 38.261.200,00 na temporada passada. O Golden State Warriors, mesmo tendo no perímetro seu ponto forte, pagou seus maiores ordenados para David Lee e Andrew Bogut, que, juntos, ganharam US$ 25.894.000,00 da franquia. Os outrora temidos Zach Randolph e Marc Gasol, do Memphis Grizzlies, combinaram para US$ 30.391.359,00 em rendimentos. Todos duetos mais caros do que o campeão da Conferência Oeste! E até mesmo o Miami Heat, que joga sem pivôs de ofício, pagou US$ 21.605.000,00 para Udonis Haslem e Chris Bosh.
Se Boris Diaw, Matt Bonner e Aron Baynes forem adicionados na conta, o Spurs deverá gastar um total de US$ 28.797.838,00 com toda a sua rotação de garrafão na próxima temporada. Valor mais barato do que Lakers e Grizzlies pagaram só para suas duplas titulares!
Além do acerto com Splitter, a principal movimentação do Spurs no mercado foi a renovação do contrato de Manu Ginobili. O argentino assinou com a franquia texana até o fim da temporada 2014/2015, mesmo prazo em que Duncan continuará vinculado ao alvinegro de San Antonio. Com isso, pode-se concluir que o time ainda tem pela frente dois anos para tentar um último título com seus dois astros. E, nesse contexto, manter o brasileiro foi importantíssimo.
Todos sabem que o sistema do técnico Gregg Popovich é rígido e que jogadores demoram para se adaptar a ele. Perder Splitter significaria ter de encontrar um substituto e submetê-lo ao processo de aprendizado – ou seja, consumir um tempo precioso dos prováveis últimos anos das carreiras de Ginobili e Duncan. Além disso, entre defeitos e virtudes, o brasileiro possui uma qualidade que, se não o torna o jogador dos sonhos dos torcedores, o faz ser um pivô adequado às necessidades do Spurs: a execução no pick-and-roll.
A grande maioria das jogadas do time texano começa com Tony Parker, na primeira unidade, e Manu Ginobili, na segunda, chamando um bloqueio. Se os astros não conseguem espaço para um arremesso ou uma infiltração, podem acionar o pivô, que, após estabelecer o corta-luz, corre em direção à cesta. Neste fundamento, Splitter pode ser considerado um dos mais eficientes da NBA. Basta ver que o brasileiro recebeu uma parcela considerável das assistências do francês na última temporada, no gráfico disponível no site HotShot Charts:
A participação de Splitter nas assistências de Manu é ainda mais significativa:
Um possível desenrolar do pick-and-roll é o pivô receber a bola e, com seu marcador batido, receber a ajuda de um defensor que estava combatendo o perímetro. E o que torna Splitter tão eficiente é sua habilidade de cortar em direção à cesta, finalizar próximo ao aro e, se preciso, encontrar um arremessador livre com um bom passe. Em outras palavras: o brasileiro é eficiente em toda a construção e em todas as possibilidades da jogada. Em seu gráfico de assistências, fica claro como a maioria delas acontece de dentro para fora do garrafão.
Com as renovações de Splitter e Manu e a chegada de Marco Belinelli, o Spurs parece estar perto de fechar seu elenco para a temporada 2013/2014. Por já estar acima do teto salarial, a franquia texana, como também estourou o limite no campeonato anterior, só poderia usar a mini-MLE para contratar. Esse valor é de US$ 3 milhões, e possivelmente parte dele foi usado no acerto com o italiano. Restaria à equipe de San Antonio apelar às exceções. Uma delas é o contrato de novatos. Com isso, o time alvinegro poderia se reforçar com Marcus Denmon, Adam Hanga, Davis Bertans, DeShaun Thomas, Livio Jean-Charles, Viktor Sanikidzke, Erazem Lorbek, Ryan Richards e/ou Robertas Javtokas, prospectos ligados ao clube.
Outra exceção que o Spurs pode usar para se reforçar é o contrato mínimo de veteranos. Porém, de todos os possíveis reforços especulados para a franquia texana, acredito que somente John Lucas III, Anthony Morrow e Dorell Wright aceitariam assinar pelo valor. Entre os três, o único que considero útil é o ala, de quem sou fã declarado desde 2012. Seria uma ótima opção para a reserva de Kawhi Leonard, última vaga aberta no elenco.
Com Splitter, o Spurs traz de volta seu pivô titular, usado para vencer, nos playoffs, alguma das duplas de garrafão mais baladas da NBA. O brasileiro saiu caro? Talvez. Mas a folha salarial da franquia texana continua barata, com um elenco que esteve a um dedo de se tornar campeão na temporada passada. Apesar de todos os rumores, a diretoria do time de San Antonio mostra que sua aposta é a continuidade do plantel. Parece justo.
Draft de apostas, não de certezas
Circulava entre especialistas a opinião de que o Draft de 2013 da NBA estava longe de ser aquele com a maior gama de talentos da história. E o San Antonio Spurs, com seu elenco vice-campeão da liga, cheio de opções em praticamente todas as posições, tinha escolhas baixas nas duas rodadas: a 28ª na primeira e a 58ª na segunda. Por isso, a franquia texana resolveu investir em apostas. Ao selecionar os alas Livio Jean-Charles e DeShaun Thomas, a equipe pode não assinar com nenhum dos dois para a próxima temporada e deixá-los se desenvolvendo na Europa enquanto poupa espaço salarial. Me parece uma boa opção.

Jean-Charles é mais uma aposta do Spurs (Reprodução/lnb.fr)
Desde antes do Draft, estava claro que a intenção do Spurs era recrutar Jean-Charles, ala de 2,04 de altura e apenas 19 anos de idade. O francês, na última temporada, vestiu a camisa do ASVEL, clube de seu país que tem o armador Tony Parker, astro da franquia texana, como um de seus acionistas, e apresentou médias de 3,3 pontos (54% FG, 42,9% 3 PT, 58,8% FT) e 2,7 rebotes em 13,8 minutos por exibição no campeonato nacional.
Não se deixe enganar pelas médias modestas de Jean-Charles no Campeonato Francês. O ala acaba de fazer sua segunda temporada no basquete profissional, e, naturalmente, ainda sofre um pouco na transição e tem pouco espaço na rotação do ASVEL. No entanto, é possível notar que ele é um prospecto que vem tendo um desenvolvimento para lá de satisfatório. Em 2012, o atleta teve médias de 8,8 pontos (46,1% FG, 35,7% 3 PT, 82,4%) e 6,8 rebotes em 25,2 minutos por exibição pela seleção sub-20 de seu país, que sagrou-se vice-campeã europeia – perdeu a final para a Lituânia. Neste ano, nos dois primeiros jogos que fez pelo Turgut Atakol Tournament, campeonato da mesma categoria, esses números já subiram para 12 pontos (36,8% FG, 57,1% 3 PT, 100% FT) e 6,5 rebotes em cerca de 27,7 minutos por partida.
Além disso, neste ano, Jean-Charles se destacou no dia 20 de abril, em Portland, no Nike Hoop Summit, jogo amistoso que reúne um time de prospectos americanos e um com jogadores internacionais e que já contou com Derrick Rose, Kevin Durant, Kevin Garnett, Tony Parker e Dirk Nowitzki, entre outros. O ala brilhou com 27 pontos e 13 rebotes, foi o cestinha da partida e levou o prêmio de melhor em quadra. Confira, abaixo, um vídeo feito pelo DraftExpress com lances do francês e com uma entrevista do atleta feita durante o evento.
O próprio DraftExpress, meu site preferido sobre prospectos, fez um relatório sobre a participação de Jean-Charles no Nike Hoop Summit. No texto, o ala é visto como um jogador com potencial para se estabelecer na NBA graças à sua versatilidade – já que ele pode atuar nas posições 3 e 4 -, sua boa movimentação sem a bola, sua velocidade nos contra-ataques, o bom uso de sua envergadura e a intensidade com que joga dos dois lados da quadra. O jogador se destacou no ataque pontuando após rebotes ofensivos e como o homem que estabelece no bloqueio para o pick-and-roll, e na defesa combatendo infiltrações no mano-a-mano e contestando arremessos perto do aro na cobertura.
Como pontos fracos do ala, o DraftExpress aponta a força física, principalmente se ele tiver de defender jogadores da posição 4 na NBA, e a falta de um tiro confiável de três pontos. Mas esse é o menor dos problemas. Vale lembrar que Kawhi Leonard teve aproveitamento de 29,1% nas bolas de longa distância em sua última temporada no basquete universitário e, em seus dois primeiros anos com a equipe texana, esse número já saltou para 37,5%. Tudo graças à competência de Chip Engelland, assistente técnico especialista em arremessos.
É possível notar que a carreira de Jean-Charles está avançando. Mas o francês, talvez, ainda não esteja pronto para a NBA. Pode ser bom negócio para o Spurs esperar o ala estabelecer-se na rotação do ASVEL e adquirir mais experiência entre os profissionais antes de trazê-lo.
Junto com Jean-Charles, o Spurs selecionou DeShaun Thomas. O ala, de 2,01m de altura e 21 anos de idade, acaba de concluir sua terceira temporada no basquete universitário, atuando pelo Ohio State Buckeyes e apresentando médias de 19,8 pontos (44,5% FG, 34,4% 3 PT, 83,4% FT) e 5,9 rebotes em 35,4 minutos por exibição. O jogador chamou a atenção no Draft Combine, evento que reuniu prospectos entre os dias 15 e 19 de maio em Chicago, e foi entrevistado por membros da franquia texana. A parte curiosa da história é que ele se negou a dar seu telefone para os representantes da equipe de San Antonio.
De acordo com o DraftExpress, Thomas, assim como Jean-Charles, também pode atuar nas posições 3 e 4. O americano, no entanto, se destaca por sua eficiência ofensiva. No basquete universitário, o atleta anotou, em média, 1,02 pontos por posse de bola, uma das melhores marcas de todos os prospectos inscritos no Draft, e cometeu turnovers em apenas 7,7% das jogadas em que participou na última temporada. Por outro lado, a agilidade do jogador é apontada como ponto fraco, principalmente se ele tiver de defender alas na NBA.
Mesmo parecendo um pontuador pronto para atuar no nível da NBA, é de se esperar que o Spurs mande Thomas para se desenvolver por pelo menos uma temporada no basquete europeu. Isso porque, de acordo com reportagem do site americano Project Spurs, a franquia texana gostaria de ter selecionado James Southerland, que chegou a treinar em San Antonio antes do Draft, na 58ª escolha. Porém, ao saber que passaria um ano atuando no Velho Continente, o atleta e seu agente recusaram a possibilidade.
O perfil de jogadores que o Spurs buscou no Draft parece bem claro. Além de selecionar possíveis reservas para Kawhi Leonard, única vaga em aberto que o elenco tem atualmente, a franquia texana recrutou atletas que possam atuar como falsos alas-pivôs, transitando pelo perímetro, mas que mesmo assim não deixem a desejar nos rebotes. Foi assim com Jean-Charles, foi assim com Thomas, seria assim com Southerland e, em 2011, foi assim com Davis Bertans, que segue se desenvolvendo na Europa antes de se mudar para o San Antonio. Os diretores parecem atentos às novas tendências da liga, já que as equipes utilizam cada vez menos jogadores clássicos de garrafão – vide o campeão Miami Heat.
A aposta de manter Jean-Charles e Thomas na Europa poderia casar com a aposentadoria de Tim Duncan. Os dois ficariam um ano na Europa, viriam para a temporada 2014/2015 para aprenderem e jogarem pouco em sua temporada de novato, seguindo a cartilha do treinador Gregg Popovich e, depois disso, com o possível fim da carreira do ala-pivô, seriam personagens de um time mais veloz e moderno, com pouco uso de jogadores de garrafão. Uma nova identidade para a equipe texana pode estar mais perto após o Draft de 2013.
Limitado como nunca antes
Mesmo para quem torce para o San Antonio Spurs, é preciso admitir que o jogador mais midiático das finais era LeBron James. Assim, ao longo da série decisiva, ganhou espaço na imprensa internacional o bom trabalho que a equipe texana estava fazendo para limitar as infiltrações do ala do Miami Heat. Isso porque é natural que estrelas desse porte sejam pressionadas para que consigam, noite após noite, exibições sobre-humanas, especialmente no ataque – o que, obviamente, nem sempre é possível. Mas, em meio a altos e baixos de The King, algo decisivo passou despercebido: a excelente defesa que a franquia da Flórida, agora tricampeã da NBA, fez sobre Tony Parker.

Parker sempre teve de encarar marcação dupla (NBAE/Getty)
O armador francês acaba de fazer seu melhor campeonato com a camisa do Spurs. Com médias de 20,3 pontos, 7,6 assistências e três rebotes por exibição, Parker se tornou o principal jogador do time texano. Por isso, obviamente, quem quisesse vencer a equipe teria de limitá-lo. E o Heat obteve sucesso na missão com tanto sucesso que chega a ser assustador.
Com o camisa #9 assumindo o papel de protagonista do alvinegro texano, o Spurs passou a utilizar, mais do que nunca, o pick-and-roll como base de seu sistema ofensivo. Isso porque, ao sair de um corta-luz, o francês pode atacar a cesta, finalizando perto do aro, ou partir para um de seus igualmente mortais arremessos de média distância dos lados da cabeça do garrafão, especialmente pela esquerda. O gráfico de arremessos do atleta ao longo da temporada regular mostra essa tendência:
No entanto, diante do Heat, Parker encontrou uma defesa que tinha os ingredientes certos para limitá-lo. Isso porque Erik Spoelstra e a diretoria da franquia fazem um trabalho cada vez melhor em cercar LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh com bons coadjuvantes – especialmente na defesa. Dentro do trio, o ala-armador é forte o bastante para não passar vergonha marcando pivôs, enquanto o ala-pivô tem agilidade rara para homens de seu tamanho para combater jogadores de perímetro. A versatilidade das estrelas na marcação acabou pautando a identidade desse plantel, que tem, no elenco de apoio, Mario Chalmers, Shane Battier e Udonis Haslem, que também carregam essa virtude.
Para conter o pick-and-roll e limitar Parker, o Heat decidiu então abusar da versatilidade de seu elenco, especialmente a velocidade. Toda a vez em que o francês chamava o bloqueio, tanto seu defensor quando o defensor do pivô atacavam o armador, tirando-o a possibilidade de infiltrar facilmente ou arremessar livre de média distância. Além disso, com a dobra, o passe para dentro do garrafão também fica mais difícil. É possível notar a estratégia defensiva com mais clareza no vídeo abaixo, com um lance dessas finais:
Claro, Parker é um jogador acima da média e, às vezes, conseguia finalizar perto do aro em algumas ocasiões mesmo assim. Em outras, conseguia encontrar o pivô que fez o corta-luz – especialmente Tim Duncan – que, com o desenrolar da jogada, acabava ficando livre após o bloqueio. E é aí que o Heat usava sua versatilidade defensiva: os outros três homens que não estavam dobrando no armador francês se apressavam rapidamente para combater The Big Fundamental no garrafão e evitar uma cesta fácil. E, com uma velocidade impressionante, a equipe da Flórida conseguia rodar rapidamente o bastante para não deixar ninguém livre no perímetro. Uma verdadeira aula de defesa coletiva.
Observando o gráfico de arremessos de Parker ao longo da série contra o Heat e comparando-o ao da temporada regular, exibido acima, é impressionante notar como o arremesso de média distância – aquele, que o armador francês tenta ao sair do bloqueio – foi completamente negado pela equipe de Miami na série final da NBA:
O mesmo Parker, que teve média de 20,3 pontos por jogo na temporada regular, tentando quase 15,1 arremessos por jogo e convertendo 52,2% deles, anotou “apenas” 15,7 pontos por exibição na série contra o Heat, tentando 14,6 tiros e acertando 41,2%, mesmo com sua média de minutos subindo de 32,9 para 35,2 por jogo.
Assim como o Spurs fez, o Heat baseou sua defesa na arma mais perigosa do adversário. No entanto, me parece claro que Parker, um craque, não é do mesmo nível de LeBron, que tem absolutamente todas as ferramentas que um jogador de basquete pode ter. E vale lembrar que, mesmo com a defesa cerrada, o armador francês ainda conseguiu converter bolas importantes, especialmente no jogo 1 e no jogo 6. Uma pena que não foi o bastante…











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