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Review da temporada 2023/2024 – O futuro

Por Matheus Gonzaga, do Bandeja de 3*

Próximos Passos

O futuro do Spurs a longo prazo é muito indefinido. Wembanyama é espetacular, e tudo gira em torno dele e de seu progresso – no fim das contas, sua contínua evolução é mais importante que qualquer outra coisa citada nesse texto. Vassell é uma certeza de um bom titular (e acho que nada mais). No mais, não vejo mais nenhuma certeza positiva.

Mesmo pensando no time para o próximo ano, não há tantas coisas estabelecidas – Sochan ainda é uma grande aposta da franquia e vai ter um papel importante. Zach Collins será o big reserva. Tre Jones terá um papel relevante na armação, seja como titular ou reserva. O resto todo para mim é muito duvidoso.

Keldon Johnson caiu muito de status, e uma troca dele não me surpreenderia em nada. Champagnie foi titular, mas não seria surpresa alguma se em 2024/2025 estivesse fora da rotação. Osman é free agent. Wesley e Branham definitivamente não são certezas de estarem em planos relevantes do Spurs.

Há muita margem para mudanças, especialmente se considerarmos as escolhas de draft que San Antonio tem (nesse ano e nos próximos) e a relativa flexibilidade salarial da franquia. Por isso, vamos explorar algumas possibilidades para a offseason e pensar a construção da franquia para os próximos anos. Mas antes disso, é importante pensar em quais características e perfis de jogadores fazem sentido para o próximo “grande time” do Spurs.

Primeiramente, é preciso um armador para ser uma peça central do time – alguém confiável para ser um parceiro de pick and roll de Wemby e que seja capaz de criar arremessos para si e para os companheiros em geral. Hoje em dia, é crucial que um armador tenha um arremesso de 3 ao menos razoável. Eu priorizaria também a capacidade de jogar sem bola, visto que Wembanyama cada vez mais irá ter a bola na mão, além de uma boa capacidade defensiva.

Na realidade, eu priorizaria a defesa em todas as posições. Para mim, a melhor forma de otimizar um grande talento defensivo (especialmente um pivô) é colocar outros grandes defensores ao seu redor, criando uma defesa forte em todas as facetas, que possa de fato ser uma unidade de elite. Em geral, tentativas de utilizar um grande defensor como “muleta” e cercá-lo de defensores limitados defensivamente causa dores de cabeça em playoffs e minimiza seu impacto (vide o Utah Jazz com Rudy Gobert).

Além disso, o Spurs precisa de arremessadores. A bola de 3 é crucial atualmente – não só pelo impacto de acertá-las em si, mas também por facilitar penetrações e cestas no garrafão. Colocar arremessadores ao redor de Victor é importantíssimo para maximizar seu desempenho ofensivo.

Acredito que o Spurs precise de uma peça central na ala, para ser um titular, e priorizaria muito esse molde 3&D. Além disso, é preciso ao menos um guard para o banco, e idealmente um outro ala para a segunda unidade (mas nesse ponto acho menos relevante – uma renovação de Osman, o próprio Champagnie ou Keldon Johnson cobrem esse papel de modo ok). Resumidamente, para mim, as peças a serem contratadas para a próxima temporada são, na minha ordem de prioridade:

  1. Ala 3 and D de nivel titular

  2. Armador titular a longo prazo capaz de jogar sem bola

  3. Guard 3 and D para o banco

Trocas

Nomes de estrelas têm sido bastante ventilados em San Antonio. É claro que um grande nome que chamasse as atenções das defesas adversárias e trouxesse mais espaço para Victor ajudaria (muito) o time do Texas, mas eu teria um pé atrás – apressar-se demais e tomar uma decisão abrupta para melhorar o time imediatamente pode ter consequências ruins e dificultar a montagem de um time realmente forte a longo prazo.

A maioria dos nomes ventilados são armadores, tanto por ser a posição com maior disponibilidade de talentos (supostamente) disponíveis para trocas, quanto por ser a posição que mais poderia facilitar o jogo de Wemby. Aqui, vou discorrer sobre alguns nomes que foram especulados, como penso o encaixe deles em San Antonio e quanto imagino que custariam em termos de ativos.

Trae Young: É o maior nome especulado, e é o jogador mais especulado. Trae é um jogador de ataque heliocêntrico, que concentra tudo em si, e produz em escala gigantesca – seja pontuando ou criando para os demais. Sua capacidade de converter arremessos difíceis é excelente, e ele dá um ótimo piso ofensivo para uma equipe – acho muito dificil o Spurs terminar a próxima temporada abaixo da média ofensiva da liga caso essa troca ocorra. Entretanto, ele não é um grande finalizador no aro, não se mostrou disposto a jogar sem bola e tem problemas defensivos gravíssimos.

Trae melhoraria muito o time hoje, mas não acho o encaixe ideal a longo prazo por conta de sua falta de defesa e habilidade off ball. E considerando o provável preço – acho impossível que ele saia por menos que uma das firsts desse ano e a devolução de todas as escolhas e o swap adquirido de Atlanta, além de Keldon Johnson (com chances ainda de ser necessário envolver Jeremy Sochan na negociação), não seria um dos meus alvos favoritos.

Dejounte Murray: Honestamente, acho uma retroca por Dejounte é melhor que ir atrás de Trae. O ex-lider é melhor defensivamente (apesar de não ser mais o grande defensor do começo da carreira) e é mais adequado para jogar sem bola, apesar de ser um jogador pior que Trae em todos demais quesitos. Dejounte também deve sair mais barato: imagino que devolver as duas picks de Atlanta (+ Keldon provavelmente) vá ser o bastante para fechar negócio, mas talvez um pacote diferente possa ser proposto (hipoteticamente, a pick 8, uma das escolhas do Hawks e Keldon). Acho uma opção mais interessante.

Darius Garland: Garland foi um All Star no leste dois anos atrás, mas está em baixa. Caso San Antonio acredite que ele possa voltar a ser o jogador que chegou a ser em 2021/2022, faz bastante sentido o adquirir. Darius é um bom chutador, capaz de jogar com e sem bola, apesar de ter dificuldades finalizando no aro e limitações defensivas. É uma versão pior de Trae Young, mas mais barato e que consegue jogar sem bola. Talvez um pacote envolvendo Keldon, a pick 8 e uma first um pouco pior (como a do Bulls) seja o bastante para o adquirir. Neste preço, acho uma boa aposta.

Brandon Ingram: Indo para a ala, Ingram é outro ex-All Star em baixa. Trata-se de um chutador mediano que cria bem arremessos para si na meia distância e pontua em volume alto. Entretanto, não é um grande defensor, nem um pontuador especialmente eficiente. É o tipo de jogador difícil de encaixar em um time bom e que vai exigir uma renovação cara. Não me agrada muito, e deve custar ao menos duas firsts.

Lauri Markkanen: Acho muito difícil que seja trocado, mas é meu nome favorito. Possivelmente o melhor pontuador off-ball da NBA, um arremessador letal e um bom finalizador, Lauri é um encaixe incrível ao lado de Wembanyama a longo prazo, pensando no francês como uma força ofensiva primária. Deve custar ao menos 4 escolhas de primeira rodada, e talvez Utah ainda peça mais alguma peça relevante. Não acho que seja o momento de o Spurs pagar um preço tão alto, mas para os mais apressados, acho que, para uma tentativa de vencer em prazo mais curto, seria o melhor nome.

No geral, eu não acho imperativo que San Antonio vá atrás de um nome tão grande agora na offseason, a menos que apareça uma oportunidade boa. Claro que é importante construir um bom time para Wembanyama, que já é um grande jogador, mas não acredito que trazer uma estrela seja necessário para ser minimamente competitivo no próximo ano.

Free Agency

Eu acredito que conseguir bons role players seja o bastante para o time ao menos brigar por play in na próxima temporada (pense em uma temporada semelhante à do Houston Rockets esse ano), o que já seria um bom passo.

Para um ala titular, não há uma alternativa tanto de longo prazo (OG Anunoby deve renovar com o Knicks, mas, caso não renove, seria uma opção, e eu iria atrás muito agressivamente). Para melhorar o time atualmente, vejo Klay Thompson como uma alternativa (ajudaria muito com a bola de 3), ou alguém como Kentavious Caldwell-Pope, e nomes de perfil menor como Royce O’Neale ou Kyle Anderson já ajudariam. Caleb Martin também é uma possível opção.

Para armador, também não vejo nenhum jogador disponível com potencial para ser uma peça central, mas nomes como Tyus Jones, Monte Morris ou Markelle Fultz podem melhorar o time a curto prazo, seja como titulares ou reservas de Tre Jones. Vale destacar o nome de Immanuel Quickley, que poderia ser mais interessante a longo prazo, mas é um free agent restrito e deve renovar com Toronto.

Pensando em um guard para compor a rotação, nomes como Evan Fournier, Gary Harris, De’Anthony Melton ou Gary Trent Jr. podem ser interessantes.

No geral, a ideia para a free agency é trazer ao menos um (idealmente 2 ou 3) veteranos que se encaixem nesse perfil citado.

Draft

Ainda que este draft seja considerado fraco, opções de jogadores que se tornarão boas peças de rotação/titulares sempre estão disponíveis. E é bem provável que o Spurs consiga ao menos um jogador desse nível por possuir duas escolhas no top 10 do recrutamento. Não gosto da ideia de trade up, especialmente para um time tão carente de talento como é San Antonio, e ainda mais em uma classe sem um grande talento óbvio – ter mais dardos para lançar é bem melhor. Por mim, o ideal seria de fato selecionar jogadores nas escolhas 4 e 8 (exceto, é claro, em caso de troca por um jogador veterano, como discutido anteriormente). Pensando em jogadores nessa range e especificamente naqueles com características e perfis que se encaixem nas necessidades do time, destacaria os seguintes jogadores:

Zaccarie Risacher: Ala francês bom chutador e defensor. É um tanto cru e há dúvidas sobre seu teto (e sobre de quão alto nível é seu chute e defesa – talvez seja apenas bom, nada espetacular), mas certamente comporia bem a ala do time. É uma pick segura, mas provavelmente não vai estar disponível na quarta escolha.

Reed Sheppard: Chutador de elite, guard que joga sem bola (e talvez com algum upside com ela), alto QI de basquete e defensor esforçado (mas muito limitado pela altura e falta de envergadura). Talvez seja minha pick favorita. No pior dos casos é uma excelente opção de guard reserva desde o dia 1. Talvez não esteja disponível na Pick 4.

Stephen Castle: Guard/Wing, joga com e sem bola, mas tem uma red flag bem relevante no arremesso (é bem ruim hoje, e existe chance relevante de nunca ser bom). Excelente defensor e alto QI de jogo. Tem muita cara de pick do Spurs, por ter todas as características que o Brian Wright valoriza. É uma opção de armador a longo prazo, ou pode ser uma opção de ala. Não resolve muitos problemas no curto prazo, mas apresenta upside interessante. Não acharia uma pick ruim.

Rob Dillingham: Armador baixo, grande criador de arremesso, passador decente e bom arremessador. O problema é que é um péssimo defensor. Não me agrada muito – apesar de possuir algum upside, acredito que traria muitos problemas defensivos, e acho o piso consideravelmente baixo. Porém, poderia ser uma resposta de armador a longo prazo.

Nikola Topic: Armador alto, excelente passador, bom QI de jogo, e bom finalizador no aro. Existem dúvidas sobre capacidade de arremesso e questões sobre atleticismo. Seria minha opção favorita sem dúvidas, mas apresentou duas lesões no mesmo joelho na atual temporada, uma possível red flag de saúde. No geral, é uma opção de alto risco/recompensa que pode ser o armador de San Antonio a longo prazo.

Dalton Knetch: Ala excelente chutador e com alguns flashes de scorer on ball. Apresenta sérias questões defensivas. Já é mais velho e tem um upside mais baixo. É uma pick que não empolga, mas adicionaria um jogador seguro de rotação, algo que o Spurs precisa. Não seria uma das minhas escolhas favoritas, mas acho ok.

Além disso, neste draft existem vários alas com alto upside, mas com dúvidas relevantes. Eles apresentam características diferentes entre si, mas todos no geral são atléticos, com potencial defensivo e com questões no lado ofensivo da quadra, principalmente no arremesso. Eles são Ron Holland, Cody Williams, Tidjane Saluan e Matas Buzelis. Não sou grande fã de escolher nenhum deles, mas também não veria como uma péssima escolha.

Conclusão

San Antonio subiu o degrau mais difícil – conseguiu uma peça que certamente será o franchise player da franquia por muitos anos. Mas ainda faltam muitos degraus. A maioria dos jogadores desse time provavelmente não será parte do elenco quando o Spurs for de fato um time que irá brigar por título – falta conseguir muitas peças melhores para chegar até lá. O ponto positivo é que a franquia texana possui muitos ativos para tal – uma relativa flexibilidade salarial e escolhas de draft -, que podem ser interessantes para trocas ou para escolher jogadores em si.

Além disso, ainda não há motivo para pressa. Wembanyama tem um longo contrato e está sob controle da franquia pelos próximos 6 anos, no mínimo. Acho que essa deve ser a postura do Spurs – tentar construir o time gradualmente. No momento, trazer peças complementares que maximizem e facilitem o desenvolvimento de Victor enquanto adiciona jovens talentos via draft.

Caso apareça uma oportunidade de mercado interessante, de trazer um grande jogador por um preço justo, é claro que ela deve ser aproveitada. Mas não acho que o Spurs precise ser de fato agressivo ainda – ao longo dos próximos anos, a tendência é que apareçam vários bons jogadores querendo jogar com Wembanyama.

Sim, a minha avaliação da maioria dos jogadores do elenco atual foi negativa. Sim, o time hoje é muito ruim. Mas a projeção para o futuro do Spurs é extremamente positiva, não podemos deixar de ter isso em mente – simplesmente por termos um jogador como Wemby, as perspectivas para o futuro de San Antonio são melhores que as da maioria absoluta das equipes da liga. Se juntarmos isso com a armada de escolhas de draft, as expectativas são ainda melhores.

No fim das contas, o elenco atual ser ruim não é tão preocupante. Mesmo se no próximo ano, a performance não for tão boa, eu também não estaria tão preocupado assim. O curto prazo do Spurs é duvidoso, mas as perspectivas no futuro são excelentes.

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Parte 1 – Visão geral e Victor Wembanyama

Parte 2 – O elenco

Review da temporada 2023/2024 – Elenco

Por Matheus Gonzaga, do Bandeja de 3*

Devin Vassell

Devin Vassell definitivamente não é o problema do Spurs. Mas ele provavelmente também não é a solução. O ala se mostrou um jogador de nível titular na NBA, alguém que sem dúvida alguma pode ser parte relevante de times bons. Mas quão grande pode ser seu papel nesses times? E o quanto ele pode de fato ajudar um time a se tornar bom?

Vassell teve médias significativas – 19,5 pontos por jogo é bastante coisa (mesmo na NBA com explosão na pontuação), além de sólidas 4,1 assistências com menos de dois turnovers para um jogador que não é um lead guard. Até mesmo sua eficiência foi ok – o ala teve TS% na média da liga, o que é positivo para alguém que tenta arremessos consideravelmente difíceis (volume relativamente alto de arremessos do drible).

Falando mais dele como pontuador, Vassell em anos anteriores teve bastante dificuldades finalizando no aro (em 2022/2023, por exemplo, chutou apenas 61,5% perto da cesta). Porém, nesse ano se tornou muito mais eficiente nessa área, tendo tido aproveitamento de 71,4%, marca EXCEPCIONAL para um jogador de perímetro. Entretanto, seu volume ainda é baixo: são menos de três tentativas por jogo, o que é inclusive a maior deficiência no jogo ofensivo do ala.

Para um jogador ser um criador de nível realmente algo (alguém capaz de atuar com a bola na mão e que pontue com volume e eficiência altos), chegar com volume perto da cesta é um requisito obrigatório – exceto o caso de jump shooters de um patamar histórico, como Kevin Durant. Para ter essa capacidade de chegar ao aro como um ball handler, em geral, existem duas formas – atleticismo de elite e ball handling excelente. Devin não tem nenhum dos dois.

É notório que Vassell depende muito de jump shots criados para si para pontuar com a bola. Ele tem 2,4 tentativas na floater range (onde seu aproveitamento é de elite, 52,8% – outro ponto em que evoluiu muito), 3,6 na mid range (o que é uma das vinte maiores marcas da liga, e ele tem um aproveitamento de 41,6% – péssimo), e 2,4 arremessos de 3 do drible (acertando medíocres 33,2%).

Ainda que ele seja um bom finalizador perto da cesta, ele não tem volume muito grande lá e não é um jump shooter do drible bom o bastante para compensar isso. Porém, é mais uma questão para que ele seja capaz de ser um criador de nível All Star, é claro. Suas habilidades hoje são boas o bastante para que ele seja um bom criador secundário (ou terciário, idealmente). Vassell é um jogador de eficiência percentil 70% em pick and rolls e 60% em isolation – marcas que são boas, mas não o suficiente para uma força ofensiva central.

Outra questão (e bastante ligada a sua incapacidade de chegar no aro) é sua dificuldade em cavar faltas – bater apenas três lances livres é muito pouco para um jogador que arremessa mais de 15 vezes por jogo, o que prejudica bastante sua eficiência.

De fato, Devin se sai bem melhor como peça complementar no ataque – o ala é um jogador de percentil 86% finalizando na transição e chuta quase 40% de 3 do catch and shoot em volume não altíssimo, mas que também não é pouco. Além disso, o #24 chuta 37% de 3 com alguma contestação e 34,6% quando bem contestado – marcas bem altas e que mostram um jogador que é pouco sensível à marcação quando arremessa, uma característica bastante valiosa.

Os números de impacto concordam que Vassell é um jogador positivo, o que nesse time é bastante coisa – além de Devin e Wemby, só existe mais um jogador no Spurs que é considerado acima da média (Tre Jones – mais sobre ele em breve). Ele é colocado como um jogador percentil 84% no ataque (não uma estrela, mas um bom titular), e percentil 72% na defesa.

A defesa é um tópico polêmico sobre Vassell – o ala era considerado um excelente prospecto defensivo ao chegar na NBA, mas não alcançou ainda esse nível. Entretanto, ele é de fato um jogador positivo – não só no sentido de métricas de impacto, mas também ao vermos seus números de defesa de isolation e pick and roll (onde está acima do percentil 80%). Curiosamente, em defesa off ball (marcando spot ups, por exemplo) seus números são bem ruins, mas existe uma variância e aleatoriedade muito grande ao avaliar esses dados, de modo que é difícil usá-los para chegar em alguma conclusão.

Em geral, o Spurs não joga melhor nos minutos exclusivamente com Vassell em quadra. O Net Rating com e sem o ala é muito semelhante. Mas quando observamos a diferença nos minutos com Wemby e Vassell em quadra versus com Wemby e sem Vassell, há um padrão muito interessante: Nos minutos do francês sem o SG, o Spurs perde cada 100 posses de bola por quase 10 pontos. Quando Victor está em quadra ao lado de Vassell, o Spurs vence por 2 a cada 100 posses.

Isso apoia a teoria de que Devin não é alguém que torna um time bom por si só, mas é sem dúvidas alguém que, com criação secundária, bom arremesso de 3 e defesa acima da média, é capaz de elevar um time que já possua um jogador ofensivo principal. Caso Wemby se torne de fato tudo que tem mostrado potencial para ser, o #24 tem tudo para ajudar muito San Antonio nos próximos anos.

Jeremy Sochan

Jeremy Sochan tem potencial de ser um jogador relevante, isso é inegável. Não é fácil achar jogadores com real tamanho de forward, excelente atleticismo, versatilidade para marcar múltiplas posições, bom passe e capacidade de driblar. Ele é muito jovem e teve bons flashes. Dito isso, hoje ele ainda não é um bom jogador. E ele definitivamente NÃO É UM ARMADOR.

Não vou me estender muito sobre o experimento point Sochan, simplesmente porque eu detestei a ideia desde o começo e nunca enxerguei essa capacidade no FORWARD. Mesmo em 2022/2023, sua razão de assists para turnovers não foi lá grandes coisas, assim como seu volume passando a bola, e ele foi extremamente ineficiente conduzindo pick and rolls – para mim, nada sobre ele indicava potencial on ball. Existe uma diferença gigantesca entre ser um bom passador para um forward e ser um passador bom o bastante para ser um condutor de bola central (e isso sem falar nas outras habilidades necessárias para ser um bom armador). Nos minutos com Sochan em quadra e sem Tre Jones ou Blake Wesley, o Spurs teve ORTG de 103, uma marca que é TENEBROSA e muito abaixo mesmo dos piores ataques da NBA nos últimos anos.

É claro que esse experimento prejudicou seu desenvolvimento em outras facetas e fez com que seu jogo não tivesse sido otimizado no começo dessa temporada, algo que sem dúvidas afetou seus números. Vamos analisá-los.

A defesa é onde o polonês mais mostrou potencial – Sochan foi um defensor de isolação acima da média da liga (percentil 73%). Ainda que seus números sejam apenas medianos marcando pick and roll ou post up, o polonês conseguiu números decentes marcando nomes como Luka Doncic (56.5% de TS% cedido em 43 arremessos para Luka, além de oito turnovers forçados), Demar DeRozan, SGA, Anthony Edwards e DeAaron Fox – todos eles tiveram desempenho abaixo do seu normal marcados por Jeremy. De fato, ele tem muito potencial como um “stopper” para estrelas adversárias, um papel defensivo muito valioso (não é o único papel relevante, ou mesmo o mais importante para uma boa defesa, ao contrário do que vejo muita gente falando – porém isso é assunto tangente que não vem ao caso).

Métricas de impacto o colocam como um defensor levemente positivo – não é um jogador de grande impacto defensivo ainda. Trata-se mais de uma peça com upside, excelentes flashes e bons fundamentos específicos do que um defensor de elite no momento. Isso é completamente normal para um jogador em sua temporada de 20 anos e não é nem um pouco preocupante. Sochan tem tudo para ser um grande defensor por muitos anos.

Já o ataque…

Bom, eu já falei bastante do suposto point Sochan, e é claro que esse período prejudica suas métricas, mas não é só isso que me preocupa. Além de ser terrível on ball (está entre os piores 20% da liga em pick and roll, isolation e post up), ele não é um bom roll man (percentil 48%), não é um bom finalizador no aro (61% é TERRÍVEL para um jogador de sua altura – Tre Jones, com menos de 1m90, é um finalizador CONSIDERAVELMENTE melhor), não é exatamente um reboteiro ofensivo de destaque, não tem capacidade na floater range (37%, péssimo), nem é um bom arremessador, seja na mid range (27% de mid range chega a ser cômico, mas o volume também é baixo), ou de 3 pontos (31% above the break e 32% na zona morta. Mesmo quando totalmente sem marcação, o polonês chuta abaixo de 33%).

Ainda que o período point Sochan com certeza afete esses números, todos esses pontos fracos também estavam presentes no seu ano de novato, o que é preocupante. O teto de Jeremy sempre foi visto como um jogador que na defesa fosse capaz de ser um stopper e de marcar as 5 posições, o que acho possível, e que ofensivamente fosse um distribuidor no short roll/conector, também sendo capaz de finalizar na cesta e arremessar de 3 em nível decente, o que acho extremamente improvável. Para esse papel do short roll enquanto passador, ele até mostra algum potencial, mas nada nos números indica uma capacidade de Sochan finalizar na cesta ou arremessar bem de 3 – sem isso, mesmo seu impacto distribuindo o jogo é comprometido.

No geral, Sochan é um dos pontuadores menos eficientes da liga (considerando volume e eficiência) e um jogador ofensivo muito negativo (EPM de -2.1, marca no percentil 36%), o que o coloca como um jogador negativo no total. Hoje ele ainda seria alguém complicado de manter em quadra em playoffs, simplesmente porque ele não ameaça a defesa adversária de forma alguma e pode ser deixado completamente livre sem muitas consequências.

Caso ele não melhore como um jogador perto do garrafão, só vejo um caminho para ele ser uma peça de nível titular em um bom time: desenvolver um arremesso no mínimo decente da zona morta (pense no PJ Tucker em seu auge em Houston, ou mesmo Bruce Bowen no Spurs). Eram jogadores extremamente limitados no ataque, que não participavam muito de fato das ações ofensivas, mas dignos o bastante arremessando para serem ao menos marcados na linha de 3 (e puniam quem os deixasse livres) e agregavam muito valor na defesa. Apesar de sua forma nada ortodoxa, Jeremy é um batedor relativamente bom de lances livres (77%), então talvez consiga desenvolver uma bola de 3 digna (da zona morta, quando parado e livre) e se torne um bom titular para quando o Spurs for de fato uma equipe competitiva.

Essas comparações e esse papel podem não ser empolgantes, mas são importantes (e bastante necessários) para bons times – e eu de fato acho realista que Sochan se torne um desses jogadores. Sonhar com um jogador realmente two way, um all star, ou mesmo um atleta nível Aaron Gordon eu acho muito improvável (mas não impossível, ele acabou de completar 21 anos).

Não acho Sochan uma peça tão chave e de upside (realista!) tão alto assim como o jogador que Devin Vassell já é, por exemplo, mas ele está longe de ser um fracasso – ao que tudo indica, pode sim ser um jogador de impacto por muitos anos, caso siga no bom caminho defensivo e ache alguma forma de ser um jogador viável ofensivamente. E DESDE QUE NÃO SEJA USADO DE ARMADOR.

Tre Jones

Tre Jones é um jogador interessante. O armador é jovem e é um dos melhores jogadores do time (em termos de impacto em quadra, provavelmente o terceiro melhor), mas ainda assim não é enxergado como uma peça central para o futuro da franquia, especialmente pelos torcedores – e existem motivos para isso. Ainda que Jones tenha seus pontos fortes, é um jogador limitado e que não aparenta ter muita margem de evolução, principalmente por causa de sua altura e da falta de um arremesso eficiente.

A falta de qualidade de arremesso é especialmente grave para um armador, pois faz com que, naturalmente, ele tenha de passar mais tempo com a bola na mão – afinal, ele pode simplesmente ser deixado livre quando está sem a bola, o que compromete o ataque para os seus companheiros de time. Dar a bola para Tre implica em não permitir que outro jogador a conduza e crie as jogadas – no elenco atual do Spurs, dada a falta de criadores, isso não é um problema, mas Jones simplesmente não é bom o bastante para ser um criador principal de um time de alto nível.

Um armador como ele acaba sendo, dessa forma, confinado ao banco de reservas, onde de fato faz sentido que seja a melhor opção de criador de jogadas de uma (boa) equipe. A titularidade de Tre acaba, então, por ser algo temporário e sem muita margem para se tornar algo viável a longo prazo, e esse fator explica a necessidade vista por analistas, torcedores e pela própria franquia de fazer um upgrade na posição de PG.

Entretanto, eu não concordo com a visão de que a titularidade de Jones é um problema hoje e que seja algo que tem que ser resolvido urgentemente com soluções imediatas. Existem pontos de carências muito mais graves e que prejudicam muito mais o time no curto prazo (mais sobre isso na sequência da série).

Tre é um bom jogador, ainda que limitado – não é coincidência o Spurs ter melhorado desde que ele assumiu a titularidade, jogando ao longo de toda a temporada muito melhor com ele em quadra (claro, seu reserva ser Blake Wesley certamente ajuda nisso). O ataque de San Antonio teve ORTG de 113,7 nos minutos com Jones em quadra (seria o número 23 da liga), contra um ORTG de 106,9 em sua ausência (seria com sobras a pior marca da liga). Esses números resumem bem Tre – não é que ele transforme o ataque do Spurs em algo de fato bom, mas tudo é muito pior quando ele não está em quadra.

Há, além disso, um outro efeito a ser considerado – a presença de Victor Wembanyama. Nos minutos com a dupla em quadra, o desempenho ofensivo de San Antonio sobre para 115,4 (marca que seria um ataque mediano na liga). Se considerarmos apenas os minutos com Tre, Vassell e Wemby juntos, o número sobe um pouco mais, para 117, marca que é bastante sólida, ainda que não espetacular. Tre Jones é parte importante das melhores unidades do time atualmente, e isso se deve a alguns fatores.

O mais notório é sua capacidade de tomar boas decisões. Sua razão de 4,12 assistências por turnover é espetacular, uma das dez maiores marcas entre armadores na liga. Seu volume de mais de seis assistências por jogo também é considerável.

Além disso, nesta temporada Jones adicionou uma outra ferramenta relevante no seu arsenal – ele se tornou um ótimo finalizador no aro, algo nada usual pro seu tamanho. Jones chutou quase 70% no aro, marca semelhante à de vários pivôs. Ainda que seu volume não seja tão alto (são só três tentativas por jogo), é um aproveitamento muito alto, e mesmo seus números finalizando contestado são ótimos para um guard. Para sua usagem, ele apresenta uma boa capacidade de chegar ao aro – são três tentativas na área restrita, contra 1,9 na floater range.

Isso torna Jones em uma ameaça até razoável com a bola nas mãos – o armador foi percentil 78% da liga em eficiência pontuando a partir de pick and rolls, ainda que em um volume não tão alto assim.

Tre, porém, não foi bem pontuando na transição, onde ficou apenas no percentil 25% de eficiência. Além, é claro, de sua maior fraqueza – o arremesso. Jones evoluiu nesse aspecto, tendo aumentado sua eficiência de 3 pontos de 28,5% para 33,5%. Porém, além de essa marca ainda ser ruim, seu volume de tentativas é muito baixo, o que faz com que o jogador não seja uma ameaça real. Os únicos pontos encorajadores quanto a seu arremesso são o digno aproveitamento de catch & shoot (36,7%) e da zona morta (37,2%) – novamente, o volume é baixo demais para que seja algo com impacto real. Caso isso se mantenha com mais tentativas, isso pode torná-lo um jogador ao menos útil quando não está com a bola.

Defensivamente, é claro que ele é um alvo em defesa individual/on-ball – simplesmente por ser baixo e não possuir grande envergadura. Entretanto, Jones apresenta suas virtudes em defesa coletiva, especialmente por sua inteligência e disposição, sendo visto como um defensor positivo por métricas avançadas. Em uma situação de playoffs, talvez fosse mais difícil dar muitos minutos para Tre, já que ele é possível de ser caçado como mismatch. Por outro lado, em um contexto de temporada regular, ele está longe de ser um problema defensivo.

No geral, Jones é um jogador sólido, que melhora o Spurs ao estar em quadra. Ele não vai ser a solução para armador titular a longo prazo, mas, como band-aid, é bastante útil e não compromete o time. Em uma situação de time cheio de pontos fracos e questões sérias, sua titularidade não me preocupa. Claro, caso boas oportunidades apareçam para melhorar a posição (seja via draft, ou trazendo um veterano já pronto na FA ou por troca), elas devem ser aproveitadas, mas não existe toda essa urgência.

Keldon Johnson

Ao falar sobre os 4 jogadores anteriores, eu fui até bastante positivo – acredito que Wemby, Vassell, Sochan e Tre, cada um em seu nível e por seus motivos, são atletas que agregam valor real para o Spurs e têm capacidades ou potencial interessante. Daqui para a frente, o tom muda um pouco. San Antonio venceu 22 jogos e perdeu 60. Não é possível um time perder tanto e ganhar tão pouco com todo mundo cumprindo bem seu papel. Existem motivos para a franquia perder quase o triplo que ganhou, e esses motivos são incapacidades de jogadores (ou questões associadas à comissão técnica). Para mim, não faz sentido ser majoritariamente elogioso ao avaliar um time que, baseado em todos os números, foi péssimo. A conta simplesmente não fecha.

Os jogadores neste texto estão ordenados por quem eu acho mais importante para o Spurs no futuro. Hoje, eu não acho mais que Keldon seja uma peça tão relevante assim.

Sim, Johnson tem talento e habilidades interessantes, mas seu conjunto de características simplesmente não é um bom fit para a NBA atual. Em seu caso, vale começar pela defesa.

Seus números defensivos são consideravelmente negativos – seja em métricas de impacto, on-off (a defesa do Spurs nos minutos com Keldon é completamente vergonhosa), ou avaliando defesa de jogadas específicas (seja em ISO, pick and roll ou handoff, seus números são abaixo da média). Não é como se ele fosse um dos piores defensores da liga, mas é claramente abaixo da média no quesito.

Ofensivamente, seu papel é obtuso – Keldon não é um jogador on ball (apesar de que seus números comandando pick and roll são até interessantes, em seu volume limitado), não é um grande passador, e seus números finalizando no aro são bem ruins – seu aproveitamento é de apenas 60% na área restrita (apesar que sua facilidade de chegar até o aro é de fato impressionante e tem seu valor por si só). Além disso, o ala não tem touch algum na floater range (42%).

Para um jogador sem capacidade de ser um grande finalizador e que não é um atleta on ball em usagem significativa, resta o papel de ser um arremessador no ataque. E ainda que não seja um jogador irrelevante nesse sentido, Johnson não é exatamente um positivo nesse campo. Seu aproveitamento de 3 pontos é de 34,6%, número abaixo da média da liga, e ele é curiosamente pior da zona morta (31,6%) que fora dela (36,1%). Além disso, ele é tenebroso arremessando do drible (28% – basicamente nunca deveria tentar pull ups), enquanto tem um aproveitamento decente de catch and shoot (36%). Se filtrarmos apenas arremessos 100% sem marcação, seu aproveitamento é de 37%.

Keldinho não é um chutador ruim ou desprezível – ele é bom o bastante para ser marcado e impedir defesas de o ignorarem, o que tem seu valor. Porém, ele está longe de ter o volume ou aproveitamento altos o bastante para realmente acrescentar muito valor com seu arremesso – ele é basicamente um chutador nota 6.

Um chutador nota 6 consegue ficar em quadra sem atrapalhar o time no ataque, mesmo que não faça mais tanta coisa bem nesse lado da quadra. Porém, para que seja de fato um jogador valioso, alguém nesse perfil precisa ser um defensor ao menos positivo – e Johnson está longe disso. Hoje ele não é um titular de um bom time na NBA (e nem tem sido em um time ruim), é um ala reserva que consegue fazer um pouco com a bola nas mãos e não atrapalhar o espaçamento, enquanto compromete o time na defesa.

Talvez seja hora de negociar Keldon – por seu volume de pontos e momentos interessantes na carreira, ele parece ter algum valor no mercado. Não acredito que ele seja peça tão importante para o futuro do Spurs – seu perfil de jogador não é tão difícil de substituir.

Por outro lado, para que ele se torne mais importante, seria necessário que evoluísse em algum aspecto – seja se tornando um defensor ao menos decente, desenvolvendo um jogo on-ball (coisa que ele já apresentou alguns flashes), ou se tornando um chutador de realmente alto nível. Aí sim, veria ele como um titular de NBA.

Julian Champagnie

Apesar de todos os problemas de Keldon Johnson que acabei de citar, eu não consigo entender a ideia de Champagnie titular. Em minha visão, Champa é um jogador genérico de NBA, extremamente barato e fácil de encontrar um substituto do mesmo nível. Mas mesmo ele apresenta seus talentos.

Primeiramente, ele é um defensor (muito pouco) positivo – métricas de impacto o colocam (bem pouco) acima da média da liga na defesa, e seus números defendendo mano a mano são bons. Entretanto, os defendendo pick and roll são bem ruins. Em geral, colocá-lo em quadra não te prejudica na defesa, o que, considerando as outras peças do elenco, já é alguma coisa.

Ofensivamente, ele é um chutador genérico, tendo tido 36,5% de aproveitamento de 3 em volume relativamente baixo (mas decente para um jogador com papel ofensivo tão pequeno como o seu). Ele basicamente só chuta parado e do catch and shoot, tendo aproveitamento similar fora e dentro da zona morta. A maioria de seus chutes é completamente livre, nos quais converte 38%. O restante é com leve contestação, nos quais acerta 32,5%. Resumidamente, ele não compromete o espaçamento, e só – seu volume e números perto da cesta ou executando outras jogadas não são nada notórios).

No geral, é um jogador cuja maior qualidade é não atrapalhar o time. Dá para mantê-lo parado nas alas ou na zona morta sem prejudicar o espaçamento, e dá para mantê-lo em quadra na defesa sem prejudicar o desempenho. Mesmo para um time ruim, colocar um jogador assim de titular é demais. Porém, manter um atleta nesse perfil na rotação com uns 15 minutos não seria algo tão problemático para um time no estágio em que estamos. Idealmente, porém, trata-se de um 11º ou 12º jogador do elenco, que pode atuar em caso de lesões ou em partidas esporádicas. Julian não tira valor, mas também não traz – e para montar um time bom na NBA, isso não é o bastante.

Zach Collins

A temporada 2022/2023 de Zach Collins foi muito promissora, com o pivô mostrando capacidades interessantes – um arremesso de 3 bem eficiente para um big (37%, ainda que em volume bem baixo – 2,3 tentativas por partida), uma capacidade defensiva positiva e um excelente touch na floater range. Claro, não se projetava nenhuma ascensão ao estrelato, mas Collins parecia um big titular de nível razoável, recebendo uma extensão contratual em valor compatível com isso (34M/2 anos) – ainda que San Antonio tenha draftado Victor Wembanyama para ser o principal jogador do time.

A ideia era que Collins e Wemby fossem capazes de co-habitar a quadra, visto que ambos em teoria tem um arremesso razoável, que Victor é capaz de marcar perímetro e que o francês ainda não teria porte físico para ser um pivô principal.

Mas tudo deu errado.

Collins foi, em 2023/2024, um arremessador ruim (32% de 3 em volume semelhante ao da temporada anterior), e seu aproveitamento na floater range caiu de 52% para 46% (não é um número em si ruim, mas a queda é bem significativa), além de nunca ter sido um grande finalizador perto da cesta. Em termos de papel ofensivo, isso limita suas utilizações – sua falta de aproveitamento de 3 pontos dificulta que ele fique no perímetro, e sua incapacidade de finalização dificulta que seja usado no pick and roll. Desse modo, Zach tentou uma das 20 maiores taxas de post up da liga (ponderando por minutos jogados), mas sua eficiência não foi chamativa.

Defensivamente, a situação é ainda pior – Collins foi um ponto fraco gritante para o Spurs, estando no percentil 30% de defesa em EPM (consideravelmente negativo), sendo um péssimo defensor de pick and roll (percentil 16%!!!!) e sendo ruim protegendo o aro (63% de FG cedido para adversários no aro, marca bem abaixo da média).

Mas pior que isso tudo no vácuo é a consequente total incapacidade de jogar junto de Wembanyama. O Spurs jogando com o francês mas sem Zach teve net rating médio de -1, enquanto com os dois juntos a marca foi de -11,3. Nos dois lados da quadra, San Antonio cai muito quando Wembanyama está junto do americano, mas o impacto no ataque é especialmente notório. O ORTG do Spurs cai de 112,5 para 105 – este segundo número é completamente impraticável para um time da NBA em 2024. 100% inviável.

A decisão de tirar todos os minutos juntos da dupla foi completamente acertada. Não só pelas falhas de Collins, mas também porque ele dificulta que as forças de Wemby se manifestem – nos dois lados da quadra, o ideal é que o francês fique perto da cesta a maior quantidade de tempo possível, e Zach rouba esse espaço. Mas não é como se o americano tivesse tido também muito sucesso como big reserva – o net rating do time texano nesses minutos foi de terríveis -13 pontos por 100 posses.

Collins seria impossível de manter em quadra em uma série de playoffs, e hoje, mesmo na temporada regular, é um jogador negativo. Sua extensão de contrato se mostrou um erro considerável – não faz o menor sentido pagar 17M por ano por um jogador que é exclusivamente reserva do seu franchise player (entendo que a ideia no momento da assinatura era que os dois fossem jogar juntos, mas vendo em retrospecto, a decisão foi terrível). Infelizmente, imagino que o pivô não tenha valor no mercado de trocas, e não acho que ainda faça sentido trocá-lo por valor negativo. Resta torcer para que ele se recupere e mostre ser capaz de ao menos ser um reserva decente na próxima temporada, e aí tentar trocá-lo na offseason de 2025.

Cedi Osman

Cedi Osman é um jogador profissional de basquete. Isso é algo para esse time do Spurs com tantos atletas crus e projetos de qualidade duvidosa. Entretanto, ele não é um jogador de impacto para a NBA.

Osman é um chutador preciso em volume limitado (3,1 tentativas por jogo) e um passador decente para um ala – isso já faz com ele que ao menos acrescente algum valor, mas não é tanto valor assim se formos olhar a fundo.

Seu chute é extremamente preciso da zona morta (46%), mas o turco chuta apenas 35% fora dela, e a maioria absoluta de suas tentativas é parado e totalmente livre (nessa última modalidade, acerta 41%). Ainda que seus números sejam o suficiente para que ele traga espaçamento adequado, isso não traz tanto impacto assim (por conta do baixo volume).

Claro, um chutador confiável da zona morta tem seu valor na NBA, mas Cedi tem um problema sério – a defesa. Osman foi um defensor terrível em 2023/2024, estando no percentil 15% da liga em EPM defensivo, com o Spurs cedendo 121 de DRTG quando o ala está em quadra. E mesmo se filtrarmos minutos com Wemby em quadra (ou seja, não são os minutos que o turco joga com a tenebrosa segunda unidade de San Antonio), a defesa piora muito quando ele entra.

Isso inviabiliza que ele tenha um bom impacto em quadra e faz com que o ideal seja que o atleta tenha minutos limitados. É claro que, caso renove com o Spurs, ele tem utilidade – em uma equipe tão desprovida de talento, alguém que consiga arremessar em nível competente ajuda, mas eu não acho que ele vá ser um contribuinte relevante. Idealmente ele é um décimo jogador de rotação, ou, em um real contender, uma opção mais no fundo do banco. Mas ter Cedi como uma peça jogando 15 minutos por jogo está longe de ser um grave problema.

Malaki Branham

Eu não quero escrever sobre Malaki Branham. Todo mundo que acompanha o Bandeja de 3 ou minhas opiniões sobre o Spurs sabe que eu acho ele terrível, potencialmente o pior jogador da NBA. Então vou ser um pouco mais sucinto nos números em si do guard.

Branham, em métricas de impacto, foi o pior jogador não novato (com minutos relevantes) da liga. Está no percentil 26% ofensivamente (terrível e já indica um jogador de não rotação) e 3% defensivamente (indica um jogador que não devia estar na NBA). Malaki tem 52,6% de TS%, marca péssima atualmente, e acerta só 34% das bolas de 3 pontos (não é terrível, mas para um guard é bem negativo).

Ele tem bastante dificuldade de chegar no aro (tenta basicamente o mesmo tanto de arremessos na floater range que na área restrita). Seu aproveitamento na floater range e na mid range são péssimos, bem como seu aproveitamento do drible e conduzindo pick and roll. Além disso, não é um grande passador.

É díficil encontrar algo em que ele é bom e um papel para ele em qualquer time, mesmo desconsiderando a questão defensiva e falando só de ataque. Os únicos pontos positivos são seu aproveitamento decente de 3 da zona morta (38%) e quando totalmente livre (37%). Deixar ele simplesmente parado em um dos corners não atrapalha o time, mas também não ajuda de fato.

Obviamente, um jogador que não ajuda no ataque e traz gigantescos problemas defensivos tem impacto muito negativo no desempenho do time – nos minutos sem Malaki, o net rating do Spurs é -3,6 (ruim, mas respeitável – semelhante ao do Nets). Nos minutos com Branham, o número cai para -10,6 (nível Charlotte/Detroit). Claro que existem outros fatores nisso, mas Branham é parte relevante desse impacto.

Hoje, Malaki não tem nível de NBA, quanto mais de rotação – de verdade, acredito que não tenha muito upside ou projeção de melhora. Um guard horrível com a bola na mão e com questões tenebrosas na defesa não tem espaço. Só vejo ele sendo parte de um time minimamente decente se melhorar muito em alguma dessas duas coisas. Para mim, não existe a menor condição de Branham continuar na rotação ano que vem.

Blake Wesley

Não que Malaki Branham tenha sido promissor no ano de novato, mas Blake Wesley tinha sido ainda pior. Seus números chegavam a ser cômicos. Dito isso, ele evoluiu – não que fosse difícil.

Blake ainda é bem ruim, estando no percentil 18% de ataque (péssimo) e 35% de defesa (ruim, mas não terrível). O Spurs é muito pior com Wesley em quadra, e ele não apresenta nenhuma capacidade de chute de longa distância. Ele também foi consideravelmente abaixo da média conduzindo pick and rolls.

Entretanto, existem ao menos alguns sinais de upside quanto a Wesley. Além do seu ferramental físico e a demonstração de evolução (mesmo que ele continue sendo muito ruim, ele foi melhor que em 2022/2023), o guard demonstrou uma excelente facilidade de chegar até o aro (mais que O TRIPLO de tentativas perto da cesta que na floater range), e dessa vez teve um aproveitamento ao menos factível para um guard atacando o aro (59% não é bom, mas não é tenebroso como foram seus 44% em 2022/2023). Wesley é extremamente atlético e explosivo, mostrando isso em quadra. Vale destacar também que sua razão de 2,7 assists para 0,9 turnovers é surpreendentemente boa.

Não tem muito o que falar sobre Blake. Ele é um jogador ruim, sem arremesso e que atrapalha dos dois lados da quadra – mas ele ao menos tem uma facilidade muito interessante de chegar ao aro e não é um passador desprezível, o que, junto com sua idade, traz alguma esperança de que um dia ele vire um jogador decente de rotação. Eu não contaria com isso, e sem dúvida alguma traria uma outra opção de armador para o elenco para que Wesley não esteja na rotação inicial. Mas ainda acho que faz sentido mantê-lo como projeto de longo prazo, dando chances em casos de lesões ou supondo que ele se destaque em treinos.

Resumidamente: 99% bagre, mas aquele 1%…

Dominick Barlow

Dominick Barlow só está tão baixo no texto porque ele é um free agent e porque jogou pouco. Eu acho ele um jogador mais relevante que Blake, Malaki e Osman. Dom de fato é um jogador intrigante em alguns aspectos.

Para começar, o Spurs jogou bem com ele em quadra, o que não dá para dizer de nenhum outro reserva da equipe. Suas métricas de impacto o colocam como jogador percentil 44% – não empolga ninguém, mas nesse time é alguma coisa.

Além disso, teve bons números como roll man (percentil 70%) e na defesa de pick and roll. Por outro lado, seus números defendendo o aro são ruins (semelhantes aos de Collins), e sua finalização perto da cesta não é boa.

No geral, não tem nada muito especial sobre Barlow, e ele é um jogador bem comum e fácil de substituir – não seria nenhum problema caso não renovasse. Mas ao menos ele consegue ser um roll man digno e não ser um alvo grande na defesa, o que ajuda um pouco o time. Acho que vale apostar em um contrato barato, considerando que ele pode se tornar uma opção digna e de bom custo benefício para big reserva.

Outros Jogadores

  • Sandro Mamukelashvili teve alguns números interessantes, mas como praticamente só jogou durante a garbage season, não acho que queiram dizer muita coisa;

  • O mesmo pode-se dizer sobre Devonte Graham, que quase certamente será cortado na offseason e não deve estar nos planos da franquia;

  • Charles Bassey pode ser uma opção decente de big reserva, tendo mostrado algumas capacidades defensivas, mas tem dificuldades demais para ficar saudável;

  • Sidy Cissoko tem algum upside e qualidades defensivas, mas não jogou o bastante para ser de fato analisado;

  • Os jogadores Two Way mal jogaram, e quando jogaram não fizeram nada especial.

* O Bandeja de 3 é um grupo de produtores de conteúdo sobre basquete. Conheça no Twitter e no Instagram.

Parte 1 – Visão geral e Victor Wembanyama

Parte 3 – O Futuro

Review da temporada 2023/2024 – Visão geral e Victor Wembanyama

Por Matheus Gonzaga, do Bandeja de 3*

Parecer geral

O recorde do San Antonio Spurs na temporada 2023/2024 foi o mesmo da temporada 2022/2023 – 22 vitórias e 60 derrotas. Porém, o parecer ao fim dos 82 jogos não poderia ser mais diferente. Se no ano passado (ao menos até o dia da loteria do Draft) as ideias de conseguir um rumo bem definido para a franquia, ter um plano concreto para retornar à competitividade e encontrar um nome para ser o principal jogador do time eram ainda dúvidas, hoje isso tudo está resolvido – graças a Victor Wembanyama. Ainda que os resultados em quadra não tenham vindo de imediato, o mais difícil já está feito – encontramos um jogador fantástico capaz de trazer San Antonio de novo à briga na NBA.

Dito isso, existe uma infinidade de problemas a serem resolvidos: elenco fraco, falta de evolução de alguns jogadores, decisões técnicas questionáveis… É claro que existe um motivo para a franquia texana ter vencido apenas 22 partidas. Para além de Wemby, não há tanta coisa que realmente funcione bem na equipe ou muitos nomes confiáveis pensando no futuro do time. Nesta série, vamos discutir os principais aspectos do jogo do alvinegro e de cada um de seus jogadores, destacando seus pontos fortes e fracos e como podem se encaixar no futuro do Spurs. Ao fim, também trarei minha visão sobre o que podemos esperar do time no draft, na free agency e no mercado de trocas e quais movimentos acredito que façam ou não sentido para San Antonio.

O time

Apesar do mesmo recorde, em termos competitivos o Spurs de 2023/2024 foi bastante superior ao de 2022/2023. Se na temporada anterior tivemos um net rating (saldo de pontos por 100 posses) de -9,9 (pior da liga, com sobras), neste ano o número foi de -6.3 (“apenas” o sétimo pior). O motivo para essa melhora foi a evolução defensiva da equipe – deste lado da quadra, o desempenho subiu da pior marca da liga (120,9 DRTG) para a 21ª posição (116,7 DRTG). Ofensivamente, na realidade, a equipe piorou – o ORTG foi de 110,9 em 2022/2023 para 110,4 em 2023/2024. O motivo do mesmo recorde é o desempenho em jogos apertados – na temporada anterior, o time de Popovich venceu 11 dos 28 jogos decididos por cinco pontos ou menos (aproximadamente 40% de aproveitamento). Neste último ano, o recorde foi de 13 vitórias em 41 jogos “clutch” (30% de aproveitamento). San Antonio competiu até o fim em metade dos jogos da temporada, mas deixou a desejar nesses momentos.

Agora, vamos destrinchar os principais aspectos do jogo do Spurs em cada um dos lados da quadra:

O ataque

O ataque de San Antonio foi tenebroso em média, é claro. Mas sua qualidade não foi constante ao longo da temporada – houveram oscilações e tendências relevantes que o gráfico abaixo ajuda a entender:

A equipe se tornou muito melhor durante a temporada do que era no começo. E isso está muito relacionado às mudanças no time. Até meados de dezembro, Jeremy Sochan era o suposto armador do time, em um experimento que se provou desastroso. Daí para frente, a equipe foi melhorando e conseguindo resultados melhores com a mudança de Victor Wembanyama para a posição de pivô. De fevereiro para frente, porém, o ataque voltou a cair, mas muito longe de ser em um nível tão ruim como era no começo da temporada. 

O Spurs, no todo, foi tenebroso ofensivamente (26º ORTG) e em todos os quatro fatores ofensivos (eFG%, TOV%, ORB%, FTRate), estando entre as posições 23 e 26 da liga em cada um deles. Porém, se pegarmos os dados a partir de 4 de janeiro (quando o Tre Jones se tornou titular e Zach Collins já estava no banco), os números sobem para o 23º ORTG (111,8) com a 19ª eFG%, 15ª ORB% e 20ª FTR, marcas que ainda que ruins, são consideravelmente melhores que as do período anterior. Já a TOV% foi ainda pior, se tornando a número 27 da liga.

Uma virtude ofensiva do Spurs foi o perfil de arremessos escolhido – utilizando os dados de 4 de janeiro para a frente, San Antonio teve a terceira maior eFG% esperada da NBA (basicamente, qual seria a expectativa de eficiência ofensiva se a equipe chutasse um aproveitamento médio de cada local da quadra). Isso é um sinal de que o alvinegro está gerando arremesso nos locais mais valiosos: nesse período, fomos o segundo time que mais gerou arremessos no aro (a região mais valiosa da quadra – 36% dos arremessos tentados foram nessa área), e o segundo que menos arremessou de meia distância (a região menos valiosa). Especialmente na meia distância longa, apenas 6,4% dos arremessos foram dados dessa distância.

A eficiência porém, foi muito ruim – ainda que o Spurs gere muitos arremessos no aro adversário, temos apenas o 21º melhor aproveitamento na região. Na bola de 3, fundamento em que o volume é mediano, o aproveitamento está entre os 5 piores da liga. Os arremessos gerados em geral não são ruins – mas os jogadores não conseguem convertê-los.

Um outro ponto relevante é a capacidade do time em jogar na transição – cerca de 21,1% dos arremessos dados pela equipe são nessa situação (onde o ataque tende a ser mais eficiente). Isso é crucial, especialmente quando os jogadores não são capazes de converter arremessos complicados. Ainda que a eficiência na transição do time seja apenas a 19ª da liga, essas jogadas adicionam muito valor (ORTG do Spurs nelas é de 126,1, contra 95,1 na meia quadra).

Em termos de jogadas executadas, SAS é um dos times que mais finaliza pick and rolls com o roll/pop man, o 7º que mais arremessa de spot ups e que mais usa handoff e o sexto que mais usa cortes para a cesta. Por outro lado, trata-se do time que menos usa de isolação em toda a liga, e de um dos que menos usa ações offscreen (o que faz sentido, considerando a falta de arremessadores competentes).

Além disso, é um dos times que mais utiliza do cotovelo do garrafão como hub para passes, o sétimo time que mais passa a bola e o time que percorre a maior distância ofensivamente na NBA (em geral, um indício de muita movimentação sem bola). Por outro lado, é um dos times que menos tenta jump shots saindo do drible e o com o maior percentual de arremessos assistidos.

Todos esses números nos passam um perfil de uma equipe composta por jogadores incapazes de criar arremessos, que precisam de jogadas coletivas para gerar situações de vantagem – e o time até é decente fazendo isso. Entretanto, mesmo assim, os atletas são incapazes de converter esses arremessos criados.

A defesa

Defensivamente, a temporada do Spurs é uma história de evolução. A cada segmento da temporada, a defesa de San Antonio foi melhorando mais e mais. Se no começo do ano ela era ainda pior do que a terrível de 2022/2023, ela terminou com marcas excelentes, de um time defensivo realmente acima da média da NBA. Por mais que exista uma série de motivos que justifiquem essa evolução, o principal sem dúvida alguma é a mudança de posição de Victor Wembanyama para pivô – e o aumento de sua minutagem ampliou a escala dessa impacto.

Se pegarmos os números após essa mudança (08/12), o Spurs foi a 15ª melhor defesa da liga (exatamente o time mediano), tendo cedido o 17º menor EFG% para adversários, a 18ª taxa de rebotes ofensivos e a terceira menor taxa de lances livres – o time é excelente em não fazer faltas! Entretanto, a taxa de turnovers criada foi só a 25ª da liga.

A partir desse período, há também uma dificuldade de evitar que os adversários cheguem no aro – o Spurs cede a 6ª pior taxa de finalizações no aro na liga. Isso até é justificável nos minutos com Wemby, um protetor de aro espetacular, em quadra (no geral, o Spurs cede o 9º menor aproveitamento perto da cesta). Mas nos demais minutos, é suicídio. A ideia defensiva de San Antonio é não ceder bolas de 3 – e realmente, é um dos times que menos permite tentativas de 3 pontos dos adversários. Mas essa matemática não tem fechado muito bem – especialmente porque os adversários têm o sexto maior % de acerto de bolas de 3 fora da zona morta contra o time do Texas. Claro que parte disso é incompetência defensiva, mas, em geral, aproveitamento de 3 dos adversários está muito ligado à sorte.

Outro ponto interessante é a capacidade defensiva na transição – o Spurs tem a 11ª melhor eficiência defensiva quando os adversários estão em ataque de quadra inteira.

Em termos de defesa em lances específicos, o Spurs é um dos times que menos enfrenta jogadas de isolação (indicador de que é um time que evita muito trocar a marcação) e um dos que mais permite que adversários finalizem no pick and roll, seja com o ball handler ou o roll man (cedendo um aproveitamento bastante alto), além de ser terrível contra handoffs (isso pode indicar uma dificuldade dos jogadores de perímetro da equipe em navegar por corta-luzes). A equipe também é terrível enfrentando spot ups (algo que envolve sim o azar com jump shots, mas indica também falhas na rotação defensiva).

No geral, existe um certo azar defensivo da equipe, e, nos minutos de Wembanyama, o time tem jogado muito bem nesse lado da quadra (o esquema funciona nesses minutos). O problema principal é a falta de pessoal defensivo na segunda unidade, bem como alguns pontos fracos na defesa de perímetro no time titular.

O elenco

Nesta série, vamos destrinchar o elenco do Spurs, falando sobre cada jogador com minutos relevantes na temporada. Vamos, é claro, ser mais detalhistas na análise de Victor Wembanyama, por ser o jogador mais importante, e falar mais de nomes como Devin Vassell e Jeremy Sochan do que de Blake Wesley. 

Devonte Graham e Sandro Mamukelashvili tiveram no total uma minutagem decente, mas como quase toda ela foi no fim da temporada, em que a maioria dos jogos é um garbage time estendido, não vou falar sobre eles. 

Sem mais delongas, vamos às análises.

Victor Wembanyama

Não é preciso trazer dados ou fazer uma análise aprofundada para tirar conclusões sobre Victor Wembanyama – o francês é um talento geracional, com potencial de se tornar um dos maiores jogadores da história da liga. Já apresenta um impacto espetacular e é um astro na NBA. Qualquer um que entenda um pouco de basquete consegue ver isso. Porém, por meio de dados e uma análise mais aprofundada, conseguimos entender mais detalhes de como Wemby afeta o jogo, quais os pontos em que ele já é dominante e onde ele pode melhorar para alcançar seu teto.

Obviamente, seu maior impacto é na defesa, onde ele já é um dos melhores, se não o melhor, jogador da liga. O Spurs sofre 114,2 pontos por 100 posses com o francês em quadra (marca ligeiramente acima da eficiência defensiva média da liga), contra 119,4 em sua ausência (marca que seria a quinta pior defesa da NBA). Considerando apenas os minutos com Wemby jogando de pivô, a eficiência defensiva do Spurs é ainda melhor – 113,2 pontos cedidos por 100 posses, marca que seria uma das dez melhores da liga. Com todo esse impacto na defesa da equipe, métricas de impacto, como o EPM, o colocam altíssimo em seus rankings – o francês, por exemplo, esteve no top 10 em EPM defensivo na temporada.

Ainda que também apresente capacidade de defesa no perímetro (inclusive com a segunda maior marca de roubos de bola entre pivôs na temporada), Wembanyama tem como sua melhor característica defensiva a proteção de aro. Todos sabemos dos recordes de tocos, mas Victor, além disso, é um dos jogadores que mais contestou arremessos no aro na temporada (8,3 por jogo), cedendo aproveitamento de 53.6% para os adversários, marca absolutamente de elite (os únicos jogadores com volume semelhante de contestação que tiveram aproveitamentos cedidos melhores foram Rudy Gobert, Kristaps Porzingis e Chet Holmgren).

Em termos de jogadas defendidas, Wemby não foi um grande defensor no post ou mesmo na cobertura do pick and roll, mas suas marcas estão longe de ser ruins. Portanto, seu maior talento é de fato a rotação para contestar arremessos.

No outro lado da quadra, o desempenho do francês é menos impressionante, mas chega a ser ainda mais fascinante. Parte do que torna Wembanyama tão geracional é seu conjunto pouco usual de habilidades ofensivas – um jogador gigantesco que é capaz sim de ser uma ameaça absurda em ponte aérea e com certa habilidade no post, mas também um arremessador em desenvolvimento, um passador de bom nível e um potencial criador – com boa capacidade de driblar e infiltrar.

Em números, Wemby não foi lá muito eficiente pontuando – especialmente para um big (56,5 de TS%, uma marca levemente abaixo da média da NBA), e o Spurs não foi tão melhor assim com ele em quadra (111,2 de ORTG com Wemby x 109,8 sem – ambas marcas bem ruins). Mesmo considerando apenas seus minutos como pivô, ainda que haja uma melhora a eficiência ofensiva, continua ruim (112,7). Claro, isso diz mais sobre o elenco do Spurs que sobre Victor, mas mostra que ele não consegue sozinho elevar o ataque tal como consegue com a defesa. O EPM, que tenta isolar a responsabilidade de cada jogador no sucesso/fracasso do time, coloca Wemby como um jogador +1.0 ofensivamente, marca que indica um bom jogador nesse lado da quadra, mas não uma estrela.

Acho que essa é a melhor descrição para o jogador que Wemby é ofensivamente hoje – trata-se de um finalizador no aro de alto nível (70% de aproveitamento em volume relativamente alto – são quase seis tentativas por jogo), um roll man acima da média (mesmo considerando pick and pops conjuntamente), um bom (não ótimo) reboteiro ofensivo, uma arma letal na transição e um jogador bastante ativo cortando para a cesta.

Porém, no sistema do Spurs, Victor é a estrela do show, e ele faz muito mais que isso – algo que considero certo e importante para seu desenvolvimento. Mas ele não é tão bom (ainda) em várias dessas coisas: o novato comandou 2,5 pick and rolls por jogo (marca gigantesca pra um big), mas teve eficiência apenas no percentil 30% da liga, além de ter tido péssima eficiência no post. Além disso, foi horrível chutando de floater range e mid range, e, claro, tem um arremesso de 3 muito inconsistente.

A bola de 3 é um tópico de relevância à parte – seu volume foi alto, mas seus 32,5% de eficiência são ruins. Curiosamente, o francês chutou apenas 28% de situações de catch and shoot (teoricamente mais fácil), enquanto acertou 38% de suas tentativas do drible (em um volume considerável, de mais de duas tentativas por jogo). Em geral, contestação também não influenciou tanto no desempenho – o calouro chutou 34% livre e 32% levemente contestado (em poucas tentativas muito contestado, o aproveitamento foi de 27%). A capacidade de chutar 34% livre é já útil para um pivô como aspecto complementar de jogo. Mas no volume e dificuldade que o jovem astro mostra querer arremessar, sua habilidade tem que melhorar bastante.

Há também suas nuances enquanto passador – dar 3,9 assistências por jogo sendo um pivô é bastante coisa, mas seus 3,7 turnovers são demais. Wembanyama está muito longe de ser capaz de ser um point center ou um criador central para os companheiros atualmente.

No geral, no lado ofensivo, Wemby já é capaz de fazer muito bem todo o básico de um pivô na NBA, além de mostrar flashes de habilidades mais difíceis, especialmente em criação de arremesso (com seu bom aproveitamento em bolas de 3 do drible e especialmente com seu jogo de mano a mano, onde sua eficiência já está acima da média da liga). Porém, existe ainda muito o que se desenvolver para que ele se torne um #1 ofensivo de um time bom (algo totalmente normal para um jogador de 20 anos, e eu acredito que ele irá de fato desenvolver essas habilidades, considerando sua curva de evolução absurda).

Victor Wembanyama é um talento absolutamente geracional, e a sua simples presença torna San Antonio um dos times com futuro mais promissor da NBA. Se sozinho, em seu primeiro ano, ele já elevou a defesa do Spurs de uma unidade horrível sem ele em quadra para um time acima da média em seus minutos, imagine com sua evolução e com defensores melhores ao seu redor? Ofensivamente, ele já é uma peça extremamente útil e com flashes de dominância, apesar de apenas ter 20 anos…

No restante da série, falarei de muitos defeitos e de falta de qualidade do elenco – de verdade, não acredito que a maioria das peças seja boa o bastante. Mas lembrem-se, o Spurs já tem o principal – um franchise player muito jovem que é já é uma estrela da liga, tendo potencial para ser ainda muito mais. O restante dá para corrigir.

* O Bandeja de 3 é um grupo de produtores de conteúdo sobre basquete. Conheça no Twitter e no Instagram.

Parte 2 – O Elenco

Parte 3 – O Futuro

Cultura Pop #27 – Salário em dia, porrada em falta

Está no ar o 27º episódio do podcast Cultura Pop, feito por blogueiros do Spurs Brasil. Nele, Bruno Pongas, Lucas Pastore e Renan Belini falam semanalmente sobre assuntos relativos ao San Antonio Spurs. Desta vez, o tema é a saída de LaMarcus Aldridge via buyout.

Arte do Cultura Pop sobre foto de Gregg Popovich

A chegada do pivô Gorgui Dieng e a última semana ruim do alvinegro, com três derrotas e apenas uma vitória, também são discutidos.

– Spurs perde Aldridge de graça (02:01)
– Gorgui Dieng chega no Alamo (14:44)
– DeRozan vai seguir o mesmo caminho de Aldridge? Spurs pode ficar no limbo? (24:53)
– A senama xexelenta do Spurs… como explicar? (33:37)
– Mais 4 jogos no AT&T Center (48:36)
– Minuto Forbes (52:25)
– Coyote Talk (53:57)

Ouça o podcast no embed inserido no começo desta nota e aproveite para seguir o Cultura Pop no Spotify e também no Twitter.

Spurs segundo os números: Os alas

Por Matheus Gonzaga, do Layups & Threes

Parte 1: Os armadores

Bryn Forbes

Bryn Forbes (Reprodução/nba.com)

Bryn Forbes (Reprodução/nba.com)

Bryn Forbes é provavelmente o segundo jogador mais odiado pela torcida do San Antonio Spurs (atrás apenas de Marco Belinelli). Seu skillset limitado e seu tenebroso desempenho defensivo fazem com que sua titularidade e até sua presença na rotação tenham sido alvos de muitas críticas. Mas será que o arremessador é tão ruim assim? Será que ele realmente inútil?

Forbes jogou 63 jogos na temporada 2019/2020, tendo sido titular em 62. Em 25 minutos por partida, o arremessador teve médias de 11,2 pontos, dois rebotes e 1,7 assistências, com aproveitamento de 42% de quadra, 39% de três pontos (número bom e em volume considerável) e 83% da linha de lance livre.

Vamos começar pelo ponto forte de Forbes, seu arremesso: em suas 131 tentativas na zona morta, ele teve 40,5% de aproveitamento, enquanto teve 38,8% em 343 tentativas acima do arco, números muito bons, ainda que não de elite. Outro fato positivo é sua capacidade de atirar vindo do drible: em suas 90 tentativas de pull up threes, o camisa #11 teve excelente aproveitamento de 40%,enquanto teve 39,5% em situações de catch and shoot (281 tentativas).

Mesmo quando marcado, Forbes tem bom aproveitamento: converteu 37,8% em arremessos contestados. Esses números indicam que, ainda que não seja um dos melhores da liga, o jogador do Spurs é um arremessador talentoso e versátil.

Mas isso é basicamente tudo de positivo a se dizer sobre ele: Forbes não é capaz de comandar pick and rolls, nem pontuar no 1×1… Talvez ele apresente certo potencial infiltrando ao atacar closeouts da defesa, já que teve um aproveitamento sólido arremessando em infiltrações e finalizando no aro, mas nada digno de nota.

Defensivamente… algumas estatísticas avançadas já nos passam uma ideia: Forbes foi considerado o oitavo pior defensor da liga segundo o Defensive Player Impact Plus-Minus do site Wins Added, além de ser o sétimo pior defensor da NBA segundo o Defense Box Plus-Minus. Mas não é necessário ir tão a fundo para ver o péssimo desempenho do jogador nesse lado da quadra: a defesa do Spurs é seis pontos por 100 posses melhor com ele fora de quadra (defensive rating de 108,6) do que com ele dentro (defensive rating de 114,8)!

É claro que isso também se deve a rotações e aos companheiros de time em cada uma das situações, mas juntando essa última informação com a péssima performance indicada pelas métricas de desempenho avançadas, há fortes indícios de que ao menos parte da responsabilidade cai sobre Forbes.

Falando sobre aspectos mais específicos da defesa, o jogador cedeu 1,23 pontos por posse em isolações, número absurdamente ruim (mas com um asterisco bem grande pelo fato de ter marcado apenas 26 posses, uma amostra pequena). O ala-armador foi ainda pior fazendo closeouts: adversários em spot up tiveram 1,23 pontos por posse contra ele (o que faz com que o atleta do Spurs seja pior que 90% da liga), algo que indica uma coisa constatada pelo teste visual: Forbes muitas vezes fica perdido na defesa e deixa jogadores adversários livres. Nas demais categorias defensivas, ele é abaixo da média da liga, mas não tão ruim (não que isso signifique muita coisa).

Forbes não é um jogador inútil: trata-se de um arremessador muito bom e que é capaz de converter bolas de 3 em diversas circunstâncias. Por outro lado, o jogador tem extrema dificuldade na defesa, sendo um dos piores nesse lado da quadra de toda a NBA, algo que reflete diretamente no desempenho defensivo da equipe. A questão sobre ele é quanto o problema excede o valor de sua produção ofensiva (que é boa). Talvez em uma equipe defensiva mais forte, o ala-armador pudesse ser escondido e não comprometesse tanto. Mas, no Spurs atual, trata-se de um jogador com impacto ruim.

Lonnie Walker IV

Lonnie Walker (Reprodução/nba.com)

Lonnie Walker provavelmente é o jogador do Spurs com maior teto, e talvez um dos com menor piso. Em alguns momentos, ele pareceu uma estrela em desenvolvimento, principalmente na virada que ele liderou sobre o Houston Rockets. Em outros, chegou a lembrar jogadores como Iman Shumpert. Vamos investigar no que o ala-armador se saiu bem e no que ele precisa melhorar.

Começando pelo básico: Walker jogou 61 jogos na temporada (12 como titular, oito deles na bolha em Orlando), tendo tido média de 16 minutos por partida, 6,4 pontos, 2,3 rebotes e 1,1 assistências, com aproveitamentos de 43% de quadra e 40% do perímetro (em apenas 1,7 tentativas por partida). 

Uma primeira questão do jovem ala-armador do Spurs é sua agressividade excessiva em finalizações. Seu atleticismo é incrível, e ele tem muito potencial no quesito, mas atualmente isso faz com que ele tente jogadas muito difíceis e não consiga convertê-las bem. Nos seus 99 arremessos em infiltrações na temporada, Walter teve um tenebroso aproveitamento de 38,4%, pior número do Spurs e décimo primeiro pior de toda a liga entre jogadores com volume significativo. Por outro lado, o camisa #1 ao menos não é propício a desperdiçar a bola ao infiltrar e está um pouco acima da média encontrando companheiros nessa jogada.

Essa dificuldade em finalizar se reflete diretamente em seus aproveitamentos de arremesso: Walter teve aproveitamento de apenas 56,5% no aro e apenas de 27% (!) na parte mais distante do garrafão (mas em cerca de apenas uma tentativa por partida). Esses números ruins em finalizações também fazem com que o jovem tenha desempenho muito ruim operando o pick and roll: em cerca de uma posse por partida, o jovem só conseguiu 0,58 pontos, número péssimo (e ocorre um fenômeno parecido também na transição).

Enquanto arremessador. Walker demonstra muito potencial: seu volume é muito baixo para tirarmos conclusões definitivas, mas o aproveitamento de 40% é extremamente promissor, ainda mais considerando que 70% das tentativas vêm fora da zona morta, e nessas ele têm 44,3% de acerto. Por outro lado, ele deixou a desejar em tentativas no corner (34,5%, mas foram apenas 29 tentativas). A maior parte dos chutes do jovem veio de catch and shoot, e não temos amostra o suficiente para falar de seu potencial em pull ups (foram 14 tentativas, e ele teve aproveitamento digno de 36%), mas no geral ele se projeta como um bom atirador (inclusive tendo bom aproveitamento arremessando de handoffs), ainda que no momento não saiba criar seu arremesso.

No lado defensivo, Walker tem potencial. Cedeu 0,86 pontos por isolação marcada (melhor que 58% da NBA), mas não é exatamente um jogador polido e tem dificuldades em algumas leituras – foi pior que 70% da liga marcando pick and rolls e fazendo closeouts. O ala-armador brilhou em alguns matchups defensivos, especialmente contra Harden (isso já está se tornando comum de falar quando o assunto é jovens do Spurs), cedendo aproveitamento de menos de 0,8 pontos por posse para o Barba, o que novamente destaca sua incrível capacidade de defesa mano a mano.

Walker é um prospecto no sentido mais puro da palavra: há potencial ali, mas ainda trata-se de um talento bruto e que precisa de muito polimento (algo que é bem normal, considerando que a última temporada foi a primeira em que ele fez de fato parte da rotação), especialmente na seleção de arremessos ao finalizar no aro e em algumas leituras defensivas. Entretanto, ele demonstra já ser um passador digno, um ótimo defensor de mano a mano e um bom arremessador (que pode se tornar mais perigoso ainda caso desenvolva um jogo de pull up). Ainda é muito cedo para saber se o ala-armador pode ser uma estrela ou se seu teto é um 3 and D que consegue às vezes atacar a cesta, mas de qualquer modo ele se projeta como um jogador muito útil para o Spurs nos próximos anos.

Marco Belinelli

Marco Belinelli (Reprodução/nba.com)

Agora chegou o momento que todos esperavam: a hora de falar de Marco Belinelli, o jogador mais adorado pela torcida do Spurs. Não preciso dizer que a frase anterior está inteiramente carregada de ironia: o italiano é muito desprezado pelos fãs do time texano, e sua presença na rotação da equipe causou muitas críticas. Mas será que os números trazem algum motivo para justificar seus minutos? Será que ele agrega valor em algum lugar?

Como sempre, vamos começar pelo básico: nas 57 partidas que atuou – todas como reserva – Belinelli teve médias de 15,5 minutos, 6,3 pontos, 1,7 rebotes, 1,2 assistências e apenas 0,3 turnovers. Seus aproveitamentos foram de 39% de quadra e 37% da linha de três pontos (de onde se deram mais de metade de suas tentativas).

Belinelli é um arremessador: esse é seu papel e o motivo de ele estar na NBA. Por mais que para jogadores que também tenham outros papéis o aproveitamento de 37% seja bom, para um especialista como ele esse número deixa a desejar. Esse aproveitamento é uma junção de dois números bem diferentes: Belinelli teve 44% de aproveitamento dos cantos da quadra e de apenas 35% above the break, de onde se deu a maior parte de suas tentativas. Além disso, a maior parte delas foram catch and shoots. Basicamente, nessa temporada, ele se tornou um arremessador de zona morta, que não cria muitos arremessos do drible (tem sucesso mediano quando cria), um papel que executa bem, mas que é pequeno.

Um ponto que me irrita muito no jogo dele é a insistência em pull ups de meia distância – o ala tentou 76 arremessos do tipo na temporada e teve aproveitamento tenebroso de 33%, que não seria bom nem se essas bolas valessem três pontos e é muito pior quando valem dois. 

Mas existe um ponto bem positivo no jogo do italiano: ele não desperdiça a bola e sabe fazer boas leituras passando, tendo uma razão de aproximadamente quatro assistências para cada desperdício de bola. Não se trata de um playmaker, mas é um jogador que sabe manter a movimentação da bola e não cometer erros graves, algo que explica (mas não justifica na minha opinião) o motivo de ele ser usado por Gregg Popovich.

Na defesa, ele foi bem ok: o Spurs teve uma defesa três pontos por posse melhor com ele em quadra do que com ele fora, algo que pode não ter tanto a ver com ele, mas indica que ele não é tão ruim. De qualquer modo, Belinelli foi um marcador razoável de mano a mano e fazendo closeouts – nada demais, mas nada horrível. Entretanto, ele foi muito mal marcando pick and rolls (percentil 17% da NBA). Como um todo, parece um defensor bem mediano (o que, sendo sincero, é bem melhor do que eu imaginava).

Belinelli é um jogador extremamente limitado e um arremessador bom, mas mais limitado à zona morta, e que tem problemas de seleção de chutes e é mediano no outro lado da quadra. Não é tão ruim quanto parece – especialmente por saber cuidar bem da bola, mas não acho que deveria estar na rotação de uma equipe em reconstrução, especialmente quando isso tira minutos de jogadores mais jovens – e possivelmente até melhores hoje – como Lonnie Walker e Keldon Johnson.

Keldon Johnson

Keldon Johnson (Reprodução/nba.com)

É complicado avaliar a temporada de Keldon Johnson: o calouro passou quase toda a temporada na G-League, como normalmente ocorre com os novatos do Spurs, e apenas participou de 17 partidas na NBA. Desse modo, é extremamente difícil falar sobre sua performance, e tudo que for dito no texto deve ser lido com um asterisco devido à amostragem pequena.

Na última temporada, as médias do calouro foram de 9,1 pontos, 3,4 rebotes, 0,9 assistências e 0,8 roubos de bola em 18 minutos por partida. Johnson teve ótimos aproveitamentos de quadra (59,6%) e de três pontos (59,1%), que absolutamente não são sustentáveis, mas podem ser um bom indício.

Sua capacidade de finalização é incrível: ele teve 70% de acertos no aro em 40 tentativas. Outro aspecto positivo do jogo do jovem foi sua capacidade de cavar faltas infiltrando – ele sofreu faltas em 18% das vezes que bateu para a cesta, número que seria o melhor da NBA caso ele tivesse uma amostragem significativa. Além disso, foi capaz de acertar 50% dos tiros de quadra nessa jogada, um número que não é notório, mas já é acima da média da liga.

Quanto ao arremesso de três pontos – onde Johnson teve números inacreditáveis – seus splits foram ótimos tanto na zona morta (de onde se deu a maioria das tentativas) quando fora dela. Do drible, só tentou dois chutes, então é impossível tirarmos qualquer coisa disso.

Falando sobre jogadas específicas, o novato converteu arremessos em seis dos dez pick and rolls que operou e também foi muito bem cortando para a cesta e na transição (nas tabelas das demais jogadas disponibilizadas pela Synergy Stats, ele sequer apareceu).

Defensivamente, Johnson se mostrou excelente fazendo closeouts (melhor que 77% da liga) – e abaixo da média marcando o pick and roll (mas novamente, amostras muito pequenas). O sinal mais promissor da capacidade do ala, entretanto, vem dos dados de on-court/off-court: o defensive rating o Spurs com o novato em quadra foi de 103,2, número de elite e nove pontos por 100 posses melhor que a média do time na temporada. É claro que esse valor não deve ser sustentável, mas é um bom indício.

A amostragem de partidas de Johnson é muito pequena, mas o fato de quase todos os sinais serem positivos é extremamente promissor. Ainda que seus números sejam insustentáveis, eles são sinais de um ótimo arremessador de catch & shoot, capaz de infiltrar e ótimo defensor off-ball. Não existem certezas sobre o novato, mas ele aparenta ter bastante potencial.

DeMar DeRozan

DeMar DeRozan (Reprodução/nba.com)

DeMar DeRozan é possivelmente o jogador mais difícil de avaliar da NBA: ele tem forças e fraquezas extremamente bem definidas e que compõem um perfil de jogo muito peculiar. Curiosamente, essas forças e fraquezas não exatamente as imaginadas pela maioria do público.

Vamos então aos números básicos do franchise player do Spurs: em 68 partidas, teve médias de 34,1 minutos, 22,6 pontos (líder do time), 5,6 assistências (líder do time), 5,5 rebotes (quinto do time), 2,4 turnovers (líder do time) e um roubo de bola. Além disso, teve aproveitamento de quadra de 53%, maior marca da carreira e número altíssimo para um jogador de sua posição. Juntando isso com sua capacidade razoável de cavar faltas e boa de converter lances livres, ele obtém uma TS% de 60,3% (número que está entre os 20% melhores da liga, o que é ainda mais impressionante considerando que ele não arremessa bolas de três pontos).

Mas como o camisa #10 consegue esses números tentando arremessos tão pouco eficientes? Seu jogo de meia distância é tão bom assim?

A resposta é não. Não me entenda mal: DeRozan é um arremessador muito acima da média em eficiência de mid-range, o que é bem impressionante considerando seu altíssimo volume (foi o terceiro jogador que mais tentou esses arremessos na liga inteira). Mesmo assim, o aproveitamento dele é de 45,9%, excelente para bolas dessa região, mas que não é um número bom para ações ofensivas em geral (0,92 pontos por posse não é horrível e nem torna a jogada inutilizável, mas definitivamente não é o suficiente para ser um foco ofensivo). Como o astro consegue pontuar tanto de forma tão eficiente sendo que não é excelente em uma das jogadas que mais tenta?

A resposta está no garrafão. O aspecto mais subestimado em relação ao jogador do Spurs é sua capacidade de finalizar no aro: DeRozan teve 70% de aproveitamento (entre os 20% melhores de toda a liga) próximo à cesta em volume bem considerável. Esse número, junto de seu desempenho digno em floaters, faz com que ele seja um dos melhores da NBA em infiltrações. Ninguém infiltrou nem converteu mais arremessos infiltrando que o camisa #10, e o mais impressionante: ele fez isso com o absurdo aproveitamento de 56,7%. Apenas o MVP Giannis Antetokounmpo teve aproveitamento de arremessos melhor nessa jogada. Por outro lado, o ala-armador não se destaca em conseguir lances livres nessa situação, sendo apenas próximo à média da liga. 

Além de ser eficiente arremessando, o franchise player do Spurs também sabe cuidar da bola, desperdiçando ela apenas em cerca de 5% das vezes que bate para dentro, número melhor que o de mais de 80% da liga.

A já mostrada habilidade de DeRozan em infiltrações possibilita diversos passes para seus companheiros de equipe, e o atleta do Spurs sabe acioná-los bem, ainda que não em nível de elite. Ele foi o sétimo jogador que mais assistiu aos jogadores de seu time a partir de infiltrações, mas isso se deve mais a seu volume de tentativas: seu percentual de assistências na jogada é mediano, algo que indica que ele é um passador capaz, mas apenas isso.

Esses números em infiltrações fazem com que o ala tenha uma capacidade incrível de pontuar em isolações (ainda que em volume baixo): em cerca de duas tentativas por jogo, o veterano conseguiu 1,13 pontos por posse (mesmo só tentando arremessos de dois pontos e cavando faltas). Esse número é O MAIOR DE TODA A NBA entre jogadores com no mínimo 100 tentativas. Nem James Harden é mais eficiente (ele tem 1,12 pontos por posse). Vale ressaltar de novo que o volume de tentativas do jogador do Spurs é baixo, mas ainda assim é um número muito impressionante.

DeRozan também é um jogador de elite operando pick and rolls. Seus 1,05 pontos por posse são a sétima maior marca da liga inteira (mínimo 100 posses), e nesse caso seu volume é bem alto.

É inegável que se trata de alguém extremamente talentoso, mas é válido levantar o questionamento de quanto ele realmente melhora a performance ofensiva de um time. Quando não tem a bola nas mãos, DeRozan, por não saber arremessar de três pontos, pode acabar comprometendo o espaçamento da equipe e travando as jogadas. De qualquer modo, isso não pareceu prejudicar o Spurs em quadra na temporada passada. O ataque do time com ele em quadra teve rating de 111,8, enquanto sem ele caiu para 108, uma diferença bem significativa (a título de comparação, 111,8 é o offensive rating do Utah Jazz, nono melhor ataque da liga, enquanto 108 é bem próximo do do Orlando Magic, o vigésimo terceiro).

Isso pode levar o leitor a perguntar. Se DeRozan é tão bom ofensivamente assim, como o Spurs não vai longe com ele?

A questão é a defesa. Se por um lado o astro é extremamente subestimado ofensivamente, sendo um dos melhores criadores de arremessos e finalizadores da liga, muito pouco é falado sobre quão ruim ele é defensivamente.

Eu já falei sobre quão melhor o desempenho ofensivo do Spurs é com ele em quadra, mas na média, a equipe tem saldo de pontos melhor sem ele. Isso ocorre porque a equipe texana tem defensive rating melhor em cinco pontos sem ele em quadra: Considerando apenas os minutos com ele, o time teria a vigésima sétima defesa da liga (pior que a do Golden State Warriors, por exemplo), enquanto considerando apenas os minutos sem o mesmo, a defesa do time subiria para o quinto lugar, bem próximo ao nível do Boston Celtics.

É claro que esse último número provavelmente não seria sustentável em uma amostragem maior e que as falhas defensivas de sua equipe com ele em quadra não são exclusivamente sua culpa (dividir muitos minutos com Bryn Forbes certamente não ajuda no defensive rating do time com ele em quadra), mas esses números mostram uma tendência forte de que DeRozan é um defensor ruim.

Se você não está convencido ainda, aqui vão outros números: o astro cedeu 1,16 pontos por posse marcando em um contra um, marca pior que a de 85% da liga (foram apenas 37 posses, mas é um indício bem preocupante), além de ceder 1,05 pontos por posse marcando ball handlers em pick and roll (pior que 90%) e 1,18 em spot ups de adversários (pior que 85%). Por outro lado, ele se saiu curiosamente bem marcando handoffs e perseguindo adversários entre corta-luzes.

É muito esquisito avaliar DeRozan. Ele é ofensivamente uma estrela, talvez até uma superestrela. Suas capacidades de finalizar, de infiltrar e de criar arremessos (seja no um contra um ou no pick and roll) são de elite e batem de frente com qualquer jogador da liga. Por outro lado, trata-se de um péssimo defensor on-ball (um dos piores da liga) e horrível em closeouts (só ver os números de spot up dos adversários), algo que diminui muito o seu valor. Isso pode ser parcialmente culpa do esquema e dos jogadores a sua volta, mas com certeza ele tem uma boa parcela de responsabilidade. Se o Spurs quiser manter seu franchise player e subir de nível, essa questão defensiva precisa ser resolvida urgentemente.