Review da temporada 2023/2024 – Elenco

Por Matheus Gonzaga, do Bandeja de 3*

Devin Vassell

Devin Vassell definitivamente não é o problema do Spurs. Mas ele provavelmente também não é a solução. O ala se mostrou um jogador de nível titular na NBA, alguém que sem dúvida alguma pode ser parte relevante de times bons. Mas quão grande pode ser seu papel nesses times? E o quanto ele pode de fato ajudar um time a se tornar bom?

Vassell teve médias significativas – 19,5 pontos por jogo é bastante coisa (mesmo na NBA com explosão na pontuação), além de sólidas 4,1 assistências com menos de dois turnovers para um jogador que não é um lead guard. Até mesmo sua eficiência foi ok – o ala teve TS% na média da liga, o que é positivo para alguém que tenta arremessos consideravelmente difíceis (volume relativamente alto de arremessos do drible).

Falando mais dele como pontuador, Vassell em anos anteriores teve bastante dificuldades finalizando no aro (em 2022/2023, por exemplo, chutou apenas 61,5% perto da cesta). Porém, nesse ano se tornou muito mais eficiente nessa área, tendo tido aproveitamento de 71,4%, marca EXCEPCIONAL para um jogador de perímetro. Entretanto, seu volume ainda é baixo: são menos de três tentativas por jogo, o que é inclusive a maior deficiência no jogo ofensivo do ala.

Para um jogador ser um criador de nível realmente algo (alguém capaz de atuar com a bola na mão e que pontue com volume e eficiência altos), chegar com volume perto da cesta é um requisito obrigatório – exceto o caso de jump shooters de um patamar histórico, como Kevin Durant. Para ter essa capacidade de chegar ao aro como um ball handler, em geral, existem duas formas – atleticismo de elite e ball handling excelente. Devin não tem nenhum dos dois.

É notório que Vassell depende muito de jump shots criados para si para pontuar com a bola. Ele tem 2,4 tentativas na floater range (onde seu aproveitamento é de elite, 52,8% – outro ponto em que evoluiu muito), 3,6 na mid range (o que é uma das vinte maiores marcas da liga, e ele tem um aproveitamento de 41,6% – péssimo), e 2,4 arremessos de 3 do drible (acertando medíocres 33,2%).

Ainda que ele seja um bom finalizador perto da cesta, ele não tem volume muito grande lá e não é um jump shooter do drible bom o bastante para compensar isso. Porém, é mais uma questão para que ele seja capaz de ser um criador de nível All Star, é claro. Suas habilidades hoje são boas o bastante para que ele seja um bom criador secundário (ou terciário, idealmente). Vassell é um jogador de eficiência percentil 70% em pick and rolls e 60% em isolation – marcas que são boas, mas não o suficiente para uma força ofensiva central.

Outra questão (e bastante ligada a sua incapacidade de chegar no aro) é sua dificuldade em cavar faltas – bater apenas três lances livres é muito pouco para um jogador que arremessa mais de 15 vezes por jogo, o que prejudica bastante sua eficiência.

De fato, Devin se sai bem melhor como peça complementar no ataque – o ala é um jogador de percentil 86% finalizando na transição e chuta quase 40% de 3 do catch and shoot em volume não altíssimo, mas que também não é pouco. Além disso, o #24 chuta 37% de 3 com alguma contestação e 34,6% quando bem contestado – marcas bem altas e que mostram um jogador que é pouco sensível à marcação quando arremessa, uma característica bastante valiosa.

Os números de impacto concordam que Vassell é um jogador positivo, o que nesse time é bastante coisa – além de Devin e Wemby, só existe mais um jogador no Spurs que é considerado acima da média (Tre Jones – mais sobre ele em breve). Ele é colocado como um jogador percentil 84% no ataque (não uma estrela, mas um bom titular), e percentil 72% na defesa.

A defesa é um tópico polêmico sobre Vassell – o ala era considerado um excelente prospecto defensivo ao chegar na NBA, mas não alcançou ainda esse nível. Entretanto, ele é de fato um jogador positivo – não só no sentido de métricas de impacto, mas também ao vermos seus números de defesa de isolation e pick and roll (onde está acima do percentil 80%). Curiosamente, em defesa off ball (marcando spot ups, por exemplo) seus números são bem ruins, mas existe uma variância e aleatoriedade muito grande ao avaliar esses dados, de modo que é difícil usá-los para chegar em alguma conclusão.

Em geral, o Spurs não joga melhor nos minutos exclusivamente com Vassell em quadra. O Net Rating com e sem o ala é muito semelhante. Mas quando observamos a diferença nos minutos com Wemby e Vassell em quadra versus com Wemby e sem Vassell, há um padrão muito interessante: Nos minutos do francês sem o SG, o Spurs perde cada 100 posses de bola por quase 10 pontos. Quando Victor está em quadra ao lado de Vassell, o Spurs vence por 2 a cada 100 posses.

Isso apoia a teoria de que Devin não é alguém que torna um time bom por si só, mas é sem dúvidas alguém que, com criação secundária, bom arremesso de 3 e defesa acima da média, é capaz de elevar um time que já possua um jogador ofensivo principal. Caso Wemby se torne de fato tudo que tem mostrado potencial para ser, o #24 tem tudo para ajudar muito San Antonio nos próximos anos.

Jeremy Sochan

Jeremy Sochan tem potencial de ser um jogador relevante, isso é inegável. Não é fácil achar jogadores com real tamanho de forward, excelente atleticismo, versatilidade para marcar múltiplas posições, bom passe e capacidade de driblar. Ele é muito jovem e teve bons flashes. Dito isso, hoje ele ainda não é um bom jogador. E ele definitivamente NÃO É UM ARMADOR.

Não vou me estender muito sobre o experimento point Sochan, simplesmente porque eu detestei a ideia desde o começo e nunca enxerguei essa capacidade no FORWARD. Mesmo em 2022/2023, sua razão de assists para turnovers não foi lá grandes coisas, assim como seu volume passando a bola, e ele foi extremamente ineficiente conduzindo pick and rolls – para mim, nada sobre ele indicava potencial on ball. Existe uma diferença gigantesca entre ser um bom passador para um forward e ser um passador bom o bastante para ser um condutor de bola central (e isso sem falar nas outras habilidades necessárias para ser um bom armador). Nos minutos com Sochan em quadra e sem Tre Jones ou Blake Wesley, o Spurs teve ORTG de 103, uma marca que é TENEBROSA e muito abaixo mesmo dos piores ataques da NBA nos últimos anos.

É claro que esse experimento prejudicou seu desenvolvimento em outras facetas e fez com que seu jogo não tivesse sido otimizado no começo dessa temporada, algo que sem dúvidas afetou seus números. Vamos analisá-los.

A defesa é onde o polonês mais mostrou potencial – Sochan foi um defensor de isolação acima da média da liga (percentil 73%). Ainda que seus números sejam apenas medianos marcando pick and roll ou post up, o polonês conseguiu números decentes marcando nomes como Luka Doncic (56.5% de TS% cedido em 43 arremessos para Luka, além de oito turnovers forçados), Demar DeRozan, SGA, Anthony Edwards e DeAaron Fox – todos eles tiveram desempenho abaixo do seu normal marcados por Jeremy. De fato, ele tem muito potencial como um “stopper” para estrelas adversárias, um papel defensivo muito valioso (não é o único papel relevante, ou mesmo o mais importante para uma boa defesa, ao contrário do que vejo muita gente falando – porém isso é assunto tangente que não vem ao caso).

Métricas de impacto o colocam como um defensor levemente positivo – não é um jogador de grande impacto defensivo ainda. Trata-se mais de uma peça com upside, excelentes flashes e bons fundamentos específicos do que um defensor de elite no momento. Isso é completamente normal para um jogador em sua temporada de 20 anos e não é nem um pouco preocupante. Sochan tem tudo para ser um grande defensor por muitos anos.

Já o ataque…

Bom, eu já falei bastante do suposto point Sochan, e é claro que esse período prejudica suas métricas, mas não é só isso que me preocupa. Além de ser terrível on ball (está entre os piores 20% da liga em pick and roll, isolation e post up), ele não é um bom roll man (percentil 48%), não é um bom finalizador no aro (61% é TERRÍVEL para um jogador de sua altura – Tre Jones, com menos de 1m90, é um finalizador CONSIDERAVELMENTE melhor), não é exatamente um reboteiro ofensivo de destaque, não tem capacidade na floater range (37%, péssimo), nem é um bom arremessador, seja na mid range (27% de mid range chega a ser cômico, mas o volume também é baixo), ou de 3 pontos (31% above the break e 32% na zona morta. Mesmo quando totalmente sem marcação, o polonês chuta abaixo de 33%).

Ainda que o período point Sochan com certeza afete esses números, todos esses pontos fracos também estavam presentes no seu ano de novato, o que é preocupante. O teto de Jeremy sempre foi visto como um jogador que na defesa fosse capaz de ser um stopper e de marcar as 5 posições, o que acho possível, e que ofensivamente fosse um distribuidor no short roll/conector, também sendo capaz de finalizar na cesta e arremessar de 3 em nível decente, o que acho extremamente improvável. Para esse papel do short roll enquanto passador, ele até mostra algum potencial, mas nada nos números indica uma capacidade de Sochan finalizar na cesta ou arremessar bem de 3 – sem isso, mesmo seu impacto distribuindo o jogo é comprometido.

No geral, Sochan é um dos pontuadores menos eficientes da liga (considerando volume e eficiência) e um jogador ofensivo muito negativo (EPM de -2.1, marca no percentil 36%), o que o coloca como um jogador negativo no total. Hoje ele ainda seria alguém complicado de manter em quadra em playoffs, simplesmente porque ele não ameaça a defesa adversária de forma alguma e pode ser deixado completamente livre sem muitas consequências.

Caso ele não melhore como um jogador perto do garrafão, só vejo um caminho para ele ser uma peça de nível titular em um bom time: desenvolver um arremesso no mínimo decente da zona morta (pense no PJ Tucker em seu auge em Houston, ou mesmo Bruce Bowen no Spurs). Eram jogadores extremamente limitados no ataque, que não participavam muito de fato das ações ofensivas, mas dignos o bastante arremessando para serem ao menos marcados na linha de 3 (e puniam quem os deixasse livres) e agregavam muito valor na defesa. Apesar de sua forma nada ortodoxa, Jeremy é um batedor relativamente bom de lances livres (77%), então talvez consiga desenvolver uma bola de 3 digna (da zona morta, quando parado e livre) e se torne um bom titular para quando o Spurs for de fato uma equipe competitiva.

Essas comparações e esse papel podem não ser empolgantes, mas são importantes (e bastante necessários) para bons times – e eu de fato acho realista que Sochan se torne um desses jogadores. Sonhar com um jogador realmente two way, um all star, ou mesmo um atleta nível Aaron Gordon eu acho muito improvável (mas não impossível, ele acabou de completar 21 anos).

Não acho Sochan uma peça tão chave e de upside (realista!) tão alto assim como o jogador que Devin Vassell já é, por exemplo, mas ele está longe de ser um fracasso – ao que tudo indica, pode sim ser um jogador de impacto por muitos anos, caso siga no bom caminho defensivo e ache alguma forma de ser um jogador viável ofensivamente. E DESDE QUE NÃO SEJA USADO DE ARMADOR.

Tre Jones

Tre Jones é um jogador interessante. O armador é jovem e é um dos melhores jogadores do time (em termos de impacto em quadra, provavelmente o terceiro melhor), mas ainda assim não é enxergado como uma peça central para o futuro da franquia, especialmente pelos torcedores – e existem motivos para isso. Ainda que Jones tenha seus pontos fortes, é um jogador limitado e que não aparenta ter muita margem de evolução, principalmente por causa de sua altura e da falta de um arremesso eficiente.

A falta de qualidade de arremesso é especialmente grave para um armador, pois faz com que, naturalmente, ele tenha de passar mais tempo com a bola na mão – afinal, ele pode simplesmente ser deixado livre quando está sem a bola, o que compromete o ataque para os seus companheiros de time. Dar a bola para Tre implica em não permitir que outro jogador a conduza e crie as jogadas – no elenco atual do Spurs, dada a falta de criadores, isso não é um problema, mas Jones simplesmente não é bom o bastante para ser um criador principal de um time de alto nível.

Um armador como ele acaba sendo, dessa forma, confinado ao banco de reservas, onde de fato faz sentido que seja a melhor opção de criador de jogadas de uma (boa) equipe. A titularidade de Tre acaba, então, por ser algo temporário e sem muita margem para se tornar algo viável a longo prazo, e esse fator explica a necessidade vista por analistas, torcedores e pela própria franquia de fazer um upgrade na posição de PG.

Entretanto, eu não concordo com a visão de que a titularidade de Jones é um problema hoje e que seja algo que tem que ser resolvido urgentemente com soluções imediatas. Existem pontos de carências muito mais graves e que prejudicam muito mais o time no curto prazo (mais sobre isso na sequência da série).

Tre é um bom jogador, ainda que limitado – não é coincidência o Spurs ter melhorado desde que ele assumiu a titularidade, jogando ao longo de toda a temporada muito melhor com ele em quadra (claro, seu reserva ser Blake Wesley certamente ajuda nisso). O ataque de San Antonio teve ORTG de 113,7 nos minutos com Jones em quadra (seria o número 23 da liga), contra um ORTG de 106,9 em sua ausência (seria com sobras a pior marca da liga). Esses números resumem bem Tre – não é que ele transforme o ataque do Spurs em algo de fato bom, mas tudo é muito pior quando ele não está em quadra.

Há, além disso, um outro efeito a ser considerado – a presença de Victor Wembanyama. Nos minutos com a dupla em quadra, o desempenho ofensivo de San Antonio sobre para 115,4 (marca que seria um ataque mediano na liga). Se considerarmos apenas os minutos com Tre, Vassell e Wemby juntos, o número sobe um pouco mais, para 117, marca que é bastante sólida, ainda que não espetacular. Tre Jones é parte importante das melhores unidades do time atualmente, e isso se deve a alguns fatores.

O mais notório é sua capacidade de tomar boas decisões. Sua razão de 4,12 assistências por turnover é espetacular, uma das dez maiores marcas entre armadores na liga. Seu volume de mais de seis assistências por jogo também é considerável.

Além disso, nesta temporada Jones adicionou uma outra ferramenta relevante no seu arsenal – ele se tornou um ótimo finalizador no aro, algo nada usual pro seu tamanho. Jones chutou quase 70% no aro, marca semelhante à de vários pivôs. Ainda que seu volume não seja tão alto (são só três tentativas por jogo), é um aproveitamento muito alto, e mesmo seus números finalizando contestado são ótimos para um guard. Para sua usagem, ele apresenta uma boa capacidade de chegar ao aro – são três tentativas na área restrita, contra 1,9 na floater range.

Isso torna Jones em uma ameaça até razoável com a bola nas mãos – o armador foi percentil 78% da liga em eficiência pontuando a partir de pick and rolls, ainda que em um volume não tão alto assim.

Tre, porém, não foi bem pontuando na transição, onde ficou apenas no percentil 25% de eficiência. Além, é claro, de sua maior fraqueza – o arremesso. Jones evoluiu nesse aspecto, tendo aumentado sua eficiência de 3 pontos de 28,5% para 33,5%. Porém, além de essa marca ainda ser ruim, seu volume de tentativas é muito baixo, o que faz com que o jogador não seja uma ameaça real. Os únicos pontos encorajadores quanto a seu arremesso são o digno aproveitamento de catch & shoot (36,7%) e da zona morta (37,2%) – novamente, o volume é baixo demais para que seja algo com impacto real. Caso isso se mantenha com mais tentativas, isso pode torná-lo um jogador ao menos útil quando não está com a bola.

Defensivamente, é claro que ele é um alvo em defesa individual/on-ball – simplesmente por ser baixo e não possuir grande envergadura. Entretanto, Jones apresenta suas virtudes em defesa coletiva, especialmente por sua inteligência e disposição, sendo visto como um defensor positivo por métricas avançadas. Em uma situação de playoffs, talvez fosse mais difícil dar muitos minutos para Tre, já que ele é possível de ser caçado como mismatch. Por outro lado, em um contexto de temporada regular, ele está longe de ser um problema defensivo.

No geral, Jones é um jogador sólido, que melhora o Spurs ao estar em quadra. Ele não vai ser a solução para armador titular a longo prazo, mas, como band-aid, é bastante útil e não compromete o time. Em uma situação de time cheio de pontos fracos e questões sérias, sua titularidade não me preocupa. Claro, caso boas oportunidades apareçam para melhorar a posição (seja via draft, ou trazendo um veterano já pronto na FA ou por troca), elas devem ser aproveitadas, mas não existe toda essa urgência.

Keldon Johnson

Ao falar sobre os 4 jogadores anteriores, eu fui até bastante positivo – acredito que Wemby, Vassell, Sochan e Tre, cada um em seu nível e por seus motivos, são atletas que agregam valor real para o Spurs e têm capacidades ou potencial interessante. Daqui para a frente, o tom muda um pouco. San Antonio venceu 22 jogos e perdeu 60. Não é possível um time perder tanto e ganhar tão pouco com todo mundo cumprindo bem seu papel. Existem motivos para a franquia perder quase o triplo que ganhou, e esses motivos são incapacidades de jogadores (ou questões associadas à comissão técnica). Para mim, não faz sentido ser majoritariamente elogioso ao avaliar um time que, baseado em todos os números, foi péssimo. A conta simplesmente não fecha.

Os jogadores neste texto estão ordenados por quem eu acho mais importante para o Spurs no futuro. Hoje, eu não acho mais que Keldon seja uma peça tão relevante assim.

Sim, Johnson tem talento e habilidades interessantes, mas seu conjunto de características simplesmente não é um bom fit para a NBA atual. Em seu caso, vale começar pela defesa.

Seus números defensivos são consideravelmente negativos – seja em métricas de impacto, on-off (a defesa do Spurs nos minutos com Keldon é completamente vergonhosa), ou avaliando defesa de jogadas específicas (seja em ISO, pick and roll ou handoff, seus números são abaixo da média). Não é como se ele fosse um dos piores defensores da liga, mas é claramente abaixo da média no quesito.

Ofensivamente, seu papel é obtuso – Keldon não é um jogador on ball (apesar de que seus números comandando pick and roll são até interessantes, em seu volume limitado), não é um grande passador, e seus números finalizando no aro são bem ruins – seu aproveitamento é de apenas 60% na área restrita (apesar que sua facilidade de chegar até o aro é de fato impressionante e tem seu valor por si só). Além disso, o ala não tem touch algum na floater range (42%).

Para um jogador sem capacidade de ser um grande finalizador e que não é um atleta on ball em usagem significativa, resta o papel de ser um arremessador no ataque. E ainda que não seja um jogador irrelevante nesse sentido, Johnson não é exatamente um positivo nesse campo. Seu aproveitamento de 3 pontos é de 34,6%, número abaixo da média da liga, e ele é curiosamente pior da zona morta (31,6%) que fora dela (36,1%). Além disso, ele é tenebroso arremessando do drible (28% – basicamente nunca deveria tentar pull ups), enquanto tem um aproveitamento decente de catch and shoot (36%). Se filtrarmos apenas arremessos 100% sem marcação, seu aproveitamento é de 37%.

Keldinho não é um chutador ruim ou desprezível – ele é bom o bastante para ser marcado e impedir defesas de o ignorarem, o que tem seu valor. Porém, ele está longe de ter o volume ou aproveitamento altos o bastante para realmente acrescentar muito valor com seu arremesso – ele é basicamente um chutador nota 6.

Um chutador nota 6 consegue ficar em quadra sem atrapalhar o time no ataque, mesmo que não faça mais tanta coisa bem nesse lado da quadra. Porém, para que seja de fato um jogador valioso, alguém nesse perfil precisa ser um defensor ao menos positivo – e Johnson está longe disso. Hoje ele não é um titular de um bom time na NBA (e nem tem sido em um time ruim), é um ala reserva que consegue fazer um pouco com a bola nas mãos e não atrapalhar o espaçamento, enquanto compromete o time na defesa.

Talvez seja hora de negociar Keldon – por seu volume de pontos e momentos interessantes na carreira, ele parece ter algum valor no mercado. Não acredito que ele seja peça tão importante para o futuro do Spurs – seu perfil de jogador não é tão difícil de substituir.

Por outro lado, para que ele se torne mais importante, seria necessário que evoluísse em algum aspecto – seja se tornando um defensor ao menos decente, desenvolvendo um jogo on-ball (coisa que ele já apresentou alguns flashes), ou se tornando um chutador de realmente alto nível. Aí sim, veria ele como um titular de NBA.

Julian Champagnie

Apesar de todos os problemas de Keldon Johnson que acabei de citar, eu não consigo entender a ideia de Champagnie titular. Em minha visão, Champa é um jogador genérico de NBA, extremamente barato e fácil de encontrar um substituto do mesmo nível. Mas mesmo ele apresenta seus talentos.

Primeiramente, ele é um defensor (muito pouco) positivo – métricas de impacto o colocam (bem pouco) acima da média da liga na defesa, e seus números defendendo mano a mano são bons. Entretanto, os defendendo pick and roll são bem ruins. Em geral, colocá-lo em quadra não te prejudica na defesa, o que, considerando as outras peças do elenco, já é alguma coisa.

Ofensivamente, ele é um chutador genérico, tendo tido 36,5% de aproveitamento de 3 em volume relativamente baixo (mas decente para um jogador com papel ofensivo tão pequeno como o seu). Ele basicamente só chuta parado e do catch and shoot, tendo aproveitamento similar fora e dentro da zona morta. A maioria de seus chutes é completamente livre, nos quais converte 38%. O restante é com leve contestação, nos quais acerta 32,5%. Resumidamente, ele não compromete o espaçamento, e só – seu volume e números perto da cesta ou executando outras jogadas não são nada notórios).

No geral, é um jogador cuja maior qualidade é não atrapalhar o time. Dá para mantê-lo parado nas alas ou na zona morta sem prejudicar o espaçamento, e dá para mantê-lo em quadra na defesa sem prejudicar o desempenho. Mesmo para um time ruim, colocar um jogador assim de titular é demais. Porém, manter um atleta nesse perfil na rotação com uns 15 minutos não seria algo tão problemático para um time no estágio em que estamos. Idealmente, porém, trata-se de um 11º ou 12º jogador do elenco, que pode atuar em caso de lesões ou em partidas esporádicas. Julian não tira valor, mas também não traz – e para montar um time bom na NBA, isso não é o bastante.

Zach Collins

A temporada 2022/2023 de Zach Collins foi muito promissora, com o pivô mostrando capacidades interessantes – um arremesso de 3 bem eficiente para um big (37%, ainda que em volume bem baixo – 2,3 tentativas por partida), uma capacidade defensiva positiva e um excelente touch na floater range. Claro, não se projetava nenhuma ascensão ao estrelato, mas Collins parecia um big titular de nível razoável, recebendo uma extensão contratual em valor compatível com isso (34M/2 anos) – ainda que San Antonio tenha draftado Victor Wembanyama para ser o principal jogador do time.

A ideia era que Collins e Wemby fossem capazes de co-habitar a quadra, visto que ambos em teoria tem um arremesso razoável, que Victor é capaz de marcar perímetro e que o francês ainda não teria porte físico para ser um pivô principal.

Mas tudo deu errado.

Collins foi, em 2023/2024, um arremessador ruim (32% de 3 em volume semelhante ao da temporada anterior), e seu aproveitamento na floater range caiu de 52% para 46% (não é um número em si ruim, mas a queda é bem significativa), além de nunca ter sido um grande finalizador perto da cesta. Em termos de papel ofensivo, isso limita suas utilizações – sua falta de aproveitamento de 3 pontos dificulta que ele fique no perímetro, e sua incapacidade de finalização dificulta que seja usado no pick and roll. Desse modo, Zach tentou uma das 20 maiores taxas de post up da liga (ponderando por minutos jogados), mas sua eficiência não foi chamativa.

Defensivamente, a situação é ainda pior – Collins foi um ponto fraco gritante para o Spurs, estando no percentil 30% de defesa em EPM (consideravelmente negativo), sendo um péssimo defensor de pick and roll (percentil 16%!!!!) e sendo ruim protegendo o aro (63% de FG cedido para adversários no aro, marca bem abaixo da média).

Mas pior que isso tudo no vácuo é a consequente total incapacidade de jogar junto de Wembanyama. O Spurs jogando com o francês mas sem Zach teve net rating médio de -1, enquanto com os dois juntos a marca foi de -11,3. Nos dois lados da quadra, San Antonio cai muito quando Wembanyama está junto do americano, mas o impacto no ataque é especialmente notório. O ORTG do Spurs cai de 112,5 para 105 – este segundo número é completamente impraticável para um time da NBA em 2024. 100% inviável.

A decisão de tirar todos os minutos juntos da dupla foi completamente acertada. Não só pelas falhas de Collins, mas também porque ele dificulta que as forças de Wemby se manifestem – nos dois lados da quadra, o ideal é que o francês fique perto da cesta a maior quantidade de tempo possível, e Zach rouba esse espaço. Mas não é como se o americano tivesse tido também muito sucesso como big reserva – o net rating do time texano nesses minutos foi de terríveis -13 pontos por 100 posses.

Collins seria impossível de manter em quadra em uma série de playoffs, e hoje, mesmo na temporada regular, é um jogador negativo. Sua extensão de contrato se mostrou um erro considerável – não faz o menor sentido pagar 17M por ano por um jogador que é exclusivamente reserva do seu franchise player (entendo que a ideia no momento da assinatura era que os dois fossem jogar juntos, mas vendo em retrospecto, a decisão foi terrível). Infelizmente, imagino que o pivô não tenha valor no mercado de trocas, e não acho que ainda faça sentido trocá-lo por valor negativo. Resta torcer para que ele se recupere e mostre ser capaz de ao menos ser um reserva decente na próxima temporada, e aí tentar trocá-lo na offseason de 2025.

Cedi Osman

Cedi Osman é um jogador profissional de basquete. Isso é algo para esse time do Spurs com tantos atletas crus e projetos de qualidade duvidosa. Entretanto, ele não é um jogador de impacto para a NBA.

Osman é um chutador preciso em volume limitado (3,1 tentativas por jogo) e um passador decente para um ala – isso já faz com ele que ao menos acrescente algum valor, mas não é tanto valor assim se formos olhar a fundo.

Seu chute é extremamente preciso da zona morta (46%), mas o turco chuta apenas 35% fora dela, e a maioria absoluta de suas tentativas é parado e totalmente livre (nessa última modalidade, acerta 41%). Ainda que seus números sejam o suficiente para que ele traga espaçamento adequado, isso não traz tanto impacto assim (por conta do baixo volume).

Claro, um chutador confiável da zona morta tem seu valor na NBA, mas Cedi tem um problema sério – a defesa. Osman foi um defensor terrível em 2023/2024, estando no percentil 15% da liga em EPM defensivo, com o Spurs cedendo 121 de DRTG quando o ala está em quadra. E mesmo se filtrarmos minutos com Wemby em quadra (ou seja, não são os minutos que o turco joga com a tenebrosa segunda unidade de San Antonio), a defesa piora muito quando ele entra.

Isso inviabiliza que ele tenha um bom impacto em quadra e faz com que o ideal seja que o atleta tenha minutos limitados. É claro que, caso renove com o Spurs, ele tem utilidade – em uma equipe tão desprovida de talento, alguém que consiga arremessar em nível competente ajuda, mas eu não acho que ele vá ser um contribuinte relevante. Idealmente ele é um décimo jogador de rotação, ou, em um real contender, uma opção mais no fundo do banco. Mas ter Cedi como uma peça jogando 15 minutos por jogo está longe de ser um grave problema.

Malaki Branham

Eu não quero escrever sobre Malaki Branham. Todo mundo que acompanha o Bandeja de 3 ou minhas opiniões sobre o Spurs sabe que eu acho ele terrível, potencialmente o pior jogador da NBA. Então vou ser um pouco mais sucinto nos números em si do guard.

Branham, em métricas de impacto, foi o pior jogador não novato (com minutos relevantes) da liga. Está no percentil 26% ofensivamente (terrível e já indica um jogador de não rotação) e 3% defensivamente (indica um jogador que não devia estar na NBA). Malaki tem 52,6% de TS%, marca péssima atualmente, e acerta só 34% das bolas de 3 pontos (não é terrível, mas para um guard é bem negativo).

Ele tem bastante dificuldade de chegar no aro (tenta basicamente o mesmo tanto de arremessos na floater range que na área restrita). Seu aproveitamento na floater range e na mid range são péssimos, bem como seu aproveitamento do drible e conduzindo pick and roll. Além disso, não é um grande passador.

É díficil encontrar algo em que ele é bom e um papel para ele em qualquer time, mesmo desconsiderando a questão defensiva e falando só de ataque. Os únicos pontos positivos são seu aproveitamento decente de 3 da zona morta (38%) e quando totalmente livre (37%). Deixar ele simplesmente parado em um dos corners não atrapalha o time, mas também não ajuda de fato.

Obviamente, um jogador que não ajuda no ataque e traz gigantescos problemas defensivos tem impacto muito negativo no desempenho do time – nos minutos sem Malaki, o net rating do Spurs é -3,6 (ruim, mas respeitável – semelhante ao do Nets). Nos minutos com Branham, o número cai para -10,6 (nível Charlotte/Detroit). Claro que existem outros fatores nisso, mas Branham é parte relevante desse impacto.

Hoje, Malaki não tem nível de NBA, quanto mais de rotação – de verdade, acredito que não tenha muito upside ou projeção de melhora. Um guard horrível com a bola na mão e com questões tenebrosas na defesa não tem espaço. Só vejo ele sendo parte de um time minimamente decente se melhorar muito em alguma dessas duas coisas. Para mim, não existe a menor condição de Branham continuar na rotação ano que vem.

Blake Wesley

Não que Malaki Branham tenha sido promissor no ano de novato, mas Blake Wesley tinha sido ainda pior. Seus números chegavam a ser cômicos. Dito isso, ele evoluiu – não que fosse difícil.

Blake ainda é bem ruim, estando no percentil 18% de ataque (péssimo) e 35% de defesa (ruim, mas não terrível). O Spurs é muito pior com Wesley em quadra, e ele não apresenta nenhuma capacidade de chute de longa distância. Ele também foi consideravelmente abaixo da média conduzindo pick and rolls.

Entretanto, existem ao menos alguns sinais de upside quanto a Wesley. Além do seu ferramental físico e a demonstração de evolução (mesmo que ele continue sendo muito ruim, ele foi melhor que em 2022/2023), o guard demonstrou uma excelente facilidade de chegar até o aro (mais que O TRIPLO de tentativas perto da cesta que na floater range), e dessa vez teve um aproveitamento ao menos factível para um guard atacando o aro (59% não é bom, mas não é tenebroso como foram seus 44% em 2022/2023). Wesley é extremamente atlético e explosivo, mostrando isso em quadra. Vale destacar também que sua razão de 2,7 assists para 0,9 turnovers é surpreendentemente boa.

Não tem muito o que falar sobre Blake. Ele é um jogador ruim, sem arremesso e que atrapalha dos dois lados da quadra – mas ele ao menos tem uma facilidade muito interessante de chegar ao aro e não é um passador desprezível, o que, junto com sua idade, traz alguma esperança de que um dia ele vire um jogador decente de rotação. Eu não contaria com isso, e sem dúvida alguma traria uma outra opção de armador para o elenco para que Wesley não esteja na rotação inicial. Mas ainda acho que faz sentido mantê-lo como projeto de longo prazo, dando chances em casos de lesões ou supondo que ele se destaque em treinos.

Resumidamente: 99% bagre, mas aquele 1%…

Dominick Barlow

Dominick Barlow só está tão baixo no texto porque ele é um free agent e porque jogou pouco. Eu acho ele um jogador mais relevante que Blake, Malaki e Osman. Dom de fato é um jogador intrigante em alguns aspectos.

Para começar, o Spurs jogou bem com ele em quadra, o que não dá para dizer de nenhum outro reserva da equipe. Suas métricas de impacto o colocam como jogador percentil 44% – não empolga ninguém, mas nesse time é alguma coisa.

Além disso, teve bons números como roll man (percentil 70%) e na defesa de pick and roll. Por outro lado, seus números defendendo o aro são ruins (semelhantes aos de Collins), e sua finalização perto da cesta não é boa.

No geral, não tem nada muito especial sobre Barlow, e ele é um jogador bem comum e fácil de substituir – não seria nenhum problema caso não renovasse. Mas ao menos ele consegue ser um roll man digno e não ser um alvo grande na defesa, o que ajuda um pouco o time. Acho que vale apostar em um contrato barato, considerando que ele pode se tornar uma opção digna e de bom custo benefício para big reserva.

Outros Jogadores

  • Sandro Mamukelashvili teve alguns números interessantes, mas como praticamente só jogou durante a garbage season, não acho que queiram dizer muita coisa;

  • O mesmo pode-se dizer sobre Devonte Graham, que quase certamente será cortado na offseason e não deve estar nos planos da franquia;

  • Charles Bassey pode ser uma opção decente de big reserva, tendo mostrado algumas capacidades defensivas, mas tem dificuldades demais para ficar saudável;

  • Sidy Cissoko tem algum upside e qualidades defensivas, mas não jogou o bastante para ser de fato analisado;

  • Os jogadores Two Way mal jogaram, e quando jogaram não fizeram nada especial.

* O Bandeja de 3 é um grupo de produtores de conteúdo sobre basquete. Conheça no Twitter e no Instagram.

Parte 1 – Visão geral e Victor Wembanyama

Parte 3 – O Futuro

Sobre Equipe Spurs Brasil

Seu site de notícias sobre o San Antonio Spurs em português. Ativo desde fevereiro de 2008.

Publicado em 18/06/2024, em Análises, Artigos. Adicione o link aos favoritos. 2 Comentários.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.