Eles estão de volta

Em meados de 2004, antes que os Jogos Olímpicos começassem na Grécia, poucas pessoas imaginavam que o onipotente time dos Estados Unidos pudesse obter algo menor do que a medalha de ouro, tão comumente encontrada nos peitos dos estadunidenses. Pois bem, passados os Jogos, a decepção era evidente na cara de qualquer jogador que servira os Estados Unidos. Jogadores como LeBron James, Dwyane Wade e Carmelo Anthony sentiram, no início de suas carreiras, todo o peso de decepcionar toda uma nação. O “vexame” do bronze foi piorado com a péssima campanha no Mundial de 2006 e trouxe frutos que começaram a ser colhidos no último domingo.

Pulemos do passado tão próximo para o presente. Nos foquemos nos Jogos Olímpicos de Pequim, na China. Anunciada por muitos como a maior Olimpíada de todos os tempos. Exorbitantes montantes de dinheiro foram despejados em estádios, instalações e transportes. Mas nem um dos bilhões de dólares gastos parece ter poder de comprar o sentimento que entrou em quadra com a seleção estadunidense na partida mais esperada da rodada inaugural do Torneio Olímpico de Basquete Masculino. Amantes e não-amantes do esporte da bola laranja sabiam da magnitude do evento. Os olhos do mundo estavam lá, focados naqueles 12 jogadores que juntos carregam mais do que um uniforme: carregam a maior tradição do basquete mundial. Mais do que isso, carregam o peso de terem, por uma vez, falhado. James, Wade e Anthony cresceram e hoje são mais do que estrelas na NBA. São os símbolos da ressurreição do basquete dos Estados Unidos, sempre temido e badalado.

E a partida contra a China marcou a volta dos EUA ao cenário mundial. Os tirou da incubadora que fizeram em torno de si mesmos após passarem a vergonha (para eles, claro) de não terem sido campeões. Passaram eles quatro anos com um cobiçado bronze entalado em seus peitos. Alguns como Wade, inclusive, perderam a honraria conquistada em solo grego. Mas eles voltaram.

Não discordo de quem chamar de heresia o fato de esse time ser considerado um Dream Team. É claro que aquele time montado em 1992 não será igualado (em termos de jogo, carisma e apelo) pelo esquadrão montado para os Jogos de 2008. Mas os Estados Unidos juntaram todas as suas forças e montaram um time para vencer. Kobe Bryant, sempre criticado por ser individualista, desta vez integrará sua seleção. Seleção essa que parece lidar com uma palavra-chave: o coletivo. A briga de egos foi, se não extinta, acalmada. Os egos existem – e como existem – em um time que conta simplesmente com 12 estrelas da maior liga de basquete do mundo. Mas a regra parece ser todos por um, 12 mosqueteiros lutando pela pátria, 12 homens resgatando uma honra arranhada. E mais uma vez retomo o embate contra os anfitriões da Olimpíada, os chineses: a união na troca de passes, a cada cesta convertida, a cada enterrada cravada.

Destaques sempre haverão, mas hoje os estadunidenses jogam em pró de um só objetivo, e isso já está bastante claro para todos. Em todos os aspectos eles parecem ser imbatíveis. Seleções como Espanha e Argentina parecem caminhar com a faca na mão, a espera de dar o bote nos Estados Unidos. Mas esse hora parece estar longe de chegar e, se o espírito for mantido, o ouro e a glória voltarão a pairar sobre as cabeças dos estadunidenses.

Se o espírito for mantido, a recuperação da glória estará, a cada passe certo, mais perto de ser conquistada. E se o sonho não estará no apelido do time, a realidade promete ser melhor que a sonhada por qualquer cidadão dos Estados Unidos.

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Sobre Leonardo Sacco

É jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cravou a opção pelo jornalismo no estouro do cronômetro, quando criou o Spurs Brasil em uma madrugada de domingo para segunda. Escreve para o Yahoo! Esportes e dá seus pitacos no @leosacco.

Publicado em 12/08/2008, em Na linha dos 3. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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